sexta-feira, março 18, 2016

Que país querem os coxinhas?

Os coxinhas dizem que querem o país deles de volta.
De que país eles estão falando?
Para devolver o Brasil à condição que eles querem, é preciso:
Jogar 36 milhões de pessoas na miséria, os mesmos que nós do PT tiramos,
Fazer retroceder para as classes E e D, os 40 milhões que nós colocamos na classe
C.
Duplicar o número de desempregados;
Tirar 70% do valor real do salário mínimo,
As pessoas mais pobres devolverem os milhões de automóveis e bens duráveis que compraram de 2003 a 2016;
Destruir os dois milhões de moradias que construímos;
Acabar com as cotas para negros nas federais, o ProUni, o FIES e fechar 18 novas universidades federais;
Para devolver aquele país idílico com que sonham os coxinhas, é preciso, ainda:
Aumentar o índice de Gini, com a desigualdade social ficando maior;
Reduzir em 10 anos a expectativa de vida do povo brasileiro, que quando pegamos era de 65 anos e passou para 75;
Aumentar a mortalidade infantil, principalmente nos Estados mais pobres, onde a reduzimos drasticamente;
Proibir pobre de andar de avião, tirando os dos aeroportos e os pondo nas rodoviárias.
No país dos sonhos dos coxinhas:
O Bolsa Família deverá ser extinto, pois na cabeça deles o programa incentiva a vagabundagem e o aumento de filhos;
O dólar deve ser baixo, mesmo quebrando as indústrias nacionais, a prioridade será preservar o direito sagrado dos coxinhas irem para Disney, ou Miami, comprarem quinquilharias;
No Brasil dos coxinhas:
Teríamos de desmontar 2 mil quilômetros de ferrovias que construímos nos últimos 13 anos;
Esburacar as rodovias brasileiras como estavam em 2002, ninguém se importava com o estado delas e as mortes que causavam;
Destruir todos os milhares de quilômetros de rodovias que duplicamos, pavimentamos e readequamos;
Fazer os nossos aeroportos que foram ampliados e modernizados retrocederem para o século XX;
Que saudade do país ideal dos coxinhas, em que:
Quem mandava no Brasil eram os Estados Unidos e o FMI;
O Brasil era um anão diplomático;
Não existia os BRICS;
Presidente brasileiro vivia de joelhos e de pires na mão perante a comunidade internacional;
Ministro tirava sapatos para entrar nos Estados Unidos, suspeito de ser terrorista;
Que bom o mundo dos coxinhas!
A corrupção era de 3,8% do PIB e não 0,8% da atual e que continua sendo combatida diuturnamente;
Havia o engavetador geral para esconder a corrupção do governo;
A mídia fazia parte do esquema e escondia todas as falcatruas;
Empresas estatais eram vendidas a preço de banana, com gordas comissões para integrantes do partido do governo;
Os coxinhas querem o país deles de volta, mas que país é este que eles querem resgatar, junto com Sérgio Moro e Globo?
O país da desigualdade, da corrupção, da fome, do desemprego, da violência e da falta de perspectiva de futuro?
Um país vassalo dos Estados Unidos, que ficaria com o pré sal para tornar os irmãos Koch mais ricos?
Um país onde as taxas básicas de juros chegaria a 45% ao ano?
Para quem esse país do passado serviu?
Aos mais pobres e necessitados? Não.
Era uma plutocracia, onde a empregada doméstica não tinha nenhum direito trabalhista.
Pobre não tinha direito a frequentar uma universidade.
Quem sabe nessa onda reformista dos coxinhas eles não queiram até restaurar a escravidão?
Ou a volta da prisão, tortura e assassinato para quem não seja coxinha, como era em período recente da história brasileira?
O país sonhado pelos coxinhas é um paraíso para eles e um inferno para o povo brasileiro.
Coxinhas querem privilégios, a barbárie, a inquisição e uma ditadura conduzida por Moro, Bolsonaro e Globo.

Evaristo Jararaca

segunda-feira, março 14, 2016

Lula e a av. Paulista: repactuação ou golpe?

por: Saul Leblon

Carta Maior


De diferentes ângulos da economia e da democracia emergem avisos de saturação. É hora de renegociar o desenvolvimento. O resto é arrocho. Ou golpe.

Duas tentativas seguidas de prender Lula em um intervalo de menos de uma semana (Moro, em 04-03; Conserino, em 10-03).

Invasão de uma plenária do PT no sindicato dos metalúrgicos de Diadema nesta 6ª feira, 11/03, por destacamento da PM fortemente armado.
Ataques com pichações nas sedes da UNE e do PCdoB.

Ataques a sites progressistas, tirando-os do ar, a exemplo do que ocorreu com a página de Carta Maior e do site Vermelho.org (do PCdoB) desde a madrugada deste domingo estendendo-se ao longo de quase todo o dia.

Editoriais de órgãos de imprensa, a exemplo do Estadão, mimetizando o ‘Basta’ do Correio da Manhã, de 31 de março de 1964.

Engajamento de entidades empresariais convocando marchas pelo golpe nas grandes capitais do país neste domingo…

Manifestação monstro da classe média na Paulista, ocupada, segundo o Datafolha, por 77% de brancos c/ curso superior, sendo 37% c/ renda acima de 10 salários, incluindo-se 12% de empresários e apenas 5% de jovens com idade entre 21 e 25 anos, o que depõe contra a liderança de Kim Catupiry...

Um clima predominante de ‘ que se vayan todos’, o bordão da Argentina em 2001, transbordou do fermento golpista inoculado diuturnamente na opinião pública pela mídia e o conservadorismo e revelou a meleca produzida pela associação Moro & mídia.

A massa assim sovada voltou-se contra todos, inclusive os pseudo savonarolas que pretendiam lidera-la. Alckmin e Aécio xingados de filho da puta, ladrão etc tentaram faturar o ato e foram escorraçados da Paulista. Serra ficou nas ruas laterais e fugiu depressa...

O relógio da história apertou o passo no Brasil.


Os ponteiros apontam para um golpe, tenha isso a forma que tiver.


Moro ou Conserino, não importa o quão patético seja um e bonapartista se avoque o outro: as disputas entre facções e centuriões para saber quem arrebatará o troféu do butim – a cabeça de Lula e o mandato de Dilma-- não mudam a qualidade do enredo.

Ingressamos em um período em que os fatos caminham à frente das ideias.

De diferentes ângulos da economia e da democracia emergem avisos de saturação estrutural.
Um ciclo de desenvolvimento se esgotou; outro precisa ser construído. Quem o conduzirá: a democracia ou um regime de força?

O desgaste intrínseco a essa transição foi catalisado e propositalmente radicalizado pela ação de um conservadorismo inconsolável com a derrota de 2014 . Mas em certa medida também pelas hesitações, recuos e equívocos de subestimação do governo diante da travessia que se desenhava

O conjunto acelerou o passo da história e conduziu ao impasse em que chegamos.
Massas de interesses antagônicos transbordam agora pelos anteparos que separam a democracia de uma regressão autoritária.

A indivisa conjunção entre justiça e política nas ações da Lava Jato –com um Bonaparte incensado pela mídia-- reflete essa dissolução, reafirmada nas palavras de ordem trazidas às ruas e nas manchetes sulforosos deste domingo de março, 52 anos depois daquele de 1964.

Vive-se a antessala de uma nova ruptura, decorrente da incapacidade da democracia brasileira para inaugurar um novo ciclo de desenvolvimento.

A questão do desenvolvimento volta assim, a exemplo de 1954, a ser encarada como uma questão de polícia.

Um segmento influente da sociedade –a classe média branca da Paulista, deliberadamente entorpecido pela emissão conservadora e pelos interesses que ela representa, quer ordem. Ou o que isso realmente significa: privilégio e segurança, oferecidos por quem puder dar.

Em 64 quem se ofereceu foi a farda e o choque elétrico.

As respostas progressistas que insistirem em ter como referência o Brasil pactuado nas urnas de outubro de 2014 serão engolidas pelas trincas dessa fissura em expansão.

Aquele Brasil não existe mais; embora os desafios sejam qualitativamente os mesmos –a quantidade mudou a qualidade: as respostas terão que ser repactuadas, se não pelo golpe (opção à Paulista), por uma reordenação negociada.

Não é fácil: trata-se de recuperar a credibilidade da democracia como mediadora confiável e competente da sorte da sociedade e do destino do seu desenvolvimento.

Há pouco tempo e não se pode errar. É preciso falar uma língua inteligível, com uma mensagem encorajadora e coesa. Esse é um requisito para começar o jogo: redesenhar a organização atomizada do campo progressista e aglutinar direções ainda desprovidas de um comitê coordenador que se expresse de forma crível e acessível.
Mas, sobretudo faze-lo a tempo de agir.

O timming é um dos protagonistas decisivos da crise. O que hoje reverteria um golpe amanhã já pode ser obsoleto.

Os que ainda hesitam devem pesar o custo de sua autopreservação na balança da história.
A troca do sectarismo por uma frente ampla progressista mudaria a correlação de forças nas ruas.


Um comando unificado ampliaria a margem de manobra para repactuar as bases do desenvolvimento, sem retrocesso democrático.

Egos e xiliques de quem se acha fadado à posteridade devem ser contidos: trata-se do futuro da nação; de décadas talvez.


Afogar-se abraçado a esquematismos escravizantes será a punição da história à inação radical.

Disputar a sorte do país com o golpe, porém, não significa iludir a sociedade com a hipótese de consensos entre interesses antagônicos.

Ao contrário, trata-se de resgatar o papel pedagógico da democracia como mediadora dos conflitos do desenvolvimento. Ou isso, ou a lógica do ‘que se vayam todos’predominará e um Bonaparte –fardado ou na versão ‘o Mercado’, vencerá.

Quando nenhum dos lados do conflito social dispõe de força e consentimento para impor a sua hegemonia, a alternativa ao limbo corrosivo consiste em trazer as pendências para uma mesa de repactuação da sociedade.

Apesar do alarido massacrante da mídia e da Paulista por soluções autoritárias, ainda é disso que se trata.

Estamos falando de metas, salvaguardas e concessões politicamente negociadas em grandes câmaras setoriais, com lideranças, partidos, sindicatos e movimentos; que preservem direitos e hierarquizem conquistas; que fixem compromissos para preços e salários; para o emprego e o investimento; para o juro e o equilíbrio fiscal; para a produtividade e o PIB; que estabeleçam parâmetros de curto, médio e longo prazo para a retomado do investimento, do crédito e da infraestrutura, socializando macrodecisões, de modo a assegurar um fôlego persistente à demanda agregada que alimenta o crescimento.

Estamos falando em retirar a sociedade brasileira da areia movediça em que se encontra e para a qual não há alternativa na ‘ciência econômica’ vendida pelos charlatões do mercado.
Ninguém tem tanto interesse nisso quanto as famílias assalariadas e os milhões de brasileiros pobres que avançaram pela primeira vez da soleira da porta para ingressar no mercado e na cidadania a partir de 2003.

A economia brasileira não tem problemas insolúveis.


Ao contrário, dispõe de alavancas potenciais –mercado interno, pré-sal, agronegócio e fronteira de infraestrutura —para assegurar uma reordenação bem sucedida de ciclo de crescimento.


Esta não ocorrerá, porém, espontaneamente ou pelo livre curso do mercado.

É necessário um novo arcabouço político à altura das tarefas postas pela transição em curso.
Duas ilusões devem ser afastadas nesse percurso.

Uma delas manifestou-se com força na avenida Paulista e em outros pontos do país neste domingo, que alguns querem transformar em um divisor de água superior aos 54,5 milhões de votos recebidos por Dilma em 2014.

Ou seja, a ilusão de que um novo 1964 pode ‘salvar o Brasil’.

Ainda que um pedaço da mídia e das elites propugnem o inaceitável como uma questão de ‘botar gente na rua’, o fato é que inexistem as condições históricas para repetir um ciclo de expansão ancorado no arrocho instituído após o golpe de 1964.

Da mesma forma, os desafios latejantes do país hoje não serão equacionados por uma nova onda de privatizações ‘redentoras’, como querem alguns expoentes do simplismo entreguista –a exemplo de Serra com o pré-sal.

Em 1964, a transição rural/urbana impulsionada pela ditadura militar criou uma irrepetível válvula de escape para o regime e para as contradições violentas de uma sociedade que já não cabia mais no seu desenho elitista.

A modernização conservadora do campo implementada pelos militares a ferro e fogo deslocou cerca de 30 milhões de pessoas do campo para as periferias dos grandes centros urbanos em duas décadas.

Nenhum país rico concluiu essa transição em tão curto espaço de tempo. A ditadura ganhou um trunfo não desprezível de mobilidade social para os miseráveis, que amorteceu as tensões de sua política excludente. Mas gerou um custo brutal, ainda não liquidado: semeou periferias conflagradas e cidades sem cidadania, nem infraestrutura por todo o país..
Hoje o Brasil figura como a nação mais urbanizada entre os gigantes do planeta, com 85% da população nas cidades.


As periferias estão saturadas; as cidades rugem por melhores condições de vida; a carência de serviços de saúde, educação, transporte e lazer catalisa a agenda do passo seguinte da nossa história.

O conjunto requer uma dinâmica de gastos fiscais e de ação democrática do Estado incompatível com um regime semelhante ao que usou o êxodo rural dos anos 60 para ‘modernizar’ e a tortura para calar.

Hoje não há fronteira geográfica ‘virgem’ para amortecer a panela de pressão no interior do espaço urbano’. E tampouco no campo: a luta pela reforma agrária agora terá que reinventar-se em torno da agroecologia para simultaneamente produzir alimentos e cidadania e preservar os recursos que formam a base da vida na terra. É ainda mais complexa que a mera realocação de excedentes populacionais. Requer Estado e democracia com amplo debate social.

Uma ditadura de bolsonaros ou moros não tem a sofisticação que esse passo da história exige

Erra mais quem imaginar que esse estirão pode ser resolvido com a mera entrega do que sobrou do patrimônio público –a exemplo do que seria o programa de um governo do PSDB, tolamente martelado pelo colunismo econômico rastaquera.

Privatizações, na verdade, concentram ainda mais a renda; definham adicionalmente o já enfraquecido poder indutor do Estado. Aprofundam o oposto do que o país mais precisa hoje.

A fronteira que resta a desbravar é a do desenvolvimento inclusivo –que
também requer um modelo distinto daquele seguido nos últimos 12 anos, esgotado.

A conjunção favorável de cotações recordes de commodities, farta liquidez internacional e forte expansão do comércio, e câmbio valorizado, não ressurgirá tão cedo.
Ela favoreceu um entroncamento de intensa circulação de capitais na economia brasileira –parte especulativo-- que viabilizou a redistribuição de um pedaço do fluxo novo dessa riqueza na forma de ganhos reais de salários, políticas sociais emancipadoras, pleno emprego, crédito ao consumo e maiores oportunidades à juventude.

O Brasil mudou para melhor mas a travessia ficou inconclusa e manca: imaginou-se tragicamente que as gôndolas dos supermercados irradiariam mudanças automáticas na correlação de forças, sem o necessário engajamento do novo protagonista social.

Hoje, o fluxo novo de riqueza capaz de favorecer a conclusão do processo nessa mesma direção é o pré-sal.

A classe média da Paulista não sabe porque não é informada pelos seus colunistas de estimação.


Mas é no fundo do mar que se encontra a brecha histórica capaz de conduzi-la a viver um dia em uma sociedade mais segura, um país educado e convergente --sem que para isso seja preciso uma revolução sangrenta, ou um novo golpe de Estado.

Se o regime de partilha não for revogado, como quer Serra, no médio e longo o Brasil terá condições de assegurar aos seus 204 milhões de habitantes um padrão digno de saúde pública e uma educação gratuita de boa qualidade, ademais de dispor de um derradeiro impulso industrializante para sanar seu hiato de alta tecnologia, empregos de qualidade e competitividade internacional.

As urgências do presente, porém, não podem esperar pelo fluxo incremental da riqueza de longo prazo que esse horizonte promissor assegura – e isso não é pouco em termos de margem de manobra numa repactuação. Mas o fato é que a mitigação imediata da travessia inconclusa terá que ser contemplada pela taxação da ‘riqueza velha’: o patrimônio já sedimentado no alto da pirâmide de renda.

Os alvo são as grandes fortunas, os bancos, os dividendos, os lucros financeiros, as remessas e demais ganhos de capitais.

Há opção a isso: o caos de um novo golpe.


A reedição de um novo ‘1964’ exigiria uma octanagem fascista drasticamente superior à original, para prover o aparelho de Estado do poder de coerção capaz de devolver a pasta de dente ao tubo.


Ou seja, comprimir o ensaio de mobilidade social do ciclo petista de volta aos becos e barracos de periferias desprovidas de presente e de futuro.

E é sob esse pano de fundo que –apesar do novo degrau conservador escavado neste domingo-- a participação de Lula em um ministério do governo Dilma mantém a sua pertinente atualidade.

Não se trata de blindar o ex-presidente da matilha que o enxerga como troféu de caça da grande obra morista.

Mas de blindar a nação de aventuras nefastas. E, sobretudo, de devolver à negociação democrática o papel de parteira do novo ciclo de crescimento com universalização de direitos que o caldeirão brasileiro requer.


Para isso é preciso mobilizar as forças e interesses que, a contrapelo do fervor golpista, enxergam os riscos –mas também as oportunidades— da encruzilhada atual.

Lula pode ser a peça-chave na construção desse pacto, desde que à frente de um ministério que prefigure a pluralismo capaz de devolver à sociedade o comando do seu destino.
Nunca é demais recordar, era assim que Celso Furtado descrevia o sentido profundo da palavra desenvolvimento, indissociável –no seu entender-- de democracia, soberania, engajamento e justiça social.


O resto é arrocho, recessão ou golpe –por mais que as transmissões edulcoradas mitifiquem o que se passou nesse domingo na Paulista.Essa é a escolha que país terá que fazer nos dias que rugem.


A ver.

sexta-feira, março 11, 2016

Dívida Pública Externa e Interna, por Adriano Benayon

Adriano Benayon*

1 – O que é a dívida?
O povo brasileiro sofre demais, em função da dívida pública, cujo estoque passou de 4 trilhões de reais (em dezembro de 2015, R$ 3,94 trilhões) e envolve despesa no orçamento federal, próxima a 1 trilhão de reais = 42% do total do orçamento.

2. Essa despesa equivale a 1/5 (um quinto ou 25%) do PIB, muito superior ao total dos investimentos públicos e privados realizados no País (14% do PIB). Se fosse eliminada, o Brasil poderia investir na economia e na infraestrutura econômica e social, percentual de 34% do PIB. Certamente, mais que isso, pois, antes não investia tão pouco como atualmente.

3. Essa dívida formou-se basicamente pela capitalização dos juros absurdamente altos que o cartel dos bancos exige do Banco Central para adquirir títulos do Tesouro: taxa SELIC mais margem, em torno de 3% aa., o que eleva a atual taxa efetiva para mais de 17% aa.


4. Assim, a dívida interna cresceu 30 vezes, de 1994 para cá. 1994 foi o ano do Plano Real, um conjunto de fraudes, entre as quais a de o “governo” de então proclamar que a moeda estava estabilizada e que dever-se-ia acabar com a correção monetária.

5. Em seguida, em 1995, as taxas SELIC, decretadas pelo Banco Central desse “governo” acumularam 53%. A dívida interna de R$ 136 bilhões em dezembro de 1994, chegou agora a R$ 4 trilhões.

6. A dívida externa voltou a subir e retornou a patamar muito alto (US$ 545,4 bilhões em dezembro de 2015), devido aos enormes déficits de transações correntes com o exterior, que acumularam US$ 337,9, de dezembro de 2010 ao final de 2015.

7. Além disso, o saldo dos investimentos diretos estrangeiros, US$ 1 trilhão, mais os investimentos estrangeiros em carteira, cerca de US$ 700 bilhões, elevam o passivo externo bruto a mais de US$ 2,2 trilhões (equivalente a R$ 8 trilhões, o dobro da dívida interna.)

8. A esse passivo externo ainda haveria que adicionar boa parte da dívida interna, detida por estrangeiros e brasileiros residentes no exterior. Diante disso, as reservas brasileiras (US$ 356,35 bilhões) e os investimentos brasileiros no exterior, cerca de US$ 400 bilhões (difíceis de retornar, em situações de crise) não significam situação confortável.
II – De onde vem a dívida pública brasileira?

9. Se não identificarmos as causas das dívidas que nos estão sugando, de nada adiantaria acabar com elas, mesmo um milagre as extinguisse. Por que? Porque não se removendo as causas, se estaria formando, em pouco tempo, nova dívida tendente a crescer exponencialmente, como aconteceu com a atual.

10. A dívida externa foi a primeira a surgir e a gerar crises tremendas no País, agravadas por arrochos violentos sob a direção do FMI.

11. Houve muitas dessas crises, desde o ponto de viragem para o subdesenvolvimento, decorrente da deposição do presidente Vargas, em 1954. A primeira, ao final do mandato de J. Kubitschek, 1960/61.

12. Essa, como as seguintes recorrentes, resultou da desnacionalização da economia, com a entrega aos carteis transnacionais dos mercados industriais do País, desde janeiro de 1955. Então, foram baixadas as Instruções da SUMOC, que propiciaram subsídios inacreditáveis, para esses carteis, donos de grandes empresas em grande número de países se apoderarem de nosso mercado industrial.

13. Esse crime contra o Brasil foi cometido pelo governo egresso do golpe de 1954, por militares pró-EUA e políticos da UDN. São raríssimos os economistas que atribuem importância, a tais modificações na política industrial e de capitais estrangeiros, aplicadas com entusiasmo e ampliadas, por JK, enganosamente tido por desenvolvimentista.

14. Ele adotou o falso conceito da CEPAL (Comissão para a América Latina das Nações Unidas), segundo o qual o importante era industrializar-se, sem se importar com quem controla o capital e a tecnologia das indústrias.

15. Resultado: sob JK e sob os governos militares, o País teve altas taxas de crescimento do PIB, por algum tempo, mas crescia errado. Por isso, o Brasil pagou caro demais: décadas perdidas, desde a dos anos 80. A dívida externa subiu de menos de US$ 1 bilhão em 1954, para US$ 90 bilhões em 1982.

16. Os falsos desenvolvimentistas jactaram-se da industrialização, mas mentiam, ou ignoravam que o Brasil se industrializava na primeira metade do Século XX, sem aporte significativo de investimentos diretos estrangeiros.

17. O modelo de “desenvolvimento dependente” é uma contradição em termos, uma impossibilidade. Promovendo e subsidiando os “investimentos” estrangeiros, causou fabulosos déficits externos, cujo financiamento, juntamente com os empréstimos públicos para apoiar esses “investimentos”, fez a dívida externa crescer exponencialmente.

18. A contradição foi defendida por FHC, no péssimo livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina (coautoria com Enzo Faletto).

19. Por essas e outras provas de ser inimigo dos interesses nacionais, FHC foi conduzido pelo império anglo-americano à presidência da República, a fim de aprofundar o desastre da economia brasileira, com as privatizações, dando continuidade ao pacotão de leis antinacionais que Collor fez o Congresso aprovar em menos de dois meses.

20. Diziam promover a industrialização e garantiram que o País se desindustrializasse, consequência natural da desnacionalização da economia, em razão de: a) empobrecimento do Brasil com os arrochos acarretados pelas crises de dívida externa; b) praticarem os carteis transnacionais preços absurdos (múltiplos de mais de 3 do real custo de produção) e transferirem os lucros para as matrizes, através de vários mecanismos; c) concentrarem nas matrizes a produção dos componentes de maior valor agregado e conteúdo tecnológico.

21. O resultado é a industrialização, não apenas por ter o produto industrial caído a menos de 10% do PIB, mas por ser constituído, cada vez mais, por bens intensivos de recursos naturais e decrescente conteúdo tecnológico.

22. São tendências terríveis e que se manifestam também em termos do emprego, que decai tanto quantitativamente como do ponto de vista da qualificação.


* - Adriano Benayon é doutor em Economia, pela Universidade de Hamburgo, Alemanha; autor de Globalização versus Desenvolvimento.

O processo de desmonte do capitalismo brasileiro, por André Araújo

Por André Araújo

A luta pelas causas serve de capa a grandes aventuras politicas. Algumas causas são temas clássicos que se usam como arietes para qualquer tipo de ação verdadeira sendo a causa a desculpa.

Todos são a favor da PAZ, uma causa nobre. Ninguém é a favor da GUERRA, uma causa torpe. Neville Chamberlain era a favor da paz, mas a História o jogou no limbo porque, sob a capa do apaziguamento, provocou um desastre político para seu País. Seu opositor, Winston Churchill, era a favor da guerra e a História o consagrou como um dos grandes estadistas do Século XX. As causas são portanto enganadoras, servem para muita coisa, nem sempre benignas.

Sob a capa de causa do ANTI-TERRORISMO, os EUA invadiram o Iraque e desarrumaram todo o Oriente Médio. A causa era boa, mas o PROCESSO de se chegar à causa foi desastroso. Causas nobres podem portanto arruinar países se os processos para atingir essas causas foram errados, excessivos, desequilibrados, mal operados.

Ninguém é a favor da corrupção, todos são contra. Mas o processo na luta ANTI-CORRUPÇÃO pode arruinar um País, custando muito mais que a própria corrupção. É fundamental, portanto, o discernimento sobre os processos que se praticam para atingir causas aparentemente nobres, porque os processos podem matar as causas a que se destinam e criar novos problemas sem resolver o objetivo inicial.

A atual luta anti-corrupção no Brasil está destruindo os fundamentos do capitalismo brasileiro. Os EUA como Pais também são contra a corrupção, mas lá os processos nem de longe tocam no resguardo ao seu capitalismo corporativo.

A Lockheed Martin, grande empresa fabricante de aviões militares, nos anos 60 praticou tanta corrupção que foi ela a razão da promulgação da Lei contra Práticas Corruptas no Exterior, a FCPA, de 1973. Mas sendo a Lockheed a razão da lei, a empresa mal foi tocada, o Governo dos EUA exigiu a troca de seu presidente, ninguém foi preso e a Lockheed segue hoje sendo uma das maiores e mais sólidas empresas dos EUA. Muito mais recentemente a Kellog, Brown abd Root, uma das maiores empreiteiras dos EUA, com sede no Texas, da qual o Presidente Lyndon Johnson foi lobista a vida inteira e cujo nome consta de sua monumental biografia por Robert Caro em mais de mil citações, Johnson deveu a Brown and Root a fortuna de 14 milhões de dólares que legou à Lady Bird, sua viúva, a KBR teve recentemente um processo por corrupção na Nigéria, uma propina de US$192 milhões ao ditador daquele País. O executivo Albert Stanley foi punido com dois anos e meio de prisão e o processo terminou aí, a Kellog Brown and Root não foi minimamente afetada em seus negócios.

O cuidado absoluto com a PRESERVAÇÃO de suas grandes empresas é uma caracteristica do sistema americano de organização capitalista. Na crise de 2008, estando em risco mais de 50 bancos e grandes empresas industriais, crise causada por monumentais trapaças de Wall Street, o Tesouro americano ofereceu recursos de 700 bilhões de dólares para essas empresas e bancos, um banco (Lehman) foi deixado quebrar, os demais foram salvos, ninguém foi processado ou muito menos preso, a fraude gigantesca passou batida para que se salvasse o capitalismo americano.

Nos últimos dois dias, o sistema GLOBO, pelo Globonews, vem repetindo que o Brasil está sendo elogiado no exterior por causa de sua campanha anti-corrupção. A fala apareceu no programa EM PAUTA de 8 de março pela locução de Guga Chacra e ontem, no programa JORNAL DAS DEZ pela locução de Donny De Nuccio, âncora do Jornal. Guga Chacra citou um elogio de Dany Rodrick, professor de economia e só. Donny não citou ninguém, disse que o Brasil está sendo elogiado e que a operação anti-corrupção vai fazer os investidores voltarem ao Brasil porque agora o pais está limpo.

È uma lenda de mau gosto. Empresários do mundo inteiro detestam investigadores e promotores, seus inimigos naturais, e sentem afinidade com colegas empresários de outros países. É como um clube. Empresários se percebem como companheiros de outros empresários e se incomodam em ver seus colegas presos e não se sentem bem em países que os prenderam em grande quantidade e os mantem presos, é da natureza humana. Empresários não tem simpatia por aparelhos repressivos, tem simpatia por empresários que são considerados colegas de profissão. Portanto esse papo de que o Brasil está sendo ""elogiado" é politicamente correto apenas, na verdade o Brasil está sendo PROCESSADO por todo lado nos EUA por causa da exposição excessiva e escandalosa da corrupção, o que dá argumentos para promotores americanos e gangues de advogados abutres que compram ações da Petrobras só para processar e extorquir danos morais, alimentados pela abundância de "escrachos" produzidos no Brasil e que se voltam contra nós mesmos.

Se o ambiente de corrupção afasta investidores, como a economia mexicana, com longo histórico de corrupção política, está bombando? Não se defende a corrupção, mas os contextos precisam ser aclarados. Os primeiros empresários da Era Moderna foram os PIRATAS INGLESES do Caribe, a alma do empresário é do pirata e não do juiz, quem acha que país limpinho atrai investidor não tem a mais remota noção de negócios no mundo real.

Há também o problema geopolítico, há duas áreas no Brasil que são de grande irritação para Washington, a fabricação do submarino nuclear e a fabricação de mísseis pelo Brasil, área em que temos já tradição de 30 anos, não é uma coisa simples. Ambas áreas foram atingidas pela Lava jato, o submarino nuclear está sendo construído pela Odebrecht Defesa e os mísseis pela Mecatron, empresa controlada pela Odebrecht, já o programa nuclear tem como principal contratante a Andrade Gutierrez, através da Eletronuclear. Todas essas áreas estão sendo atingidas pela Lava Jato.

Por coincidência, a empreiteira brasileira pioneira na expansão para o exterior, a Mendes Júnior, acaba de pedir recuperação judicial, um símbolo que cai como a sinalizar o desmonte do capitalismo brasileiro, em larga medida um trem puxado pelas grandes empreiteiras, hoje todas na linha de tiro para serem estraçalhadas.

Há séculos o imperialismo usa o moralismo como ariete de rompimento de barreiras. O moralismo é sempre o PRETEXTO para atingir fins bem menos morais. O moralismo inglês que combateu o tráfico negreiro nos Século XIX não tinha fins tão nobres, tratava-se de criar mercado para os tecidos ingleses nas Américas, para o que os trabalhadores negros precisavam receber salários, portanto não deveriam ser escravos.

O moralismo nos EUA não acabou com a corrupção, apenas a legalizou. As doações políticas por empresas nos EUA são legais e ilimitadas, foi criado um mecanismo, os POLITICAL ACTION COMMITTEES, que podem receber qualquer valor das empresas, sempre declarados e dedutíveis do imposto de renda. Já a operação de interesses junto aos políticos foi há muito tempo legalizada pelo LOBBY registrado e legal, com despesas também deduzidas dos lucros.

Mesmo assim, há no setor do orçamento militar dos EUA, que gira em torno de US$680 bilhões anuais, um imenso número de malfeitos, de roubalheiras, as famosas tampas de privada de 2 mil dólares, que são apontados em muitos livros sobre o tema. Lá não são tão limpinhos como aqui os sacristãos de fórum vendem. Só que lá eles são mais discretos e não colocam a sujeira na janela. E nos EUA a Justiça jamais supera o interesse do Estado nacional e dentro desse interesse está a proteção ERGA OMNES das grandes corporações que são a espinha dorsal da economia americana.

As grandes empresas podem ser processadas mas os processos não atingem a essência da empresa, nem sua solidez ou potencial de operação presente e futuro. Centenas de prisões e delações ao mesmo tempo é coisa nunca vista nos EUA e nem em qualquer outro país de economia organizada, nenhuma causa justifica desmontar ao mesmo tempo grandes e importantes empresas como se está se fazendo aqui sem que ninguém se importe, como se isso fosse coisa normal.

Construir grandes empresas leva duas ou três gerações, quem diz que virão empresas estrangeiras no lugar das detonadas ou que médias empresas ocuparão seu lugar, não tem a MÍNIMA noção do mundo real, simplesmente não sabe do que está falando, não conhece o âmago da economia. Uma grande empresa é uma obra complexa, não se improvisa.

Alguns poucos na mÍdia e na academia estão associando as operações policialescas e todo o conjunto de ações anti-corrupção com o debacle da economia, mas muitos não correlacionam. A atual recessão se deve a vários fatores, mas o clima de caça as bruxas dá uma enorme contribuição ao ambiente de desânimo e desalento, além de afetar a economia real pelo desemprego nas construtoras, no cancelamento de pedidos e projetos, no desmonte de canteiros e estaleiros, na perda de grandes players para novas concessões que são essenciais para reerguer a economia.

Ao final, corruptos ou não, são os empresários que movem a economia e não inquéritos, processos e prisões.

O problema não é a tese pura da luta anti-corrupção, meritória por si própria. O problema está nos MÉTODOS que se usam para combater a corrupção, que podem matar o doente. O que sobra de uma grande empresa onde todos os executivos estão presos há meses, como fica o "clima" na empresa, os projetos futuros, a credibilidade perante os clientes e bancos? Empresas que sofrem essa razia de prisões e delações são arrasadas para não mais voltarem a funcionar.

Infelizmente a midia, por vício de escorpião, entra nessa cruzada matando os potenciais anunciantes que estão na economia produtiva, boa ou ruim, é de lá que vem seu faturamento, sem empresas não há anunciantes e não há economia.

quarta-feira, março 09, 2016

Teoria da conspiração ? : O que está em jogo por trás do golpe no Brasil

Esse texto foi escrito em 13 de outubro de 2013

http://ecoepol.blogspot.com.br/2015/10/teoria-da-conspiracao-o-que-esta-em.html


Evaristo Almeida*

Desde o início do governo Lula em 2003, a subelite brasileira, que defende os interesses de outros países, vem tentando tomar o poder. Primeiro tentaram com o chamado processo do mensalão, que muito adequadamente foi apelidado de mentirão.

Nesse processo várias irregularidades jurídicas foram cometidas para atingir os objetivos da direita brasileira, como condenações sem provas como reconheceu uma ministra do Supremo Tribunal Federal, réus sem direito a fórum privilegiado que foram julgados diretamente pelo STF, o que não ocorreu com o mensalão tucano que foi desmembrado; usaram a chamada teoria do domínio de fato, cuja aplicabilidade nesse caso foi criticada pelo próprio Claus Roxin, o criador da tese.

E o pior, o objetivo era acabar com o governo e não com a corrupção, pois o mensalão do PSDB, mesmo sendo mais antigo, até o momento não foi julgado e provavelmente nunca será.

Ainda assim, com todas essas armações, a subelite brasileira continuou perdendo as eleições, mesmo tendo a grande imprensa como aliada, difundindo mentiras e principalmente o ódio contra o governo e o PT. Diariamente a classe média brasileira recebe uma dose de veneno dos três grandes jornais brasileiros e semanalmente, através das três grandes revistas semanais.

Isso fomentou em membros dessa classe um ódio visceral contra o PT, chegando a ser patológico. Agressões contra petistas passaram a ser constantes nas ruas, restaurantes e locais públicos em geral. Recentemente, uma pessoa vinda do litoral paulista esteve em risco, junto com a família, porque ainda tem o adesivo da campanha de 2014 aderida no carro.

Dois carrões, esses SUVs, fecharam-no e quase provocaram uma batida só por causa disso, além das agressões verbais que foram muitas.

Com a perda da eleição em 2010, a subelite brasileira, através dos seus partidos, dos meios de comunicação e estamentos do Estado brasileiro, começaram a unificar o pensamento e as ações. A imprensa praticamente reproduz as mesmas matérias, provavelmente construídas pelas mesmas pessoas que usam processos semióticos para induzir um conjunto de conceitos ideológicos, de interesse dessa classe social, que vão sendo assimilados pela população.

A partir de 2011, várias ações foram sendo feitas para que a oposição ao governo federal ganhasse as eleições de 2014. Estavam certos que venceriam essas eleições.

Para isso além do que já vinham fazendo, trouxeram a tona a operação lava jato e as acusações contra a Petrobras.
Esses dois movimentos, mas o ataque cerrado da grande imprensa brasileira garantiria a vitória da oposição.

Nessa operação entram em cena dois fatos importantes, um é a espionagem da agência estadunidense NSA, que teve acesso a informações do governo federal e da Petrobras, divulgado pelo Wikileaks, fato que fez com que a presidenta cancelasse sua viagem aos Estados Unidos.

O outro é a chegada em 2013 da embaixadora dos Estados Unidos Liliana Ayalde, que chefiava a embaixada paraguaia, antes do golpe contra Fernando Lugo.

Várias matérias publicadas referendaram os indícios do envolvimento da embaixadora no golpe daquele país, inclusive o Whikileaks, https://wikileaks.org/plusd/cables/09ASUNCION675_a.html, pela EBC, http://www.ebc.com.br/noticias/internacional/2013/02/paraguai-os-eua-e-o-impeachment e também na Carta Maior http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/O-Golpe-de-Estado-no-Paraguai-e-a-America-do-Sul%0D%0A/6/25446.

O motivo econômico para o golpe de estado

O petróleo é o principal motivo para um golpe no Brasil, advindo de que os Estados Unidos estão perdendo o controle no Oriente Médio, com a ação russa na Síria.

O petróleo para os Estados Unidos tem dois pontos principais, o principal deles é a garantia do fornecimento para o maior consumidor mundial, junto com a China. O segundo é o petrodólar, acordo que faz com a transação na compra e venda de petróleo seja efetuada em dólar. Isso garante ao emissor dessa moeda um cheque especial, podendo se endividar eternamente pagando com a impressão do dólar. Como o resto do mundo demanda essa moeda, não traz efeitos inflacionários.

Quem se insurgiu contra essa prática como o Iraque e a Líbia foram invadidos e o país destruído.

Para sorte e azar do Brasil, descobrimos a principal província petrolífera do século XXI, chamada de pré-sal que pode ter 300 bilhões de barris de óleo de excelente qualidade.

A sorte prevalecerá se conseguirmos o controle nacional sobre essas reservas, com a Petrobras sendo a única exploradora e mantido o regime de partilha, o Brasil poderá ser um país desenvolvido, com uma indústria offshore e com essa riqueza distribuída, o nosso povo terá um padrão de vida muito melhor.

O nosso risco ou azar, é que exceto a Noruega, país com grandes reservas petrolíferas, os demais foram alvos de todos os meios usados para que as reservas petrolíferas passassem para o controle estrangeiro.

Uma das pragas do Oriente Médio é justamente a riqueza abrigada no seu subsolo, com governos despóticos apoiados pelo Ocidente, invasão e guerra permanente.

E neste cenário da operação Lava Jato segue metódica, com informações privilegiadas e seletividade, junto com a grande imprensa, ajudou nos objetivos das petroleiras estrangeiras na desconstrução da Petrobras, apesar da empresa valer muitas vezes mais no mercado, estar mais rentável e ter aumentado as reservas de petróleo, tendo por base o ano de 2002.

Juntaram as empresas de engenharia nacional no chamado petrolão para martelar diuturnamente de que deveriam acabar com essas empresas, porque estavam metidas em corrupção. Agiram como se em outros países, ricos ou pobres a corrupção não existisse.

Passaram para a população a idéia de que a corrupção é um mal que afeta unicamente o povo brasileiro. Essa é a síntese desse processo todo.

Como se as empresas capitalistas não fossem em sua essência corruptas e se medidas saneadoras já não tivessem sido tomadas.

O escândalo do trensalão em São Paulo foi praticado por empresas francesa, japonesa, alemã e brasileira, que provocaram um rombo de pelo menos R$ 1 bilhão nos cofres públicos, segundo o Ministério Público.
A corrupção de militares alemães por uma grande empresa estadunidense na venda de caças na década de 1960 provocou um grande escândalo, mas nem por isso a empresa foi fechada. Esse fato está em https://en.wikipedia.org/wiki/Lockheed_bribery_scandals,
O grande golpe de corrupção privado foi o de 2008, em que grandes empresas financeiras, da área de seguros e bancos provocaram a crise do subprime, que causou um prejuízo de US$ 780 bilhões aos contribuintes dos Estados Unidos, desemprego e crise econômica e ninguém foi preso, tema do documentário Inside Job em http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-trabalho-interno-dublado-online.html.

A grande mídia brasileira e estrangeira, junto com funcionários públicos, inclusive alguns que estudaram nos Estados Unidos, montaram um grande esquema para tirar o pré-sal do controle da Petrobras e num futuro próximo a empresa ser privatizada, sob o argumento de que empresa pública é essencialmente corrupta e a privada não, outra falácia.

Quem ganharia com tudo isso seriam as grandes empresas petrolíferas estadunidenses e européias.

E o Brasil veria de novo sua riqueza ir enriquecer outros povos, como aconteceu no ciclo da cana-de-açúcar e do ouro, que os europeus ganharam tudo e nós ficamos com a herança da escravidão e os buracos em Ouro Preto.

Além do petróleo e da Petrobras, os países que ganham com o golpe ainda ocupariam o espaço das empresas de engenharia nacionais e poderiam exportar bens, como navios e plataformas para a exploração do pré-sal no Brasil, o que atualmente não é possível.

Para tentar isso eles contam com apoio de senadores e deputados que apresentaram projetos leis para tentar tirar o pré-sal do povo brasileiro. Os projetos estão tramitando e o processo está em andamento.

A traição em 1789 por Joaquim Silvério dos Reis causou a morte de Tiradentes e o Brasil continuou como colônia, essa trama se for efetivada por esses parlamentares, condenará o Brasil a ser ad perpetum um país subdesenvolvido, causará pobreza, tirando a chance de uma vida melhor à milhões de brasileiros e o país voltará à condição do que já foi um dia, colônia.

É um crime de lesa pátria, que vai contra os interesses do nosso povo.

Os motivos geopolíticos para o golpe

Um novo mundo está em nascimento, mas o velho, baseado na unipolaridade dos Estados Unidos, recusa-se a acabar.

A maior porção de terra, a Eurásia, ou a hurt land, na qual fazem parte a Russia e a China, novos atores no cenário mundial, estão construindo laços comerciais, culturais e estratégicos que mudam o eixo estratégico do mundo.

Construção de ferrovias de alta velocidade, de exploração de gás petróleo e formação de blocos, como o BRICS, estão avançando rapidamente, sob liderança desses países.

Os Estados Unidos, com a pax americana já não convencem ninguém e a Europa perdeu o protagonismo, principalmente com a crise econômica que está assolando países como Grécia, Espanha e Portugal, ameaçando a unidade da União Européia e do euro.

Enquanto isso, no continente latino americano vários países se reconstruíram das ditaduras implantadas pelos Estados Unidos com as subelites locais nas décadas de 1960 e 1970, e da derrocada do neoliberalismo, fundamentalismo econômico, sem base científica, que afundou o nosso continente em crises econômicas e sociais na década de 1990.

O Brasil é o país mais importante dessa porção de terra do mundo, sem nenhuma pretensão imperialista. E o nosso país tem garantido a democracia em vários países que sofreram processos de golpes de estado, como a Venezuela, Bolívia, Equador e Argentina, através de instituições como o Mercosul e a Unasul.

Mesmo com esses instrumentos não conseguimos barrar os golpes em Honduras e no Paraguai.

Outro fator importante são os acordos comerciais, como o Trans-Pacífico (TPP), o Trans-Atlântico (TPA) e o Tratado de Serviços (TISA).
Quem está puxando esses tratados são os Estados Unidos e os países europeus e representam a morte da democracia nos países que aderirem a eles, pois todos os direitos sociais, o parlamento e iniciativas governamentais seguirão ritos que beneficiam as grandes empresas transnacionais.

Então, um Brasil, sob controle da oposição, como escreveu Fernando Henrique Cardoso, aderiria a um tratado desses, em nome da modernidade. Ser colônia para ele é ser moderno.

E sairia dos BRICS, para tentar enfraquecer esse bloco, principalmente depois da criação do banco de desenvolvimento, que substituirá o Banco Mundial e do arranjo financeiro, que substituirá o FMI. É uma libertação do mundo do acordo de Bretton Woods.

É tudo o que os países centrais não querem, pois contam com a chantagem financeira feita através do BIRD e do FMI, que eles controlam para conseguirem o controle político e econômico de países que são obrigados a abrir mão da soberania para acessarem linhas de crédito oferecidas por esses organismos.

E a América Latina ficaria sem pai nem mãe, pois os golpistas estariam livres para derrubar regimes democráticos, pintados de ditaduras pela grande imprensa, como a Venezuela.

Essa é a essência o que está por trás desse golpe de estado que estão tentando implantar no Brasil.


Final

O Brasil passa por um momento crucial em que a democracia conquistada a duras penas, a ascensão social, direitos trabalhistas e civis, a soberania brasileira e o futuro do país estão em risco.

A oposição, que não conseguiu ganhar as quatro últimas eleições para a presidência, resolveu partir para o golpe de estado, junto com a grande imprensa brasileira e partes de instituições estatais.

Subjacente a tudo isso, de forma dissimulada, estão interesses estrangeiros no Brasil e na América Latina que querem de novo o protagonismo colonialista que sempre tiveram.

A cobiça do pré-sal por povos estrangeiros, a privatização da Petrobras e a abertura do mercado brasileiro para produtos de exploração offshore de petróleo, é parte da força que se esconde atrás desse processo.

A saída do Brasil dos BRICS, a entrada subalterna no TPP, TPA ou TISA, poriam fim a qualquer projeto de inserção soberana do país no mundo.
As democracias da América Latina também estariam em risco.

Assim como na batalha de Stalingrado, a nossa luta de hoje é entre a civilização ou a barbárie.

A oposição brasileira quer o retrocesso do país e além de representar os próprios interesses oligárquicos estão a serviço de interesses obscuros de outros povos.

Defender a democracia e o resultado da eleição de 2014 é garantir um futuro promissor para o nosso país.

Como escreveu Ricardo Semler, nunca se roubou tão pouco como agora, que pode ser lido em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/196552-nunca-se-roubou-tao-pouco.shtml.

Graças aos governos do PT, a corrupção que já foi de 5% do PIB, passou para 3,1% e seria de 0,8%. E vai continuar diminuindo.

Isso demonstra o quanto a roubalheira vem sendo combatida desde 2003, o que está assustando muita gente da subelite brasileira que se acostumou a usar o Estado brasileiro em benefício próprio e isso está acabando.

Estão usando a corrupção como falsa bandeira; não é para acabar com os maus feitos, mas para que eles continuem por mais 500 anos.

·Economista, Mestre em Economia Política – PUC-SP

Lava Jato: tudo começou em junho de 2013


Luis Nassif

http://jornalggn.com.br/noticia/lava-jato-tudo-comecou-em-junho-de-2013

Para entender o nosso jogo de xadrez é importante clareza sobre um divisor de águas: a condução coercitiva de Lula a Congonhas.

Para o juiz, os procuradores justificaram que a intenção seria proteger a imagem e a integridade de Lula. Na nota oficial, os procuradores sustentam que pretenderam conferir a Lula o mesmo tratamento aplicado em 114 réus anteriores. Quem está enganando quem?

A operação fugiu do padrão escracho da Lava Jato. Lula foi conduzido em sigilo à sala VIP do aeroporto de Congonhas, na beira da pista, com um jatinho da Polícia Federal no hangar pronto para decolar.

Pesados todos os fatos e possibilidades, a hipótese mais robusta foi levantada por José Gregori, ex-Ministro da Justiça do governo FHC: a intenção era, de fato, prender Lula e conduzi-lo a Curitiba.

No interrogatório havia quatro delegados da PF e quatro procuradores. À medida que o tempo avançou e divulgou-se a localização de Lula, de dentro da sala era possível ouvir os urros da multidão do lado de fora.

Seja lá o que ocorreu, a ida de deputados do partido a Congonhas, a aglomeração de manifestantes, o fato é que não se consumou a operação.

No final do dia, um Sérgio Moro visivelmente assustado com os riscos da operação, soltou a nota oficial explicando que o pedido partiu dos procuradores, enfatizando a intenção de preservar a imagem e a integridade de Lula e lançando um apelo pela paz e pela concórdia.

Mesmo com a perspectiva de acirramento de conflitos de rua, os procuradores da Lava Jato trataram de botar mais óleo na fervura, soltando a nota em que desmentiam as razões invocadas por Moro e se comportavam como deuses ex-machina lançando raios do Olimpo.

A história reconhecerá no futuro a enorme contribuição do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima para expor a conspiração quase em tempo real. Seu estilo grosseiro, tosco, atropela e expõe uma estratégia muito mais refinada. Tão refinada que parece difícil que tivesse sido planejada em Curitiba.

A estratégia se completa com a matéria de ontem da Folha, de que a Lava Jato prepara um conjunto de ações de improbidade visando impedir Lula de concorrer novamente (http://migre.me/tbiYy), confirmando, aliás, os cenários que venho traçando.

Os dois comunicados, mais as informações adicionais, colocam, de uma vez, quatro peças a mais no nosso quebra-cabeças.

Peça 1 – A radicalização é alimentada pelos procuradores da Lava Jato. Mais do que explicações, a nota oficial dos procuradores é um libelo, antecipando a peça final da acusação.

Peça 2 – Moro não é nem nunca foi o cérebro por trás da operação.

Uma operação dessa envergadura não poderia ter sido obra de um juiz de primeira instância, de um estado pouco relevante politicamente, conhecido por seu conservadorismo, rígido nas sentenças, mas tímido, tosco até fora dos limites dos autos. Foi só recuar para ser atropelado pela Força Tarefa.

Peça 3 – A Polícia Federal é um mero instrumento nas mãos dos procuradores.

Domingo, o Estadão publicou matéria condenando os abusos da operação, atribuindo-os à Polícia Federal. Ora, a PF limitou-se a cumprir um mandado requerido pelos procuradores e autorizado pelo juiz Moro. Já os procuradores formam um todo coeso, obedecendo a uma estratégia nítida: a inabilitação política de Lula.

Peça 4 – Em meio às turbulências políticas, houve o risco de confrontos entre manifestantes se alastrarem por todo o país. Um mero Procurador Regional de Curitiba pode definir, por si, a oportunidade de um libelo político com aquele grau de temperatura?

Aí cabem duas hipóteses:

Hipótese 1 – O Ministério Público Federal é um arquipélago formado por comitês, regionais independentes, cada qual com poderes de interferir até nos aspectos psicossociais do país, sem nenhuma forma de coordenação ou de controle interno.

Hipótese 2 – há um comando central, de nível hierárquico superior ao dos procuradores do Paraná.

Em qualquer hipótese se abre um enorme flanco na armadura institucional do Ministério Público. Quando o modelo de atuação torna o país refém de um juiz de 1a instância armado por procuradores regionais beligerantes, há algo de errado na história.

Para entender o jogo, vamos relembrar o histórico da perseguição a Lula.

A perseguição a Lula
As declarações reiteradas dos procuradores – que investigam fatos e não pessoas – foram desmentidas cabalmente pela última operação.

A perseguição a Lula pela Lava Jato começou em março do ano passado, em cima das investigações da Bancoop pelo Ministério Público Estadual (MPE).

O site Jota contou em detalhes essa história, em reportagem de Laura Diniz (http://migre.me/tbiZP).

Em março de 2015 o promotor José Carlos Blat, do MPE paulista, foi procurado por integrantes da Força Tarefa da Lava Jato, para compartilhar informações. Em maio teriam surgido fatos novos em relação à Bancoop, OAS e o prédio de Guarujá. Blat comunicou à juíza Cristina Ribeiro Leite Costa, da 5a Vara Criminal da Capital. Em despacho de 10 de junho, a juíza informou que novas informações deveriam ser investigadas em separado.

Resolveu-se rapidamente o problema através de um artifício, uma Representação Criminal combinada com três escritórios de advocacia que já atuavam no caso Bancoop, dirigidas diretamente ao procurador – atropelando o conceito de promotor natural, aquele designado por sorteio..

Com o estratagema, o tríplex entrou na Lava Jato, diz a matéria. E “caídas literalmente do céu”, segundo a reportagem, as informações sobre a offshore Murray e a Mossak Fonseca, que serviram de pretexto para a Operação Triplo X.

Caíram do céu da mesma maneira que as informações iniciais sobre a Petrobras caindo no colo do juiz Moro.

Na mesma época, um obscuro deputado federal do PSDB do Acre pega matéria de Veja, que falava do sítio de Atibaia, com informações erradas – atribuindo as obras à OAS – e fez uma representação ao MPE paulista. O MPE recusou e encaminhou a representação para a Procuradoria Geral da República. No dia 15 de julho, o próprio PGR Rodrigo Janot encaminhou a Curitiba, abrindo o segundo duto de bombas contra Lula (http://migre.me/tbj0y).

Na nova etapa, a primeira investida foi sobre a Mossak Fonseca. A Força Tarefa invadiu os escritórios, deteve funcionários, recolheu computadores e e-mails. Pouco depois vazou a informação das ligações da Murray com a casa atribuída à família Marinho em Parati. Imediatamente a operação Mossak sumiu dos noticiários, os detidos foram imediatamente liberados, contradizendo todo o padrão da operação até então, demonstrando que a Lava Jato não investigava fatos, mas pessoas. Aliás, algumas pessoas.

A perseguição a Lula ficou mais nítida no dia 2 de fevereiro, por volta das 18 horas, quando quatro procuradores da Força Tarefa foram à casa do trabalhador Edivaldo Pereira Vieira. Eram eles, Athayde Ribeiro Costa, Roberto Henrique Pozzobon, Januario Paludo e Júlio Noronha.

Não tinham mandado, intimação, apenas suas carteiras de promotores e o autoconferido poder de investigar. Pressionaram, constrangeram e intimidaram Edivaldo, um sexagenário humilde, porque era irmão de Élcio Pereira Vieira, caseiro do Sítio Santa Bárbara – levado em condução coercitiva na 24a fase da Operação. Ao final dessa típica batida policial, os procuradores deixaram um telefone de Curitiba, para o caso de sua presa decidir "colaborar".

Finalmente, com a operação de sexta, se valeram do estratagema de envolver esposa e filhos de Lula, visando derrubar emocionalmente o adversário

No decorrer de todo o ano, os vazamentos da Lava Jato, planejados pelos Procuradores da República e Delegados Federais, lançaram no ar toda sorte de factoides.

Qualquer suspeita, por mais ridícula que fosse, era transformada em sentença condenatória, misturando fatos relevantes com bobagens monumentais. Essa mistura ajudou a alimentar dois sentimentos conflitantes. Nos especialistas, a convicção de que a Lava Jato perseguia pessoas, depois ia atrás de qualquer fato que incriminasse o alvo. Nos leigos a certeza de que havia um ladrão de galinhas no Planalto, pois até suspeitas de desaparecimento de estátuas e adagas foram ventilada pelo escoadouro montado na Lava Jato.

E aí alguns fatos incômodos começam a invadir o raciocínio. Toda a estratégia de mídia foi montada em Brasília, pela própria Procuradoria Geral da República, assim como o reforço da Força Tarefa e a ênfase na cooperação internacional.

Seria Janot responsável direto por todos esses absurdos, ou meramente abriu a porteira e perdeu o controle da boiada?

Vamos avançar no nosso quebra-cabeça, sem nenhum juízo de valor definitivo.

A Primavera brasileira no início de tudo
O ponto de partida foram as manifestações de junho de 2013, que deixaram claro que o Brasil estava preparado para a sua “Primavera”, a exemplo das que ocorreram nos países árabes e do leste europeu. Essa possibilidade alertou organismos de outros países, como o próprio FBI e acendeu alerta na Cooperação Internacional – a organização informal de procuradores e polícias federais de vários países, que se articularam a partir de 2002 para combate ao crime organizado.

Evidência: informação me foi confirmada por Jamil Chade, correspondente do Estadão em Genebra, para explicar porque o FBI decidiu só agora investir contra a FIFA. As manifestações teriam comprovado que a opinião pública brasileira estaria suficientemente madura para apoiar ações anticorrupção – e de interesse geopolítico dos EUA, claro.

Atenção - não significa que as primeiras manifestações foram articuladas de fora para dentro. O início foi de um grupo acima de qualquer suspeita, o MPL (Movimento Passe Livre). Foi a surpreendente adesão de todos os setores, da classe média à extrema esquerda que mostrou que a sede de participação, trazida pelas redes sociais, havia transbordado para as ruas. As manipulações das manifestações passam a ocorrer mais tarde devido à absoluta insensibilidade do governo Dilma e do proprio PT em entender o momento.

É a partir daí que, em contato com a cooperação internacional, começam a ser planejadas as duas grandes operações mundiais anticorrupção do momento: a Lava Jato, que visaria desmontar a quadrilha que se apossou da Petrobras e a do FBI contra quadrilha que se apossou da FIFA e da CBF.

Houve movimentos internos relevantes que antecederam o início do jogo. No bojo das manifestações de 2013 ficou nítida a parceria da Globo com o MPF.

Evidência - Do nada começaram a pipocar cartazes pedindo a derrubada da PEC 37 – que proibia procuradores de realizar investigações por conta própria. Os veículos da Globo passaram a dar cobertura exaustiva à campanha, ajudando na derrubada da PEC. Matérias no Jornal Nacional (http://migre.me/tbj1a e http://migre.me/tbj1I) conferindo dimensão nacional ao movimento. E propondo não apenas derrubar a PEC, como aprovar nova PEC que garantisse explicitamente o poder do MP de investigar (http://mcaf.ee/auivz5).

No mesmo mês de junho de 2013 surge outro fato revelador: o vazamento de informações da NSA (Agência de Segurança Nacional) pelo ex-técnico Edward Snowden.

Na primeira semana, foram vazados documentos de casos internos de espionagem. Depois, a espionagem sobre outros países. Na enxurrada de documentos vazados, fica-se sabendo que a NSA espionava preferencialmente a Petrobras.

De repente, um juiz de 1a instância em Curitiba, Sérgio Moro, tendo como fonte de informação apenas um doleiro, Alberto Yousseff, tem acesso a um enorme volume de informações sobre a Petrobras e consegue nacionalizar um processo regional.

Até hoje a Lava Jato não revelou como chegou às primeiras informações sobre a Petrobras, que permitiram expandir a operação para todo o país.

O que se viu, dali em diante, foram dois dutos de informação montados entre o MPF brasileiro e a cooperação Internacional: o duto da Lava Jato e o duto da FIFA. Pelo duto da Lava Jato vieram informações centrais para o desmantelamento da quadrilha da Petrobras. Já o duto da FIFA ficou obstruído. As informações de lá para cá esbarraram em uma mera juíza de 1a instância do Rio de Janeiro e até hoje não foram destravadas. E as informações daqui para lá não fluíram. Por todas as informações levantadas em Genebra, a Globo era peça central do esquema FIFA-CBF.

Depois disso, a cooperação internacional torna-se instrumento central nas investigações da Lava Jato. Mas nas investigações da FIFA, o braço brasileiro da cooperação internacional falha. A Globo está sendo poupada.

Evidência - A entrevista de Jamil Chade (http://migre.me/tbj35) informa o desagrado do FBI com a demora do MPF em atender às suas solicitações sobre a Globo. Diz ele: “Um dos únicos países que não colabora nesse caso (é o Brasil), ironia total. O craque que montou é brasileiro e parte fundamental atuação foi dos dirigentes brasileiros. O Departamento de Justiça já deixou muito claro ao Brasil que estava muito incomodado com essa falta de colaboração”.

A estratégia midiática da Lava Jato
Um levantamento sobre as intervenções norte-americanas nas Primaveras que sacudiram o Oriente Médio, mostra que todas elas vieram acompanhadas de uma estratégia de comunicação através das redes sociais. E com foco na corrupção e na defesa da democracia.

A Lava Jato foi montada seguindo todo o receituário das Primaveras. Receita pronta, ou recolhida de algum manual ou aulas particulares com especialistas.

1. Acesso a informações críticas sobre a quadrilha que atuava na Petrobras.

2. Identificação de algum inquérito regional que pudesse ser nacionalizado. Não havia nenhum melhor que Sérgio Moro, testado na AP 470 – como assessor da Ministra Rosa Weber – tendo atuado no caso Banestado.

3. Montagem imediata de um aparato de comunicação, contratando assessorias especiais, montando hotsites de maneira a potencializar as denúncias de corrupção. O que foi feito pela Procuradoria Geral da República.,

Outro know-how adquirido foi o da criação de personagens para atuar como polos nas batalhas pelas redes sociais.

Nas eleições de 2010, com seus consultores estrangeiros a campanha de Serra registrou pela primeira vez o uso científico das redes sociais. Criavam perfis fakes, capazes de galvanizar ilhas de influência no Twitter. Havia o jovem curitibano de vinte anos, vítima de uma doença fatal; o músico negro da periferia de São Paulo, capaz das maiores baixarias (aliás, o fato de conferir esse perfil a um músico e negro é indicativo do jogo conservador).

Na Lava Jato, investiram em duas imagens reais. Numa ponta, a imagem evangelizadora de rapaz do bem, o procurador Deltan Dallagnol; na outra, do homem mau, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, uma imagem tão marcadamente detestável que, infelizmente, será a imagem do MPF durante bons anos para grande parte da opinião pública.

Obviamente, não me refiro ao procurador, que nem conheço, mas à imagem propagada. O MPF não tem mais a cara dos procuradores que ajudaram a institucionalizar direitos sociais, democracia, direitos das minorias, a punir os crimes da ditadura. É de Carlos Fernando e seu olhar rútilo, de matador, a nova cara do MPF.

Nas redes sociais e movimentações de rua surgem, da noite para o dia, movimentos como o “Movimento Brasil Livre” e “Estudantes Pela Liberdade”. Constatou-se, com o tempo, que eram financiados pelo Charles Kock Institute, ONG de dois irmãos, Charles e David, herdeiros donos de uma das maiores fortunas dos Estados Unidos.

Os Kock ficaram conhecidos por financiar ONGs de ultradireita visando interferir na política norte-americana (http://migre.me/tbj3w). E tem obviamente ambições de ampliar seu império petrolífero explorando outras bacias fora dos EUA.

Para selar de vez a parceria com a cooperação internacional, o próprio PGR Rodrigo Janot foi aos Estados Unidos comandando uma equipe da Lava Jato para dois eventos controversos.

O primeiro, levar informações da Petrobras para possíveis processos conduzidos pelo Departamento de Justiça contra a estatal brasileira. O segundo trazer de lá informações que explodiram na Eletronuclear, depois de encontro com advogado do Departamento de Justiça ligada a escritório de advocacia que atende o segmento nuclear por lá.

A geopolítica da cooperação internacional
Desde os anos 70, a parceria com ditaduras militares mostrou-se inconveniente para a diplomacia norte-americana. De um lado, pela dificuldade em justifica-la perante a opinião pública liberal norte-americana. De outro, pelo fato dos governos militares terem nítido cunho nacionalista – como se viu com o governo Geisel, no Brasil, ou a ditadura militar argentina deflagrando a guerra das Malvinas.

Gradativamente, a diplomacia e as instituições norte-americana foram mudando o eixo, aproximando-se dos sistemas judiciários nacionais, das polícias federais, de procuradores e estimulando ONGs, especialmente aquelas voltadas para a defesa do meio-ambiente. A internacionalização da Justiça tornou-se um fator legitimador, para fortalecer outro polo de influência nos sistemas nacionais, acima dos partidos e do Congresso.

Tornou-se conhecido o modelo de desestabilização no Oriente Médio com as diversas primaveras nacionais. Insuflava-se a classe média com denúncias de corrupção. Seguiam-se as manifestações de rua que, devido ao clima de catarse criado, descambavam para a violência. Depois, a intervenção de alguma força visando trazer a ordem e implantar a democracia. Foi assim nas ações desastrosas no Iraque, Afeganistão e Líbia – conforme explicou o professor Moniz Bandeira em longa entrevista concedida esta manhã ao GGN. Em todos esses casos, desmontou-se um regime autoritário e deixou-se como herança o caos, a destruição de nações e regimes muito mais restritivos dos direitos individuais, quase todos marcadamente conservadores nos hábitos morais.

O problema está no lado oficial da história. E aí entra o papel da cooperação internacional na nova geopolítica do poder.

Desde a viagem de Janot aos Estados Unidos começamos a desconfiar que os EUA estavam se valendo dessa cooperação para impor suas estratégias geopolíticas.

A Lava Jato não pode mais ser vista como uma operação de investigação isolada. Ela é tudo o que gerou de forma associada, e teve a ajuda central de organismos internacionais – caso contrário jamais teria chegado às quadrilhas que operavam na Petrobras.

Ambos –operadores da Lava Jato e do Congresso - estão umbilicalmente ligados. No plano econômico e social, a contraparte da Lava Jato é a flexibilização da Lei do Petróleo e dos gastos sociais, acabando de vez com o legado social dos últimos governos.

Evidências – as operações de impacto da Lava Jato sempre caíram como uma luva, sincronizadas com as estratégias de impeachment seja no Congresso seja em dobradinha com Gilmar Mendes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Toda a pressão em cima de Dilma têm, do lado político-econômico, a intenção precípua de obter concessões nas áreas de petróleo e de gastos sociais.

No plano social, a Lava Jato conseguiu despertar a comoção popular, o afloramento de uma ideologia da classe média, ultraconservadora e intolerante, muito longe da vitalidade juvenil do MPL. No plano econômico, além da flexibilização da lei do pré-sal e do fim dos gastos sociais obrigatórios, ganhou corpo a criminalização das estratégias de desenvolvimento autóctone – como o avanço diplomático na África e o financiamento às exportações, as políticas de conteúdo nacional (que podem ser liquidadas com o fim da Lei do pré-sal.

Ou seja, não dá para desvencilhar a Lava Jato de todo esse leque de princípios ultraconservadores e ultraliberais. Fazem parte do mesmo pacote político.

Na falta de estudos mais apurados sobre o tema, alguns comentaristas julgaram estar frente a uma dessas teorias conspiratórias que povoa o universo das redes sociais.

No Brasilianas de ontem, o professor Luiz Felipe de Alencastro (recém aposentado da Universidade de Sorbonne) informou que nas últimas semanas, o tema ganhou repercussão nos círculos acadêmicos internacionais.

Em breve, a Lava Jato deixará de ser estudada meramente como uma imensa operação anticorrupção para se transformar em um case sobre as estratégias geopolíticas norte-americanas na era das redes sociais, da globalização e da alta tecnologia.

O presidencialismo de coalizão do MPF
E aí se entram nas questões internas do Ministério Público Federal.

Trata-se de uma organização admirável que, desde a Constituição de 1988, foi protagonista de inúmeros avanços civilizatórios no país.

Com o tempo, algumas de suas maiores virtudes – como a independência de cada procurador – transformaram-se em alguns dos seus maiores problemas. A sucessão de representações contra Lula, partindo de todos os cantos, mostra que, hoje em dia, qualquer procurador que queira participar do jogo político basta pegar um factoide qualquer e transformar em representação, valendo-se do poder que lhe foi conferido pela Constituição. E nada acontecerá com ele, sequer o repúdio dos colegas.

Os procuradores se organizam em grupos, de acordo com suas convicções e áreas de atuação. Há desde grupos envolvidos com direitos humanos até os que atuam na área criminal. E há, também, uma enorme gana de protagonismo político por parte de alguns grupos, de participar de cargos executivos, a exemplo de colegas de MPs estaduais.

Quando Lula sancionou a eleição direta para escolha do PGR, abriu a caixa de Pandora. Os candidatos são indicados pela ANPR (Associação Nacional de Procuradores da República) – que representa apenas uma classe de procuradores e é uma associação sindical, de defesa dos interesses corporativos da classe. Não participam os procuradores estaduais, os dos Tribunais de Contas, os militares.

Recentemente, o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) avançou na questão de permitir que procuradores ocupem cargos no Executivo – hipótese vedada pelo STF.

Na própria campanha eleitoral, os candidatos a PGR vão firmando acordos políticos capazes de viabilizar sua eleição. E, com isso, diluindo poder e capacidade de intervir em abusos.

Em Brasília, há integrantes isentos do Judiciário que defendem Janot, consideram-no uma pessoa equilibrada e responsável. Sustentam que ele perdeu o controle da situação. Ou seja, abriu a caixa de Pandora quando estimulou o vazamento da Lava Jato e agora não conseguiria controlar sua tropa.

Mas há um conjunto de atos e omissões inexplicáveis:

1. A visita aos EUA levando informações da Petrobras e trazendo da Eletronorte.

2. A blindagem ao senador Aécio Neves. Na única vez que conversei com Janot ele assegurou que até abril (do ano passado) daria parecer no inquérito que investiga contas de Aécio em Liechtenstein. Não só não desengavetou como desqualificou três delações sobre ele.

3. A incapacidade de conduzir um inquérito sequer sobre as Organizações Globo.

Será possível que, com a enorme capacidade jurídica acumulada entre seus procuradores mais velhos, com as inúmeras referências de direitos humanos, cidadania, responsabilidade para com o Estado brasileiro, o Ministério Público Federal tenha se transformado em uma corporação dominada pelo sindicalismo?

É a última incógnita desses tempos turbulentos. Todas as demais peças já foram devidamente encaixadas.

terça-feira, março 08, 2016

A questão do câmbio

Evaristo Almeida

Outro dia discutindo com uma coxinha no banco, ela me falou sobre o valor do dólar, acusando Dilma de ter perdido o controle sobre a moeda. Eu lhe disse que o câmbio atual perto de R$ 4,00, deveria estar acima de R$ 7,00 se fosse seguir a taxa que foi entregue ao governo Lula em 2003.

Como nós não temos imprensa que presta, salvo os blogueiros sujos e uma ou outra publicação, os jornalistas coxinhas empregados das oligarquias midiáticas, trabalham contra o país e o governo ao não explicarem o porquê da variação cambial.

Quando Lula pegou o governo no início do ano de 2003, o câmbio estava muito alto por conta das políticas econômicas desastrosas do governo Fernando Henrique. Para quem não lembra a taxa de juros Selic estava em torno de 25% ao ano e o juro real em 11%.

A economia brasileira estava totalmente desestruturada, devendo ao Fundo Monetário Internacional, taxa de risco país acima dos dois mil pontos, alta taxa de desemprego, entre outras desgraças que afligiam o povo brasileiro.

Vamos ao câmbio, as empresas brasileiras estavam fortemente alavancadas em empréstimos em dólar em 2003, vamos imaginar que elas contraíram as dívidas com o dólar valendo R$ 2,00. Um empréstimo de US$ 100 milhões é igual a R$ 200 milhões. Quando o câmbio dobra e vai a R$ 4,00, do dia para a noite a dívida dobra e vai a R$ 400 milhões.

Se essa taxa persistisse muitas empresas brasileiras quebrariam e afundariam ainda mais a recessão.

O governo Lula tomou medidas duras que restabeleceram a confiança na economia brasileira que foram exitosas, fazendo com a economia reagisse e aos poucos a taxa cambial foi caindo, salvando dezenas de empresas, de empregos e fazendo uma das mais fantásticas retomadas econômicas da nossa história.

No ano de 2008 houve uma das mais graves crises econômicas do capitalismo, conhecida como subprime, que quebrou a economia dos Estados Unidos e espalhou o medo pelo mundo inteiro e atingindo fortemente a Europa.

Essa crise, de início ficou restrita ao coração do capitalismo mundial, acabou sendo conduzida aos países emergentes quando afetou a capacidade dos Estados Unidos e da Europa comprarem da China, o que fez com a economia chinesa reduzisse o seu crescimento, afetando as chamadas commodities, principalmente petróleo, soja e minério, que afetou fortemente as economias emergentes como a brasileira.
Outro fato importante foi o aumente da base monetária dos Estados Unidos, que jogou trilhões de dólares na economia para reanimá-la.
Esse processo desvalorizou o dólar e valorizou quase todas as moedas do mundo, inclusive a nossa, afetando a nossa capacidade de exportação.

Nesses anos todos usamos muito o fator cambial como medida para segurar os preços, o que também foi um erro grave da política brasileira nos últimos 20 anos, com exceção no período do final do governo Fernando Henrique, onde o mercado jogou a taxa cambial para a estratosfera, como descrito no início desse artigo.

Com a crise mundial e o fim da injeção de dólar no mercado mundial, o natural é que o dólar se valorizasse como ocorreu.

E o mundo ainda aguarda um aumento da taxa de juros nos Estados Unidos, o que pode elevar ainda mais a taxa cambial.

Mesmo levando em conta a desvalorização que ocorreu, a taxa cambial brasileira, se fosse levado em conta a inflação brasileira no período, subtraindo a inflação estadunidense, a taxa atualmente seria de R$ 7,00.

O câmbio mexe muito com a classe média, pois com a valorização cambial acabou a festa para comprar bugigangas na Flórida. Os turistas brasileiros estavam entre os que mais gastavam nos Estados Unidos.

O mercado interno também tinha sido invadido por produtos estrangeiros, quebrando o balanço de pagamentos do país.

O Brasil não pode de novo cair na armadilha de valorização cambial, como foi principalmente no período de decretação do Plano Real. Isso quebrou a indústria brasileira, pulverizando milhões de empregos de qualidade.

A China manteve o Yuan em 8 por dólar durante 30 anos e com isso se transformou na indústria do mundo.
A desvalorização cambial que ocorreu nesse início do ano é mais do que bem vinda para o Brasil, já estamos exportando bens industriais, mantendo empregos nessas empresas.

O câmbio é coisa muito séria e apesar de frustrar os passeios da classe média na Disneyworld pode ser elemento importante na retomada do crescimento econômico, fator importante para todos os brasileiros e brasileiras.

segunda-feira, março 07, 2016

O capitalismo de compadrio no Brasil e em outros países

Por André Araújo

GGN

O CAPITALISMO QUE TEMOS - O prezado comentarista J.C. Pompeu, a propósito de meu post de ontem sobre a Lava Jato travando a economia, disse que eu aqui defendo o "capitalismo arcaico brasileiro". Pode ser, mas é o capitalismo que temos, não há outro na prateleira para por no lugar.

Um dos defeitos profundos do caráter brasileiro é subestimar o País, nossas coisas e nossas realizações. Tudo lá fora é melhor, segundo essa visão tão arraigada entre brasileiros, especialmente de São Paulo.

É um grave erro de avaliação. O "capitalismo de compadrio" de fato existe no Brasil. Mas existe em MUITO MAIOR escala na China, na Índia, em toda a Ásia, na Rússia, no Oriente Médio, no México, em toda a América Latina.

Existe também com outra roupagem nos Estados Unidos. A diferença lá é a clareza, a explicitude das relações entre empresas e governo, nada é escondido, tudo é a luz do dia, mas as relações do Estado com as empresas não diferem muito do que ocorre aqui. As grandes companhias de armamentos tem fantásticos lobbies em Washington para influenciar o Congresso a alocar verbas no orçamento para seus projetos de novas armas, as doações de campanha são de bilhões mas é tudo legal, usam o modelo do Political Action Committees, onde se doa para comitês pró-causas, sem vincular com candidatos, mas esse dinheiro acaba bancando campanhas que beneficiam um determinado candidato que apoia aquela causa, o valor que as empresas podem doar não tem limite.

O capitalismo só funciona em boas relações com o Poder, não há capitalismo neutro e limpinho em nenhum lugar do planeta, nós não somos tão arcaicos, talvez mais provincianos, com roupa caipira, mas os métodos não mudam muito e tem lugares onde as coisas são muito piores, como na China e na Rússia, o poder do Estado e o poder das grandes corporações se confundem, a mesma coisa na Coreia do Sul, no Japão é mais sutil mas os grupos "pesados" Mitsui, Mitsubishi, Fuji, Sumitomo, Toyota, tem relações profundas com o MITI, o Ministério do Comércio Exterior japonês, operam em conjunto.

Na França a promiscuidade entre Estado e capitalismo é total há séculos, a moda é coordenada pelo Comité Colbert, o armemento é coordenado pela DGA do Ministério da Defesa. Na Inglaterra, em um passado não tão longínquo a Royal Navy era cobradora dos bancos ingleses, os navios da esquadra apontavam canhões para resgatar dívidas, como fizeram em Alexandria em 1882 e na Venezuela no começo do Século XX. Não fazem mais isso mas o espírito é esse, o governo ajuda as empresas sempre, porque as empresas são consideradas socias do Estado e sustentáculo da Nação.

Somos inferiores, sim, em reconhecer o interesse nacional a ponto de queimar numa fogueira da inquisição empresas brasileiras de projeção internacional e agora o maior banco de investimento dos BRICS, o BTG Pactual, que se preparava para resgatar com fundos do banco oficial japonês de fomento o programa de sondas para o pré-sal, o Brasil receberia do Japão mais de US$6 bilhões de dinheiro novo, projeto que levou um ano para preparar, liquidado com a prisão do CEO do banco, sob aplausos da Globo e do Senado brasileiro, suicidas de vocação, esquecendo que quando afunda o navio morrem os marinheiros e também o comandante. Arcaicos são os justiceiros que destroçaram ativos de valor incalculável, o maior dos quais é a imagem do País e de suas empresas no exterior, colocar a sujeira na janela não melhora a reputação da família.

A Itália contra as sete irmãs do petróleo, por André Araújo


ANDRE ARAUJO

GGN

Enrico Mattei, homem que criou e estruturou a estatal ENI, junto com

por André Araújo

Das grandes economias europeias do pós guerra, a Itália era a única que não tinha sua empresa de petróleo, elemento essencial para reerguimento da economia saída da guerra.

Em 1953, mesmo ano de fundação da Petrobras, foi criado o ENTE NAZIONALI IDROCARBURI-ENI, uma empresa estatal para explorar, refinar e distribuir petróleo. O homem que criou e estruturou a ENI foi Enrico Mattei, funcionário do governo italiano, pai da ideia e chefe único da ENI até o dia de sua morte. um idealista que a partir do zero e com vontade que teve a paixão por iniciar essa grande obra até sua morte em um inexplicado explosão de jatinho em 1962, acidente que na época despertou graves suspeitas de assassinato e foi enredo um um famoso filme, O CASO MATTEI.

A economia italiana é de industrialização tardia, como a alemã, mas com características muito específicas. É uma economia de alianças e compadrios políticos, de arranjos entre o público e o privado, onde ao contrário da transparência tão essencial ao capitalismo estruturado anglo-americano, o segredo, a palavra empenhada, o domínio do "capo" são as alavancas que fazem esse economia funcionar e não a construção institucional tão própria de corporações anglo-americanas, uma economia muito parecida com a economia brasileira pré-Lava Jato, uma ação mais entre amigos do que de organograma.

A criação da ENI e sua operação internacional foram consideradas uma agressão ao cartel mundial de petróleo, conhecido como as SETE IRMÃS: Royal Dutch Shell, Anglo Persian Oil Co. (hoje BP), Standard Oil Co.of New Jersey (hoje Exxon), Standard Oil Co. of Califronia (hoje CHEVRON), Standard Oil Co.of New York (depois MOBIL OIL e hoje parte da EXXON), TEXACO (hoje parte da CHEVRON) e GULF OIL (também parte da CHEVRON).

A regra internacional do cartel era dar aos países onde estavam as jazidas um royalty de 27.5% sobre o lucro bruto da exploração, todas davam o mesmo percentual. A ENI chegou oferecendo 50% de royalty, seu primeiro alvo foi a Líbia, depois o Egito, Nigéria, e fez um grande acordo com a SONATRACH, estatal do gás da Argélia. A ENI construiu gasodutos sob o mar Mediterrâneo para trazer gás para a Itália, tinha sua própria empresa de projetos (a SNAM PROGETTI), de consrução (SAIPEM), de gás (LIQUIGAS).

A ação da ENI irritou profundamente as Sete Irmãs que tiveram que acompanhar a ENI, diminuindo seus lucros.

A ENI foi o detonador mas o conjunto do capitalismo italiano que operava com alianças secretas e acordos nunca muito claros sempre irritou profundamente as corporações anglo-americanas que não conseguiam entender como uma economia aparentemente desorganizada conseguia tanto sucesso que na superfície parecia improvável. A Itália tinha excelência em automóveis, tratores, motores diesel (FIAT, Lancia, Ferrari, Alfa Romeo), química (Montecatini), siderurgia (Dalmine), material bélico (Oto Melara), farmacêuticos (Carlo Erba) seguros (Assicurazioni Generali di Triestre i Venezia), helicópteros (Agusta), sem falar nos domínios tradicionais de alimentação, tecidos, moda.

Um exemplo do modelo de capitalismo italiano foi o MEDIOBANCA, um banco de investimentos de Milão montado pelos grandes grupos italianos com participação do Estado, seu fundador foi Enrico Cuccia, um siciliano, tornou-se o mais poderoso banqueiro italiano, nenhum grande negócio se fazia na Itália sem seu apadrinhamento. Assim como Mattei não era dono da ENI, Cuccia não era dono do Mediobanca, mas era o "capo" que todos respeitavam. Foi obrigado a se aposentar aos 70 anos, uma semana depois a esposa implorou que lhe dessem alguma coisa para fazer no banco para que ele não ficasse em casa mofando, deram-lhe a chefia do setor de expedição e correio, o mais humilde do banco.

Dois depois todos se dirigiam a ele e nenhum grande negócio se fechava sem seu consentimento. Porque? No sistema italiano, que vem do Renascimento, o "capo" é um atributo da pessoa e não da instituição, o capitalismo italiano não é institucional e sim pessoal, algo incompreensível para os anglo-americanos, que não suportam um sistema onde não se sabe quem manda pelo cartão de visitas, não é o cargo formal, é o atributo pessoal que faz o poder.

Esse capitalismo dinâmico precisava ser desmontado porque era um ponto fora da curva no sistema global.

Na sequencia veio a operação Mãos Limpas, para colocar o capitalismo italiano nos trilhos do sistema global, com o fim do antigo modelo de "capitalismo pessoal" que serviu a Itália por cinco séculos, a Itália teve o primeiro banco da História, criado pelos Medici em Florença e foi a Itália quem inventou o sistema de partidas dobradas, base da contabilidade até hoje.

A ENI foi privatizada assim como todos os bancos italianos, que eram estatais, a eletricidade, a Montecatini, a navegação, os estaleiros, as holdings poderosíssimas FINMECANICA, com 400 faáricas e a ITLSIDER.

A Mãos Limpas no processo também desmontou o sistema político que sustentava esse capitalismo, deixando a Itália vulnerável a absorção de sua economia pelas grandes corporações anglo-americanas. Depois disso a Itália praticamente estagnou, entrou em decadência política, social e econômica, perdeu importância relativa, o surgimento de um tipo vulgar como Berlusconi no mesmo Parlamento onde despontaram vultos como De Gasperi e Giulio Andreotti (perseguido pelas Mãos Limpas) é um sinal simbólico desse tempos novos de um capitalismo que perdeu sua identidade nacional.

Reflexões sobre o golpe de estado

Tem um vídeo na internet, chamado "O petista, o judeu e o nazismo", que é uma boa reflexão dos tempos em que estamos vivendo. Ele passa como a Globo & CIA estão utilizando os mesmos métodos que Hitler usou para pregar o ódio contra os judeus e o extermínio desse povo, contra os petistas. É muito sério, estão usando o princípio do bode expiatório, em que tudo que ocorre de mal no Brasil é culpa do governo federal e do PT.


Essa campanha dissimulada 24 horas por dia já atingiu boa parte da classe média que destila o ódio contra o PT. Ela é pensada, organizada e usada por toda a grande mídia e a oposição. Segundo René Girard, um pensador francês, que trata a figura de como o bode expiatório era usado nas sociedades antigas para eliminar as contradições dela. Era muito simples, quando a sociedade havia ameaça de ruptura e crise social, se elegia alguém que era acusado de ser o responsável pela crise na qual todos estavam vivendo. Essa pessoa era imolada e com ela a sociedade expiava toda a culpa que nela estava depositada e por um milagre voltava a paz social.

Para isso era preciso o extermínio físico do bode expiatório, ele tinha de ser sacrificado.

Foi o que Adolf Hitler usou contra os judeus na década de 1930 através de uma série de processos, inclusive a propaganda de Joseph Goebbels, que tiravam a condição humana do povo judeu e o responsabilizava pela recessão econômica pela qual a Alemanha passa, muito mais pelo acordo de reparação da primeira guerra mundial, o "Acordo de Versailles", que foi denunciado por Keynes, do que outro motivo qualquer.

É o que a grande imprensa brasileira, junto com o Ministério Público Federal, alguns ministérios estaduais, a Polícia Federal e o judiciário brasileiro, sob a complacência do Supremo Tribunal Federal e partidos da oposição vem fazendo com os Partido dos Trabalhadores e o governo federal.

Desde 2003 o ódio semanal nas páginas da Veja, diariamente na tela Globo, no Estadão, na Folha de São Paulo e na grande mídia, é destilado contra os militantes petistas.

Aproveitaram e jogaram a corrupção da elite brasileira, que se locupletou por mais de 500 anos do Estado brasileiro no colo do PT. E isso é instigado 24 horas por dia, através de colunistas muito bem pagos para disseminar o ódio, a mentira e a perseguição política ao governo federal e ao PT.

A Lava Jato que enganou muito incautos achando que seria a solução para acabar com a corrupção, na verdade quer eternizá-la ao não investigar o roubo dos partidos da direita.

O presidente do PSDB, Aécio Neves apareceu em 3 delações e não houve nem investigação. Fernando Henrique Cardoso também foi delatado pela ex-amante de envio de recurso ao exterior, se proprietário de imóveis em Nova Iorque e Paris, além de outras irregularidades. Está sendo parcialmente investigado, mas assim como o helicóptero cheio de cocaína em Minas Gerais, não há nenhuma perspectiva de alguma conclusão.

Dessa forma, é preciso que tenhamos uma narrativa que possa deslocar essa desconstrução do PT e do governo federal. É preciso combater isso, antes que alguém seja machucado ou até morto.

Várias sedes do Partido dos Trabalhadores foram atacadas e até mesmo o Instituto Lula, que sofreu um ato de terrorismo, com bomba. A mídia e o judiciário não tomaram nenhuma atitude a esse respeito. A imprensa até procurou legalizar esses atos terroristas. Afinal contra o PT tudo se justifica.

Até mesmo o sequestro de Lula, pela Polícia Federal, a mando do juiz Sérgio Fernando Moro. Totalmente ilegal, mas que ganha feições legalistas na Globo News e nos seus colunistas.

Essas ações não podem mais ser toleradas por uma nação democrática e justa.

Afinal todos sabem o que ocorreu com a Alemanha que foi alienada por um psicopata. O mundo pagou um preço muito caro.

O Brasil não pode mais tolerar ações golpistas em nome do combate à corrupção.

Para quê destruir o PT?

Todo o processo contra o PT tem um pano de fundo que é a entrega do pré sal aos Estados Unidos, assim como as empresas de engenharia brasileiras e o nosso mercado.

Para isso ações tem sido feitas para desestabilizar o nosso país, usando efeitos semiótico que tem provocado a destruição de povos como a Ucrânia, em que se incitou o povo contra o governo acusado de corrupto e colocaram no poder um grupo nazifascista.

A CIA dos Estados Unidos usa esse processo para desestabilizar e destruir governos que se negam a ser fantoches desse país.

No nosso país o pré sal é a causa de tudo, não nos iludamos. A mesma embaixadora dos Estados Unidos, que desencadeou o golpe no Paraguai agora é embaixadora no Brasil. Quem garante que juiz, os procuradores, promotores, delegados e outros mais não são teleguiados contra os interesses do povo brasileiro? É muito fácil cooptar gente com o perfil que eles tem.


Principalmente oferecendo mestrado e doutorado em universidades dos Estados Unidos. Lá esse pessoal é capturado e convencido da superioridade ética e moral dos estadunidenses e que o Brasil precisa passar por processos de depuração para ser uma sociedade igual àquela. O que é mentira, pois os Estados Unidos um dia foram uma democracia e atualmente estão em decadência moral e ética. Quem manda nos Estados Unidos são o capital especulativo financeiro, a indústria armamentista, as petroleiras,as farmacêuticas e as fabricantes de sementes transgênicas.


Cerca de 48 milhões de estadunidenses não tem o que comer diariamente. A corrupção foi institucionalizada. Baltimore tem uma das maiores favelas do mundo e há mais pessoas vivendo nas ruas de Nova Iorque do que em São Paulo.


Esse é o modelo de nação que queremos? E as guerras que destruíram o Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia e Iêmen, além dos golpes de estado em Honduras e no Paraguai? E as tentativas de assassinar líderes do mundo inteiro, como ocorreu por mais de 50 anos com Fidel Castro? Isso sem falar nas ditaduras sanguinárias que implantaram por toda a América Latina nos anos 1960 e 1970.


Os Estados Unidos controlam a imprensa mundial, inclusive a brasileira que se transformou em arma mais poderosa do que o Pentágono.

Implantaram um governo fantoche e ditador na Argentina, o Macri, através de processos semióticos, que usam contra a Venezuela e também o Brasil. Esse mês de março vai ser muito difícil no Brasil e eventos inexplicáveis podem ocorrer, pois pelo petróleo brasileiro vale tudo.


Não nos enganemos, essa Operação Lava Jato, provavelmente pode ter sido pensada nos Estados Unidos, e o objetivo é o país voltar a ser colônia de novo, com um fantoche do PSDB no governo, com a mídia e o judiciário pondo debaixo do tapete toda a corrupção, como foi no período de FHC e agora no Estado de São Paulo, com a merenda e em outros estados.

A democracia brasileira corre sério risco, em nome do combate à corrupção querem fazer o Brasil retornar ao período anterior a década de 1930, como fizeram na Itália com a Operação Mão Limpas. Atualmente só a direita ganha eleições na Itália e o país está mais corrupto do que antes dessa operação.

É para isso que querem nos destruir, para implantar uma sociedade socialmente desigual, totalmente autoritária e humanamente controlada.

Querem um povo subjugado, explorado, com suas riquezas indo enriquecer e melhorar a vida dos estadunidenses e dos europeus.

Estamos todos em luta pela democracia. O PT é um instrumento de luta da população brasileira. Pregam o ódio contra nós nos chamando de ladrão ou de milícia petista.

Mas o povo sabe que o PT é o partido mais ético desse país e que sempre lutou pela democracia. Vamos lutar contra um golpe de estado como esse que a grande mídia, parte do judiciário, procuradores e promotores querem impor ao povo brasileiro.

A milícia da Globo & CIA que bradam pelo golpe na Globo News, no Jornal Nacional, no Jornal da Globo, na CBN, no Globo, na Época, na Folha de São Paulo, no Estadão, na Jovem Pan, na Band News e em outros meios reacionários não derrubarão a democracia brasileira.

O mês de março de 2016 não pode repetir aquele trágico março de 1964.

Nele as famílias marinhos, frios, mesquitas junto com os Estados Unidos derrubaram o governo de João Goulart.

Depois ficamos sabendo que quem ordenou o golpe foi John Kennedy, no documentário 'O dia que durou 21 anos".

Temos de fazer uma luta democrática para que daqui a 30 anos não fiquemos sabendo que Barack Obama ordenou o golpe no Brasil.

Democratas de todo Brasil, uni-vos!!!!

Terremoto no Brasil, por Pepe Escobar


7/3/2016, Pepe Escobar, SputnikNews

http://blogdoalok.blogspot.com.br/2016/03/terremoto-no-brasil-por-pepe-escobar.html#more

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Imagine um dos líderes políticos mais admirados em todo o planeta na história moderna arrancado do apartamento onde mora, às 6h da manhã, por agentes armados da Polícia Federal Brasileira, enfiado num carro sem identificação e levado ao aeroporto de São Paulo, para ser interrogado por mais de quatro horas, sobre eventos conectados a um escândalo de corrupção de um bilhão de dólares que envolve a petroleira brasileira Petrobrás.

Desse material se fazem os delírios de Hollywood. E a 'lógica' dos delírios de Hollywood é, exatamente, a 'lógica' por trás de mais essa elaborada produção.

Os procuradores por trás da investigação chamada "Car Wash"[1], que já dura dois anos, não se cansam de repetir que há "elementos de prova" que implicariam Lula, o qual teria recebido fundos – no mínimo, 1,1 milhão de euros – do esquema de corrupção que envolveria grandes empresas de construção conectadas à Petrobrás. As acusações rezam que Lula teria – e é o máximo que se pode dizer: "teria" – sido pessoalmente beneficiado de grande parte desse dinheiro, sob a forma de um sítio (que não pertence ao ex-presidente), um apartamento modesto à beira-mar, de remunerações por palestras no circuito mundial da 'palestragem', de doações à fundação que leva seu nome.

Lula é o mais consumadamente talentoso animal político – em nível Bill Clinton, de competência. Já havia avisado que esperava algum movimento desse tipo, porque a máquina da "Operação Car Wash" já havia prendido dúzia de pessoas suspeitas de manipularem contratos e concorrências comerciais entre suas respectivas empresas comerciais e a Petrobrás – mais de $2 bilhões – para subornar políticos do Workers' Party (WT), ao qual Lula, então presidente da República, era/é filiado.

O nome de Lula surgiu nas investigações, pela boca do proverbial gângster que se torna delator para reduzir a própria pena. A hipótese que ainda se mantém de pé – porque não há prova de nenhuma dessas acusações – é que Lula, quando governou o Brasil, entre 2003 e 2010, ter-se-ia beneficiado pessoalmente do esquema de corrupção que tem no centro a Petrobrás, e que teria obtido favores para si mesmo. Entrementes, a ineficiente atual presidenta Dilma Rousseff também está sob ataque, também por efeito de delação premiada feita pelo ex-líder de seu governo no Senado.

Lula foi interrogado em conexão com acusações por lavagem de dinheiro, corrupção e ocultação de patrimônio. A blitz hollywoodiana foi autorizada pelo juiz federal Sergio Moro – que não se cansa de repetir que se inspira no juiz italiano Antonio di Pietro e a famosa investigação dos anos 1990s Mani Pulite ("Mãos Limpas").

E é aqui que, inevitavelmente, a trama engrossa.

Prenda os que jornais e TVs acusam!

Moro e os procuradores da "Operação Car Wash" justificam a blitz hollywoodiana, com o argumento de que Lula ter-se-ia recusado a comparecer a qualquer interrogatório. Lula e o PT negam veementemente a 'acusação'.

Até agora, repetidas vezes os investigadores da "Operação Car Wash" têm vazado 'informes' e 'declarações' para a grande mídia – jornais, rádios e TVs –, sempre na direção de divulgar a 'notícia' segundo a qual "Até agora só conseguimos morder Lula. Quando o pegarmos, o engoliremos." Significa, para dizer o mínimo, uma politização, com partidarização, da Justiça, da Polícia Federal e do Ministério Público. Implica também que a blitz à moda de Hollywood pode ter autor ativo. A 'notícia' repetida incontáveis vezes no ciclo das 'notícias' da grande mídia-empresa, hoje instantaneamente global, foi que Lula teria sido preso 'porque é corrupto'.

Mas... a coisa vai ficando cada vez mais estranha, quando se descobre que o juiz Moro é autor de artigo publicado numa revista obscura, nos idos de 2004 ("Considerações sobre Mãos Limpas", revista CEJ, n. 26, Julho-Set. 2004). Nesse artigo, Moro prega, claramente, "a subversão autoritária da ordem jurídica para alcançar alvos específicos" e o uso da mídia para intoxicar a atmosfera política.

Claro que tudo isso serve a uma agenda específica. Na Itália, a direita viu a saga das Mani Pulite como excesso vicioso do exercício da justiça; a esquerda, do outro lado, entrou em êxtase. O Partido Comunista Italiano saiu da investigação com as mãos limpas. Mas no Brasil, a operação tomou a esquerda como alvo predefinido antes de qualquer devido processo legal –, e a direita, pelo menos até agora, está sendo mostrada como constituída só arcanjos tocadores de harpa e cantadores de hinos.

O candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2014, por exemplo, herdeiro mimado e cheirador de cocaína Aécio Neves, por exemplo, foi absolvido em três acusações por corrupção, canceladas, pode-se dizer, sem maiores investigações.

O mesmo vale também para outro muito suspeito esquema que envolve o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – conhecido autopromotor dos próprios suspeitos talentos e feitos, ex-desenvolvimentista convertido em empenhado aplicador de política neoliberais.
A impressão que a Operação Lava-Jato já deixou bem fundamente marcada em todo o Brasil é que acusações de corrupção só são investigadas se o acusado for nacionalista progressista. Os vassalos do consenso de Washington são sempre predefinidos como anjos – generosamente imunizados contra acusações, delações e processos.

Está acontecendo como se vê, porque Moro e a equipe dele estão-se servindo empenhadamente da 'tática' que o próprio juiz Moro definiu, de usar a mídia-empresa para intoxicar a atmosfera política, com a opinião pública tornada alvo de manipulação serial, mesmo antes de qualquer acusado ser formalmente acusado de qualquer crime.

Aí está. Já se sabe que Moro e as fontes de que se servem ele e seus procuradores são em enorme medida farsescas, ou trambiqueiros conhecidos, ou mentirosos seriais. Por que, então, tantos parecem acreditar no que eles dizem? Porque não há prova de nenhuma das acusações. Simples. O próprio juiz Moro admite.

E isso nos leva a um quadro terrível: o complexo midiático-judiciário-policial parece ter sequestrado, no Brasil-2016, uma das mais saudáveis democracias do planeta.

Essa ideia encontra corroboração num fato visível para todos. O 'projeto' da oposição de direita no Brasil resume-se a um só objetivo: arruinar a economia da 7ª maior potência econômica do mundo, para, assim, conseguir destruir Lula como candidato á presidência em 2018.

Reina a elite saqueadora

Nada do que acima se lê pode ser compreendido por público global, sem algum conhecimento da Brasiliana clássica. No Brasil, reza a lenda que "o Brasil não é para amadores". Não é mesmo. Trata-se de sociedade espantosamente complexa – que transitou praticamente sem pausa de um Jardim do Éden [a Terra sem Mal, dos guaranis? (NTs)] (antes de a terra ser "descoberta" pelos portugueses em 1500), para a escravidão [que durou 300 anos e ainda permeia todas as relações sociais (NTs)][2]), dali a outro evento crucial, em 1808: a mudança, para o Brasil, de Dom João 6º de Portugal (e imperador vitalício do Brasil), que fugia da invasão napoleônica, arrastando consigo 20 mil nobres portugueses, que lá organizaram o "moderno" estado brasileiro. "Moderno" é eufemismo; a história mostra que descendentes daqueles 20 mil europeus só fizeram saquear o país, ao longo dos últimos 208 anos. Poucos deles algum dia chegaram a ser julgados e condenados.

As elites tradicionais brasileiras compõem uma das misturas mais repugnante-arrogante-ignorantemente preconceituosas e tóxicas de todo o planeta. "Justiça" – e aplicação policial da lei – só se usam como armas quando as pesquisas não favorecem a agenda daquela gente.

E uma parte intrínseca daquelas elites são os proprietários dos veículos da mídia-empresa hegemônica no Brasil. Em grande medida semelhante ao modelo concentracionista que se vê nos EUA, no Brasil apenas quatro famílias controlam toda a paisagem 'midiática', com destaque para a família Marinho, que comanda o império empresarial midiático O Globo. Tenho experiência direta, de dentro, detalhada, de como operam.

O Brasil é estrutura corrompida até o cerne – das elites 'comprador' até largas fatias das "novas" elites, que incluem o Workers' Party. O Partido padece de grave carência de quadros qualificados. Parece inegável que houve e há a corrupção e tráfico de influência envolvendo a Petrobras, construtoras e políticos de vários partidos, embora a coisa nem de longe se possa comparar ao dia a dia do 'relacionamento' de compra-e-venda e suborno de políticos, do tipo Estado & Goldman Sachs, ou Estado & Big Oil e/ou do tipo Estado & Irmãos Koch/Sheldon Adelson nos EUA.

Se o que hoje se vê no Brasil fosse, cruzada sem limites contra a corrupção – que os operadores da Operação Car Wash não se cansam de repetir que seria – a oposição de direita/vassalos das velhas elites também já teriam aparecido nas 'investigações' e já teriam sido expostas nos veículos da mídia-empresa dominante. Mas se aparecessem nomes conectados às velhas elites, a mídia-empresa dominante atentamente zelaria para que não fossem expostos e apagaria completamente do noticiário qualquer investigação em curso.

E jamais haveria, com personagem das elites, a blitz hollywoodiana montada contra Lula – apresentado como delinquente, com vistas a humilhá-lo diante do mundo.

Os procuradores da Operação Car Wash têm razão nisso: a percepção construída pela mídia-empresa passa a ser a realidade. Sim, mas, e se o tiro sair pela culatra?

Consumo zero, investimento zero, crédito zero

O Brasil atravessa situação extremamente difícil. O PIB caiu 3,8% ano passado; provavelmente cairá 3,5% esse ano. O setor industrial encolheu 6,2% ano passado; a mineração, caiu 6,6% no último trimestre. O país caminha na direção da sua pior recessão, desde... 1901.

Não há Plano B – no governo incompetente de Rousseff – para enfrentar a desaceleração da China, quando se reduziram as compras de produtos agrícolas e minérios do Brasil, nem o tropeço global nos preços de commodities.

O Banco Central mantém a taxa de juros em espantosos 14,25%. Um "ajuste fiscal" neoliberal desastroso, tentado pelo governo Rousseff, só aprofundou a crise. Pode-se dizer, usando uma figura de linguagem, que hoje Rousseff "governa" – para o cartel de bancos e os rentistas que lucram com a dívida pública brasileira. Mais de $120 bilhões do orçamento do governo evapora, para pagar juros da dívida pública.

A inflação está subindo – já entrando em território dos dois dígitos. Desemprego está em 7,6% – de fato, muito melhor que em muitos países da União Europeia –, mas aumentando.

Os suspeitos de sempre, claro, festejam, e nunca param de 'analisar' que o Brasil se teria tornado "tóxico" para investimentos globais.

Não há dúvidas de que a coisa está feia. Não há consumo. Não há investimento. Não há crédito. A única saída possível seria esvaziar a crise política. Mas os micróbios que pululam na 'oposição' só têm uma obsessão: o impeachment da presidenta Rousseff.
Pairam sombras da velha tática da "mudança de regime": para aqueles vassalos de Wall Street/EUA "Império do Caos", uma crise econômica, alimentada todos os dias por uma crise política, levará fatalmente, necessariamente, à derrubada do governo eleito naquele país BRICS crucialmente importante.

E então, de repente, do nada, aparece... Lula.

A ação da Operação Car Wash pode, sim, sair pela culatra – e gravemente pela culatra. Lula voltou à liça. Entrou em modo de campanha eleitoral para 2018 – embora ainda não seja candidato oficial. Que ninguém jamais subestime um animal político de tal envergadura.

O Brasil não está nas cordas. Se reeleito, Lula pode expurgar do Workers' Party uma legião de escroques, e imprimir nova dinâmica ao partido e ao país. Antes da crise, o capital brasileiro estava rapidamente se globalizando – via Petrobrás, Embraer, o BNDES (o modelo de banco que inspirou o banco dos BRICS), as grandes construtoras.

Ao mesmo tempo, pode haver vantagens em romper, pelo menos em parte, o cartel oligárquico que controla toda a construção de infraestrutura no Brasil. Para ver as vantagens, basta pensar em empresas chinesas construindo ferrovias para trens de alta velocidade, barragens e portos dos quais o Brasil tão desesperadamente carece.

O próprio juiz Moro teorizou que a corrupção prosperaria, porque a economia brasileira é excessivamente fechada, como foi a Índia até há pouco tempo. Sim, mas... Há enorme diferença entre abrir alguns setores da economia brasileira, e escancarar tudo para que interesses associados às elites comprador estrangeiras saqueiem o país.

E então, mais uma vez, temos de voltar ao tema recorrente em todos os grandes conflitos globais.

É o petróleo, estúpido!

Para o Império do Caos, o Brasil sempre foi grave dor de cabeça desde a primeira eleição de Lula, em 2002 (para avaliação das complexas relações EUA-Brasil, vide o trabalho indispensável de Moniz Bandeira[3]).

Alta prioridade do Império do Caos é impedir a emergência de potências regionais que cheguem abarrotadas de recursos naturais, do petróleo a minérios estratégicos. É o Brasil, descrito em minúcias. Washington como sempre se sente perfeitamente autorizada e legitimada para "defender" recursos que não lhe pertencem. Mas, para tanto, ela não só precisa fazer abortar quaisquer associações de integração regional, como Mercosul e Unasul, mas, sobretudo, tem de impedir que cresça o alcance global dos BRICS.

A Petrobrás sempre foi empresa estatal muito eficiente, que passou a ser também operadora única das maiores reservas de petróleo descobertas, até agora, no século 21: os depósitos do pré-sal. Antes de tornar-se alvo de ataque massivo de especuladores, 'judiciário' brasileiro e mídia-empresas, a Petrobrás gerava 10% dos investimentos e 18% do PIB brasileiro.

A Petrobrás descobriu os depósitos do pré-sal baseada em suas próprias pesquisas e inovações tecnológicas aplicada à busca por petróleo em águas profundas – sem nenhuma participação de outros países, de nenhum tipo. A beleza da coisa está em que não há risco: se você perfura aquela camada de pré-sal, o petróleo ali está. Nenhuma empresa do planeta entregaria essa riqueza à concorrência.

Pois mesmo assim, uma lesma da oposição de direita prometeu à Chevron em 2014 que entregaria a exploração do pré-sal com preferência ao Big Oil. Agora, a oposição de direita trabalha para alterar o regime jurídico do pré-sal; a modificação já foi aprovada no Senado. E Rousseff está cordatamente deixando a coisa evoluir. Para piorar, o governo Rousseff nada fez para recomprar ações da Petrobrás – cuja queda vertiginosa foi espertamente construída pelos suspeitos de sempre.

O desmanche meticuloso da Petrobrás, com o Big Oil eventualmente chegando aos depósitos do pré-sal, para deter e manter parada a projeção do poder global de mais um BRICS, tudo isso casa-se às mil maravilhas com os interesses do Império do Caos. Geopoliticamente, isso é muitíssimo mais importante que blitz hollywoodiana e investigação de Operação Car Wash.

Não é coincidência que as três maiores nações BRICS estejam sendo simultaneamente atacadas – em incontáveis níveis: Rússia, China e Brasil. A estratégia combinada pelos Masters of the Universe que ditam as regras no eixo Wall Street/Av. Beltway [governo dos EUA em Washington] é minar por todos os meios possíveis o esforço coletivo dos BRICS para produzir alternativa viável ao sistema econômico/financeiro global – esse mesmo que, atualmente, está submetido ao capitalismo-de-cassino. É pouco provável que Lula, sozinho, consiga detê-los.*****



[1] Em port. "Operação Lava Jato". Dado que toooooooooooooooodos os jornais da mídia-empresa falam de Lava Jato, optamos por introduzir essa variante, na discussão: Operação Car Wash. O mesmo vale para Workers's Party (WP), para Partido dos Trabalhadores (PT), que optamos por referir em inglês. São ferramentas discursivas q temos de aprender a usar, para reorientar a discussão. Guerra é guerra. Não vai ter golpe. [NTs]
[2] Os dois livros mais importantes sobre essa específica trajetória histórica do Brasil, com sua correspondentemente específica inserção no mundo do capital ocidental são:

– SCHWARZ, Roberto, Um Mestre na Periferia do Capitalismo: Machado de Assis. São Paulo: Duas Cidades, 1990. (3ª ed. São Paulo: Duas Cidades / Ed. 34, 2001), em inglês: A Master on the Periphery of Capitalism: Machado de Assis. Trans. John Gledson. Durham: Duke University Press, 2002); e

– SCHWARZ, Roberto, Ao Vencedor as Batatas: Forma literária e processo social nos inícios do romance brasileiro. São Paulo: Duas Cidades, 1977 (5ª ed., revista. São Paulo: Duas Cidades / Ed. 34, 2000), em ing. Misplaced Ideas: Essays on Brazilian Culture.(Ed. and with an introduction by John Gledson). London: Verso, 1992 [NTs].

[3] MONIZ BANDEIRA, Luiz Alberto. Brasil, Argentina e Estados Unidos: conflito e integração na América do Sul (da Tríplice Aliança ao Mercosul), 1870-2003. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010, 3ª edição revista e ampliada, 669 págs (dentre vários outros títulos todos importantes). O professor Moniz Bandeira é empenhado amigo do Coletivo de Tradutores Vila Vudu, do que muito nos orgulhamos [NTs].