quarta-feira, janeiro 29, 2014

Em Cuba, Dilma discursa durante a II CELAC

Brasil entra em caminho sem volta: que Paris tenha muitos apês charmosos para acolher a todos os omissos

Do blog da Hildegard Angel


Recebo diariamente comentários carregados de ódio contra José Genoíno, que me abstenho de publicar até por vergonha de seu teor, vergonha pelo desequilíbrio e o descontrole dos remetentes. A falta de discernimento, querendo atribuir a este homem combativo todos os males do país. Daí que a prisão não basta. É preciso a morte. A imolação final. A cruz.

É preciso a volta das torturas. Da ditadura. Este, o subtexto das tantas mensagens enviadas.

A que ponto essa mídia manipuladora, essa pseudo esquerda democrática, esse suposto “centrão” levaram o nosso país!

A que abismo a omissão daqueles que poderiam se posicionar, protestar e agir, está levando a nossa Nação.

A quanto estamos chegando com o silêncio dos nossos formadores de opinião influentes, nossos artistas politicamente conscientes e articulados. Os intelectuais, pensadores, jornalistas de porte.

São tão poucos os que ousam falar, se manifestar. Um, dois, três, quatro ou cinco. A pasmaceira, a imobilidade, o acomodamento prevalecem. O Brasil que pensa e raciocina está congelado, em estado de letargia.

Os com bagagem intelectual, política, de memória, conhecimento histórico e político para se manifestar se calam. Certamente envelhecidos, provavelmente acomodados, talvez acovardados, quem sabe desesperançados.

Os jovens de nada sabem. Não viveram a História recente do país. Não lhes deram a chance de saber. Lhes sonegaram o conhecimento nas escolas sobre os fatos. O patriotismo caiu em desuso. Os sonhos globalizaram. Soberania virou palavra empoeirada que se encontra no sótão – se é que ainda existe sótão -, dentro de algum baú – se é que há baú -, no interior de um papel amarelado, se houver ainda alguma folha de papel sobrevivente nessa era digital.

Os velhos sábios não falam. Se calam. Voam para Nova York, refugiam-se em Paris. Precisamos dos velhos, imploramos aos velhos. Falem, reajam!

Não é questão mais de uma posição partidária, trata-se de uma postura de Soberania brasileira, de Pátria, de Estado de Direito.

Triste ver crescer sobre nosso Céu, nossos tetos, nossa alma, nossos ambientes, nossa consciência, a mancha escura da obtusidade, do receio da livre manifestação, do silêncio, do embrutecimento coletivo. Do medo.

Quando eu me vejo, aqui, escolhendo palavras para não resvalar num erro, num equívoco, num excesso que me possa custar a liberdade ou que me valha antipatias graves, retaliações, sinto a gravidade do momento que estamos vivendo.

Quando uma única cidadã de bem não respira a liberdade, a Pátria não está mais livre.

Quem permitiu, por omissão, inoperância, ambições e conveniências políticas que o Brasil caminhasse para trás, chegando a tal retrocesso de consciência, a ponto de apagar os méritos de sua própria História e ao extremo de aclamar a vilania de seus opressores, ainda vai se arrepender demais. Pagará alto preço por isso. Estamos entrando num caminho sem volta. E que Paris tenha muitos apartamentos charmosos para acolher a todos os valorosos omissos.

Perdoai-os, Senhor, por sua omissão

terça-feira, janeiro 28, 2014

Fatores de esperança

Delfim Netto

Há alguns fatores que permitem manter a esperança de termos um 2014 melhor do que foi 2013 para o desenvolvimento brasileiro. Dois desses fatores são externos e três de responsabilidade de nossa própria política econômica.

Fatores externos:

1. A retomada da atividade produtiva da economia americana, ainda a mais poderosa do mundo, que logrou estabilizar o índice de desemprego, “com viés de baixa”. Dá para acompanhar a expectativa da primeira mulher, Janet Yellen, que assumiu a presidência do Federal Reserve, “elegendo” a taxa de 3% de crescimento do PIB dos EUA em 2014. Ela defende, desde sempre, a retirada cautelosa do “afrouxamento monetário”, o que promete menos turbulência nos mercados. Não esconde, também, a ênfase na sustentação do crescimento, sem negligenciar o controle da inflação, evidentemente.

2. A recuperação, apesar de ainda lenta, que se generaliza nos países de porte médio e a expectativa de sustentação do crescimento acima de 7% do gigante chinês, a segunda maior economia mundial, cuja corrente de comércio parece programada para cortes muito modestos.

Fatores internos:

1. A disposição da presidenta Dilma Rousseff em ampliar o diálogo com o setor produtivo num esforço para reconstruir os níveis de confiança indispensáveis entre governo e empresários, que tem resultado no sucesso dos leilões de concessão da infraestrutura. O aumento dessa confiança será decisivo para o desenvolvimento econômico do Brasil em 2014.

2. Mesmo se tratando de um país relativamente fechado do ponto de vista da economia (nossas exportações representam apenas 13% do PIB e as importações 14%), as reações do comércio exterior influenciam as variações da taxa de crescimento do produto brasileiro. Existe uma correlação entre a conjuntura mundial e a nacional: temos mais facilidade para crescer quando aumenta o PIB mundial; as perspectivas mais favoráveis deste ano para as economias dos Estados Unidos e de parte da Europa, além da expectativa de sucesso do “Abenomics” japonês e de queda apenas moderada do comércio exterior chinês, poderão ajudar o crescimento do nosso PIB em 2014.

3. Em 2013, após cinco anos de supervalorização cambial, o “mercado”, de novo, começou a impor a correção do câmbio, o que sugere que a indústria de manufaturados poderá usar melhor, entre 12 e 18 meses, os fatores de que dispõe, ajudando na recuperação do crescimento econômico brasileiro. Entre 2008 e 2013, graças, principalmente, à excessiva valorização cambial (além da carga tributária e dos juros elevados), a política econômica suprimiu alguns bilhões de dólares de demanda externa e interna, retardando dramaticamente o desenvolvimento da indústria de manufaturados nacional.

O Brasil enfrentou dificuldades como os demais países na crise de 2008 e atravessou o seu auge comportando-se relativamente bem, pois continuou crescendo durante os anos de recessão mundial. Desde a Constituição de 1988 vem se empenhando em projetos de inclusão social como raramente em outras ocasiões de nossa história, conseguindo nos governos Lula e Dilma importante redução nos níveis da pobreza e corrigindo para melhor os índices de desigualdade pessoal e regional. Enfim, é um país que mudou de cara, tornou-se diferente no período.

Talvez tenhamos exagerado na política distributiva, sem perceber que esse modelo de crescimento é muito bom para responder ao consumo de hoje, mas se deixarmos de investir fortemente pensando no futuro, o modelo não se sustenta, porque não vai ter consumo amanhã. O crescimento da demanda exigia que simultaneamente chamássemos o setor privado e, com regras claras, permitíssemos às empresas maior participação no desenho das condições de retorno dos investimentos.
Hoje, com melhor conhecimento do regime dos leilões, está sendo possível acelerar os investimentos em rodovias, nos aeroportos, em energia – inclusive petróleo – e até mesmo recuperar o atraso no setor de ferrovias e portuário. Aumenta o investimento privado e traz de volta o investimento público que o Brasil deixou de fazer na infraestrutura nos últimos 30 anos.

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

E-mail: contatodelfimnetto@terra.com.br

Fonte: Carta Capital

Chomsky descreve política interna dos EUA como “pura selvajaria”

Esquerda.Net


Intelectual e ativista diz que os cortes aos programas alimentares para os mais pobres e o fim do auxílio especial aos desempregados é pura loucura e afirma que a desigualdade, hoje, está num nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920. Por Jacob Chamberlain, do CommonDreams.com

Os EUA são um país de um partido, o Partido dos Negócios, diz Chomsky. Foto de tr.robinson / FlickR, licença Creative Commons
Enquanto o Congresso dos Estados Unidos decide, esta semana, se vai manter um subsídio de desemprego de emergência a milhões de americanos ou se vai aprovar as negociações de uma lei agrícola que cortaria milhares de milhões dos programas de vale-refeição, o prestigiado ativista e intelectual Noam Chomsky resumiu, numa entrevista, o ponto a que chegou a política interna dos EUA com apenas duas palavras: ‘pura selvajaria.’

“A recusa de proporcionar um padrão de vida muito mínimo às pessoas que foram apanhadas por esta monstruosidade – é pura selvajaria”, disse Chomsky durante uma entrevista à HuffPost Live. “Não há outra forma de dizer.”

O Washington Post relatou que as atuais negociações da lei agrícola podem levar, na próxima década, à eliminação de 9 mil milhões de dólares no fundo para os selos de comida (food stamps) distribuídos pelo Programa de Assistência Suplementar Nutricional (SNAP), “de acordo com diversos assessores que estão familiarizados com as negociações e que não são autorizados a falar publicamente sobre os detalhes.”

As mudanças iriam diminuir os auxílios para, no mínimo, 800 mil famílias, com cortes de até 90 dólares por mês. “Essa é a última semana de mercearia do mês”, disse a senadora Kirsten Gillibrand ao Washington Post.

O Congresso, controlado pelos republicanos tinha, originalmente, proposto cortes de 40 mil milhões de dólares e o Senado, de maioria democrata, propôs cortes de 4 mil milhões de dólares. A negociação, que tem uma conclusão esperada para a próxima semana, realiza-se dois meses depois de os deputados norte-americanos terem deixado que chegasse ao fim um outro estímulo da SNAP, cortando fundos universais de 5.000 milhões de dólares no financiamento, que acabou com a assistência alimentar de 47 milhões de dólares a beneficiários dos selos de comida, sendo 49% deles crianças.

Fim do subsídio de desemprego de emergência

Se isso não fosse pouco, no mês passado, o Congresso acabou com o subsídio de desemprego de emergência de longo prazo para 1,3 milhões de americanos, uma “linha de vida” para muitos que estavam à procura de empregos há um longo período de tempo e dependiam desses benefícios para sobreviver.

Na terça, o Senado aprovou por pequena margem uma resolução para fazer avançar a lei que irá reinstaurar esses subsídios de desemprego. Mas mesmo que essa lei acabe por ser aprovada pelo Senado, irá enfrentar forte oposição quando chegar à câmara dos representantes dominada pelos republicanos.

“A desigualdade tem sido um sério problema por muito tempo,” disse Chomsky. “Mas a desigualdade, agora, está num nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920... ou até antes. Isso é muito grave.”

Qualquer crescimento nos últimos anos foi para os 2% mais ricos da população, disse Chomsky, acrescentando que uma grande parte da população está a viver abaixo da linha da pobreza, enquanto que no topo da sociedade, os lucros estão a crescer para os ricos.

Contudo, os bloqueios impostos aos programas públicos, que muitos dizem ser essenciais para os pobres dos Estados Unidos, não têm “nada a ver com maçãs podres no Congresso,” disse Chomsky ao HuffPost Live. “São problemas estruturais que tem ligação ao assalto neoliberal à população, não só americana mas mundial, que ocorreu nas gerações passadas. Algumas áreas conseguiram escapar a ele, mas o assalto espalhou-se.”

O partido dos negócios

Chomsky disse ainda: “Anos atrás era costume dizer que os Estados Unidos são um país de um partido – o partido dos negócios – com duas fações, Democratas e Republicanos. Isso já não é verdade. Ainda é um país de um partido – o partido dos negócios – mas só com uma fação. E não é a democrata, são os republicanos moderados. Os chamados Novos Democratas, que são a força dominante no partido Democrático, são o que eram os Republicanos Moderados décadas atrás. E o resto do partido Republicano só tem flutuado para fora espectro.

Publicado na Carta Maior. Tradução de Isabela Palhares, revista por Luis Leiria

Noam Chomsky: democracias europeias entraram em colapso

Falando em Roma, o intelectual e ativista político deu como exemplo o governo do ex-comissário europeu Mario Monti em 2011: “Este político foi nomeado pelos burocratas de Bruxelas e não pelos eleitores”.

Chomsky no Festival de Ciências de Roma: neoliberalismo é "um grande ataque contra a população mundial, o maior ataque ocorrido nos últimos 40 anos".
“As democracias europeias entraram em colapso total, independentemente da cor política dos governos, porque as decisões são tomadas em Bruxelas”, disse este sábado em Roma o linguista e ativista política norte-americano Noam Chomsky.

Numa intervenção durante o Festival das Ciências de Roma, Chomsky advertiu que com a destruição das democracias na Europa dirigimos-nos a ditaduras.

Referindo-se ao país onde se encontrava, sublinhou que a democracia deixou de existir desde que chegou ao governo o ex-comissário europeu Mario Monti em 2011. “Este político foi nomeado pelos burocratas de Bruxelas e não pelos eleitores", disse Chomsky, citado pelo portal de notícias italiano Rai News.

Trata-se porém de um fenómeno que ocorre a nível global.

“Até uma fonte insuspeita, o Wall Street Journal tem escrito que a democracia dos Estados Unidos está à beira do colapso, pois todo o governo, seja de direita ou de esquerda, segue a mesma política”, afirmou, descrevendo o neoliberalismo como "um grande ataque contra a população mundial, o maior ataque ocorrido nos últimos 40 anos".

Vai ter Copa: argumentos para enfrentar quem torce contra o Brasil

Carta Maior

Como a desinformação alimenta o festival de besteiras ditas contra a Copa do Mundo de Futebol no Brasil.


Profetas do pânico: os gupos que patrocinam a campanha anticopa

Existe uma campanha orquestrada contra a Copa do Mundo no Brasil. A torcida para que as coisas deem errado é pequena, mas é barulhenta e até agora tem sido muito bem sucedida em queimar o filme do evento.

Tiveram, para isso, uma mãozinha de alguns governos, como o do estado do Paraná e da prefeitura de Curitiba, que deram o pior de todos exemplos ao abandonarem seus compromissos com as obras da Arena da Baixada, praticamente comprometida como sede.

A arrogância e o elitismo dos cartolas da Fifa também ajudaram. Aliás, a velha palavra “cartola” permanece a mais perfeita designação da arrogância e do elitismo de muitos dirigentes de futebol do mundo inteiro.

Mas a campanha anticopa não seria nada sem o bombardeio de informação podre patrocinado pelos profetas do pânico.

O objetivo desses falsos profetas não é prever nada, mas incendiar a opinião pública contra tudo e contra todos, inclusive contra o bom senso.

Afinal, nada melhor do que o pânico para se assassinar o bom senso.

Como conseguiram azedar o clima da Copa do Mundo no Brasil

O grande problema é quando os profetas do pânico levam consigo muita gente que não é nem virulenta, nem violenta, mas que acaba entrando no clima de replicar desinformações, disseminar raiva e ódio e incutir, em si mesmas, a descrença sobre a capacidade do Brasil dar conta do recado.

Isso azedou o clima. Pela primeira vez em todas as copas, a principal preocupação do brasileiro não é se a nossa seleção irá ganhar ou perder a competição.

A campanha anticopa foi tão forte e, reconheçamos, tão eficiente que provocou algo estranho. Um clima esquisito se alastrou e, justo quando a Copa é no Brasil, até agora não apareceu aquela sensação que, por aqui, sempre foi equivalente à do Carnaval.

Se depender desses Panicopas (os profetas do pânico na Copa), essa será a mais triste de todas as copas.

“Hello!”: já fizemos uma copa antes

Até hoje, os países que recebem uma Copa tornam-se, por um ano, os maiores entusiastas do evento. Foi assim, inclusive, no Brasil, em 1950. Sediamos o mundial com muito menos condições do que temos agora.

Aquela Copa nos deixou três grandes legados. O primeiro foi o Maracanã, o maior estádio do mundo – que só ficou pronto faltando poucos dias para o início dos jogos.

O segundo, graças à derrota para o Uruguai (“El Maracanazo”), foi o eterno medo que muitos brasileiros têm de que as coisas saiam errado no final e de o Brasil dar vexame diante do mundo - o que Nélson Rodrigues apelidou de “complexo de vira-latas”, a ideia de que o brasileiro nasceu para perder, para errar, para sofrer.

O terceiro legado, inestimável, foi a associação cada vez mais profunda entre o futebol e a imagem do país. O futebol continua sendo o principal cartão de visitas do Brasil – imbatível nesse aspecto.

O cartunista Henfil, quando foi à China, em 1977, foi recebido com sorrisos no rosto e com a única palavra que os chineses sabiam do Português: “Pelé” (está no livro “Henfil na China”, de 1978).

O valor dessa imagem para o Brasil, se for calculada em campanhas publicitárias para se gerar o mesmo efeito, vale uma centena de Maracanãs.

Desinformação #1: o dinheiro da Copa vai ser gasto em estádios e em jogos de futebol, e isso não é importante

O pior sobre a Copa é a desinformação. É da desinformação que se alimenta o festival de besteiras que são ditas contra a Copa.

Não conheço uma única pessoa que fale dos gastos da Copa e saiba dizer quanto isso custará para o Brasil. Ou, pelo menos, quanto custarão só os estádios. Ou que tenha visto uma planilha de gastos da copa.

A “Copa” vai consumir quase 26 bilhões de reais.

A construção de estádios (8 bi) é cerca de 30% desse valor.

Cerca de 70% dos gastos da Copa não são em estádios, mas em infraestrutura, serviços e formação de mão de obra.

Os gastos com mobilidade urbana praticamente empatam com o dos estádios.

O gastos em aeroportos (6,7 bi), somados ao que será investido pela iniciativa privada (2,8 bi até 2014) é maior que o gasto com estádios.

O ministério que teve o maior crescimento do volume de recursos, de 2012 para 2013, não foi o dos Esportes (que cuida da Copa), mas sim a Secretaria da Aviação Civil (que cuida de aeroportos).

Quase 2 bi serão gastos em segurança pública, formação de mão de obra e outros serviços.

Ou seja, o maior gasto da Copa não é em estádios. Quem acha o contrário está desinformado e, provavelmente, desinformando outras pessoas.

Desinformação #2: se deu mais atenção à Copa do que a questões mais importantes

Os atrasos nas obras pelo menos serviram para mostrar que a organização do evento não está isenta de problemas que afetam também outras áreas. De todo modo, não dá para se dizer que a organização da Copa teve mais colher de chá que outras áreas.

Certamente, os recursos a serem gastos em estádios seriam úteis a outras áreas. Mas se os problemas do Brasil pudessem ser resolvidos com 8 bi, já teriam sido.

Em 2013, os recursos destinados à educação e à saúde cresceram. Em 2014, vão crescer de novo.

Portanto, o Brasil não irá gastar menos com saúde e educação por causa da Copa. Ao contrário, vai gastar mais. Não por causa da Copa, mas independentemente dela.

No que se refere à segurança pública, também haverá mais recursos para a área. Aqui, uma das razões é, sim, a Copa.

Dados como esses estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso (nas referências ao final está indicado onde encontrar mais detalhes).

Se alguém quiser ajudar de verdade a melhorar a saúde e a educação do país, ao invés de protestar contra a Copa, o alvo certo é lutar pela aprovação do Plano Nacional de Educação, pelo cumprimento do piso salarial nacional dos professores, pela fixação de percentuais mais elevados e progressivos de financiamento público para a saúde e pela regulação mais firme sobre os planos de saúde.

Se quiserem lutar contra a corrupção, sugiro protestos em frente às instâncias do Poder Judiciário, que andam deixando prescrever crimes sem o devido julgamento, e rolezinhos diante das sedes do Ministério Público em alguns estados, que andam com as gavetas cheias de processos, sem dar a eles qualquer andamento.

Marchar em frente aos estádios, quebrar orelhões públicos e pichar veículos em concessionárias não tem nada a ver com lutar pela saúde e pela educação.

Os estádios, que foram malhados como Judas e tratados como ícones do desperdício, geraram, até a Copa das Confederações, 24,5 mil empregos diretos. Alto lá quando alguém falar que isso não é importante.

Será que o raciocínio contra os estádios vale também para a Praça da Apoteose e para todos os monumentos de Niemeyer? Vale para a estátua do Cristo Redentor? Vale para as igrejas de Ouro Preto e Mariana?

Havia coisas mais importantes a serem feitas no Brasil, antes desses monumentos extraordinários. Mas o que não foi feito de importante deixou de ser feito porque construíram o bondinho do Pão-de-Açúcar?

Até mesmo para o futebol, o jogo e o estádio são, para dizer a verdade, um detalhe menos importante. No fundo, estádios e jogos são apenas formas para se juntar as pessoas. Isso sim é muito importante. Mais do que alguns imaginam.

Desinformação #3: O Brasil não está preparado para sediar o mundial e vai passar vexame

Se o Brasil deu conta da Copa do Mundo em 1950, por que não daria conta agora?

Se realizou a Copa das Confederações no ano passado, por que não daria conta da Copa do Mundo?

Se recebeu muito mais gente na Jornada Mundial da Juventude, em uma só cidade, porque teria dificuldades para receber um evento com menos turistas, e espalhados em mais de uma cidade?

O Brasil não vai dar vexame, quando o assunto for segurança, nem diante da Alemanha, que se viu rendida quando dos atentados terroristas em Munique, nos Jogos Olímpicos de Verão de 1972; nem diante dos Estados Unidos, que sofreram atentados na Maratona Internacional de Boston, no ano passado.

O Brasil não vai dar vexame diante da Itália, quando o assunto for a maneira como tratamos estrangeiros, sejam eles europeus, americanos ou africanos.

O Brasil não vai dar vexame diante da Inglaterra e da França, quando o assunto for racismo no futebol. Ninguém vai jogar bananas para nenhum jogador, a não ser que haja um Panicopa no meio da torcida.

O Brasil não vai dar vexame diante da Rússia, quando o assunto for respeito à diversidade e combate à homofobia.

O Brasil não vai dar vexame diante de ninguém quando o assunto for manifestações populares, desde que os governadores de cada estado convençam seus comandantes da PM a usarem a inteligência antes do spray de pimenta e a evitar a farra das balas de borracha.

Podem ocorrer problemas? Podem. Certamente ocorrerão. Eles ocorrem todos os dias. Por que na Copa seria diferente? A grande questão não é se haverá problemas. É de que forma nós, brasileiros, iremos lidar com tais problemas.

Desinformação #4: os turistas estrangeiros estão com medo de vir ao Brasil

De tanto medo do Brasil, o turismo para o Brasil cresceu 5,6% em 2013, acima da média mundial. Foi um recorde histórico (a última maior marca havia sido em 2005).

Recebemos mais de 6 milhões de estrangeiros. Em 2014, só a Copa deve trazer meio milhão de pessoas.

De quebra, o Brasil ainda foi colocado em primeiro lugar entre os melhores países para se visitar em 2014, conforme o prestigiado guia turístico Lonely Planet (“Best in Travel 2014”, citado nas referências ao final).

Adivinhe qual uma das principais razões para a sugestão? Pois é, a Copa.


Desinformação #5: a Copa é uma forma de enganar o povo e desviá-lo de seus reais problemas

O Brasil tem de problemas que não foram causados e nem serão resolvidos pela Copa.

O Brasil tem futebol sem precisar, para isso, fazer uma copa do mundo. E a maioria assiste aos jogos da seleção sem ir a estádios.

Quem quiser torcer contra o Brasil que torça. Há quem não goste de futebol, é um direito a ser respeitado. Mas daí querer dar ares de “visão crítica” é piada.

Desinformação #6: muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, o que é um grave problema

É verdade, muitas coisas não ficarão prontas antes da Copa, mas isso não é um grave problema. Tem até um nome: chama-se “legado”.

Mas, além do legado em infraestrutura para o país, a Copa provocou um outro, imaterial, mas que pode fazer uma boa diferença.

Trata-se da medida provisória enviada por Dilma e aprovada pelo Congresso (entrará em vigor em abril deste ano), que limita o tempo de mandato de dirigentes esportivos.

A lei ainda obrigará as entidades (não apenas de futebol) a fazer o que nunca fizeram: prestar contas, em meios eletrônicos, sobre dados econômicos e financeiros, contratos, patrocínios, direitos de imagem e outros aspectos de gestão. Os atletas também terão direito a voto e participação na direção. Seria bom se o aclamado Barcelona, de Neymar, fizesse o mesmo.

Estresse de 2013 virou o jogo contra a Copa

Foi o estresse de 2013 que virou o jogo contra a Copa. Principalmente quando aos protestos se misturaram os críticos mascarados e os descarados.

Os mascarados acompanharam os protestos de perto e neles pegaram carona, quebrando e botando fogo. Os descarados ficaram bem de longe, noticiando o que não viam e nem ouviam; dando cartaz ao que não tinha cartaz; fingindo dublar a “voz das ruas”, enquanto as ruas hostilizavam as emissoras, os jornalões, as revistinhas e até as coitadas das bancas.

O fato é que um sentimento estranho tomou conta dos brasileiros. Diferentemente de outras copas, o que mais as pessoas querem hoje saber não é a data dos jogos, nem os grupos, nem a escalação dos times de cada seleção.

A maioria quer saber se o país irá funcionar bem e se terá paz durante a competição. Estranho.

É quase um termômetro, ou um teste do grau de envenenamento a que uma pessoa está acometida. Pergunte a alguém sobre a Copa e ouça se ela fala dos jogos ou de algo que tenha a ver com medo. Assim se descobre se ela está empolgada ou se sentou em uma flecha envenenada deixada por um profeta do apocalipse.

Todo mundo em pânico: esse filme de comédia a gente já viu

Funciona assim: os profetas do pânico rogam uma praga e marcam a data para a tragédia acontecer. E esperam para ver o que acontece. Se algo “previsto” não acontece, não tem problema. A intenção era só disseminar o pânico e o baixo astral mesmo.

O que diziam os profetas do pânico sobre o Brasil em 2013? Entre outras coisas:

Que estávamos à beira de um sério apagão elétrico.

Que o Brasil não conseguiria cumprir sua meta de inflação e nem de superávit primário.

Que o preço dos alimentos estava fora de controle.

Que não se conseguiria aprontar todos os estádios para a Copa das Confederações.

O apagão não veio e as termelétricas foram desligadas antes do previsto. A inflação ficou dentro da meta. A inflação de alimentos retrocedeu. Todos os estádios previstos para a Copa das Confederações foram entregues.

Essas foram as profecias de 2013. Todas furadas.

Cada ano tem suas previsões malditas mais badaladas. Em 2007 e 2008, a mesma turma do pânico dizia que o Brasil estava tendo uma grande epidemia de febre amarela. Acabou morrendo mais gente de overdose de vacina do que de febre amarela, graças aos profetas do pânico.

Em 2009 e 2010, os agourentos diziam que o Brasil não estava preparado para enfrentar a gripe aviária e nem a gripe “suína”, o H1N1. Segundo esses especialistas em catástrofes, os brasileiros não tinham competência nem estrutura para lidar com um problema daquele tamanho. Soa parecido com o discurso anticopa, não?

O cataclismo do H1N1 seria gravíssimo. Os videntes falavam aos quatro cantos que não se poderia pegar ônibus, metrô ou trem, tal o contágio. Não se poderia ir à escola, ao trabalho, ao supermercado. Resultado? Não houve epidemia de coisa alguma.

Mas os profetas do pânico não se dão por vencidos. Eles são insistentes (e chatos também). Quando uma de suas profecias furadas não acontece, eles simplesmente adiam a data do juízo final, ou trocam de praga.

Agora, atenção todos, o próximo fim do mundo é a Copa. “Imagina na Copa” é o slogan. E há muita gente boa que não só reproduz tal slogan como perde seu tempo e sua paciência acreditando nisso, pela enésima vez.

Para enfrentar o pessoal que é ruim da cabeça ou doente do pé

O pânico é a bomba criada pelos covardes e pulhas para abater os incautos, os ingênuos e os desinformados.

Só existe um antídoto para se enfrentar os profetas do pânico. É combater a desinformação com dados, argumentos e, sobretudo, bom senso, a principal vítima da campanha contra a Copa.

Informação é para ser usada. É para se fazer o enfrentamento do debate. Na escola, no trabalho, na família, na mesa de bar.

É preciso que cada um seja mais veemente, mais incisivo e mais altivo que os profetas do pânico. Eles gostam de falar grosso? Vamos ver como se comportam se forem jogados contra a parede, desmascarados por uma informação que desmonta sua desinformação.

As pessoas precisam tomar consciência de que deixar uma informação errada e uma opinião maldosa se disseminar é como jogar lixo na rua.

Deixar envenenar o ambiente não é um bom caminho para melhorar o país.

A essa altura do campeonato, faltando poucos meses para a abertura do evento, já não se trata mais de Fifa. É do Brasil que estamos falando.

É claro que as informações deste texto só fazem sentido para quem as palavras “Brasil” e “brasileiros” significam alguma coisa.

Há quem por aqui nasceu, mas não nutre qualquer sentimento nacional, qualquer brasilidade; sequer acreditam que isso existe. Paciência. São os que pensam diferente que têm que mostrar que isso existe sim.

Ter orgulho do país e torcer para que as coisas deem certo não deve ser confundido com compactuar com as mazelas que persistem e precisam ser superadas. É simplesmente tentar colocar cada coisa em seu lugar.

Uma das maneiras de se colocar as coisas no lugar é desmascarar oportunistas que querem usar da pregação anticopa para atingir objetivos que nunca foram o de melhorar o país.

O pior dessa campanha fúnebre não é a tentativa de se desmoralizar governos, mas a tentativa de desmoralizar o Brasil.

É preciso enfrentar, confrontar e vencer esse debate. É preciso mostrar que esse pessoal que é profeta do pânico é ruim da cabeça ou doente do pé.

(*) Antonio Lassance é doutor em Ciência Política e torcedor da Seleção Brasileira de Futebol desde sempre.

Mais sobre o assunto:

A Controladoria Geral da União atualiza a planilha com todos os gastos previstos para a Copa, os já realizados e os por realizar, em seu portal:


Os dados do orçamento da União estão disponíveis na proposta orçamentária enviada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso.

O “Best in Travel 2014”, da Lonely Planet, pode ser conferido aqui.

Sobre copa e anticopa, vale a pena ler o texto do Flávio Aguiar, “Copa e anti-copa”, aqui na Carta Maior:

Sobre o catastrofismo, também do Flávio Aguiar: “Reveses e contrariedades para a direita”, na Carta Maior.

Sobre os protestos de junho e a estratégia da mídia, leiam o texto do prof. Emir Sader, "Primeiras reflexões".

Relatório D.C. - Desigualdade

Brasil Econômico

Rogerio Studart (rogerio.studart@brasileconomico.com.br)

Causou certa surpresa, em algumas pessoas, que a desigualdade tenha sido um tema central para Davos

Afinal, dirão alguns, cinicamente, a maioria dos que ali estavam até podem ter preocupações humanitárias com a pobreza e a privação da maioria da humanidade. Mas, por que, para eles, a desigualdade seria um tema tão crucial? O fato é que a desigualdade não é somente um problema ético, mas também pode ser uma ameaça à sustentabilidade de qualquer regime econômico e político. E, no momento em que todas as nações buscam reestabelecer o caminho do crescimento sustentado e da coesão social, o tema não poderia ser mais pertinente. Consideremos dois casos paradigmáticos: o dos Estados Unidos e o da China.

Nos Estados Unidos, nas duas décadas que precederam a crise de 2008, pelo menos três fatores contribuíram para a redução da igualdade. Por um lado, os 1% mais ricos se beneficiaram direta ou indiretamente de uma globalização liderada especialmente pelas finanças internacionais. Enquanto isso, a renda real dos mais pobres cresceu pouco, estagnando-se a partir do começo da década - um fenômeno associado, por um lado, à perda de dinâmica da demanda por trabalho, na medida em que grande parte da produção manufatureira se transfere (ou se "terceiriza") para a China; e, por outro, à retração de poder dos segmentos organizados da classe trabalhadora.

Já na China, assim como em outras economias em desenvolvimento em transição para o capitalismo, o enriquecimento acelerado dos novos empresários era tido como uma fase necessária do processo - algo similar à visão que prevaleceu no Brasil do milagre sobre a conveniência de esperar o bolo crescer para depois distribuir.

Nesses dois países, fenômeno do aumento da desigualdade não gerou conflitos ou perda de coesão social por pelo menos duas razões. Nos Estados Unidos, a expansão acelerada do acesso ao crédito, muito superior ao crescimento dos salários, não só permitiu a expansão do consumo de bens e serviços, como foi mesmo uma das razões centrais da bolha imobiliária - a qual, por sua vez, mantinha aquecida a demanda por empregos, mesmo que estes fossem de baixa qualificação e baixa remuneração.

Em suma, se os 40% mais pobres não estavam ganhando mais, o acesso ao crédito permitia um padrão de vida relativamente alto, ou estável. Na China, o acelerado crescimento do emprego, especialmente nas áreas urbanas, permitiu uma redução impressionante da pobreza absoluta. Some-se a isto o fato de o país possuir um regime de controle político (e econômico), e podemos entender como manteve-se uma certa tranquilidade social ao longo de um dos mais impressionantes processos de concentração de renda e riqueza.

A crise de 2008 mudou tudo isso. Para começar, gerou o desmonte do esquema de expansão do setor financeiro e iniciou um processo de retração do financiamento. Nos Estados Unidos, não fora a intervenção sem precedente do banco central americano, o Fed, esse processo teria gerado uma enorme deflação dos preços de ativos (especialmente no setor imobiliário), um crescimento muito rápido da inadimplência e uma quebradeira generalizada. Na China, por sua vez, o impacto da crise da demanda global só foi evitado por políticas contracíclicas igualmente ousadas, cujo foco central foi a elevação do investimento em infraestrutura e capacidade produtiva.

Neste momento da crise, a desigualdade volta a se tornar um tema central. Nos Estados Unidos, por um lado, a forte intervenção contracíclica não evitou o aumento do desemprego e a deterioração da remuneração paga aos setores do mercado de trabalho menos qualificados - e, portanto, um aumento da pobreza (sim, pobreza!) na maior economia do planeta.

A recuperação norte-americana recente tem se dado pelo aumento do investimento em novas fronteiras de energia e pela pequena recuperação do mercado imobiliário. Mas se isto é suficiente para dar novo folego, não basta para reduzir de forma significativa o desemprego estrutural, que por sua vez ameaça a recuperação - tendo em vista que o consumo continua sendo, de longe, o principal determinante da demanda agregada. Além disto, o aumento da desigualdade e o crescimento do desemprego entre jovens ameaçam o desempenho de longo prazo, já que os jovens (que hoje estão desempregados e sem treinamento) são evidentemente a principal fonte de produtividade e competividade desta economia no futuro.

Na China, já está evidente que não há muito mais espaço para manter o crescimento de dois dígitos simplesmente com políticas anticíclicas baseadas no investimento. Afinal, mesmo em um capitalismo de Estado, uma acumulação tão acelerada de capacidade produtiva, num ambiente de crescimento fraco da demanda global, gera desincentivos ao investimento. Essa talvez seja a principal razão econômica para o governo chinês estar procurando ampliar rapidamente o seu mercado doméstico. Para isso, a redução da desigualdade é fundamental.

Mas a China vive um dilema: parte da sua competitividade se calca nos salários relativamente baixos, e o aumento da produtividade do trabalho vai ser fundamental nessa transição para uma economia de consumo de massa. Sem dúvida isto explica o investimento que se está fazendo em inovação e treinamento da força de trabalho:

A redução da desigualdade é portanto essencial para a recuperação da economia desses dois países, e portanto da economia global. Mas também é fundamental para evitar tensões sociais, exacerbadas pela crise nos mercados de trabalho. E perda de estabilidade política, todos em Davos sabem, gera riscos significativos para o mundo dos negócios. Não por outra razão, no relatório produzido pelos organizadores de Davos sobre Riscos Globais (www.weforum.org/reports/global-risks-2014-report), o aumento do desemprego estrutural e o crescimento da desigualdade aparecem como, respectivamente, o segundo e o quarto entre os dez riscos mais preocupantes da atualidade.

Neste momento que o tema da desigualdade extrapola as considerações éticas e morais, por coincidência, o programa Bolsa Família comemora dez anos de existência. O Banco Mundial organiza aqui, em Washington, um seminário em torno do programa. Participará a atual ministra do desenvolvimento social e combate à fome, Teresa Campello, que fez parte do grupo de trabalho que desenhou o programa.

Ela nos enviou dados impressionantes (e comoventes) sobre o impacto do Bolsa Família que vão muito além da queda da desigualdade - por exemplo: a redução em 40% da mortalidade infantil entre 0 e 5 (20% atribuível ao programa); a queda de 37% de 2008 e 2012 da desigualdade educacional entre os estudantes 20% mais pobres e os demais; a redução em 58% de mortes por desnutrição, nos municípios com alta cobertura; e assim por diante.


Para o público do Banco Mundial bastariam esses dados para justificar o programa. Para o público de Davos, poderíamos lembrar seus efeitos sobre a demanda agregada e a vitalidade dos mercados de trabalho e de bens. Ambos os públicos sabem das dificuldades e desafios que temos pela frente, mas sabem que aprender com a nossa experiência é fundamental para curar um mundo cada mais injusto socialmente, e economicamente mais frágil e incerto.

sexta-feira, janeiro 24, 2014

Falta uma 'nova classe rica' para atender à nova classe média

Há ainda um segmento empresarial arcaico, sobretudo ligado ao rentismo e pouco chegado ao trabalho, que fica apenas procurando números nas contas nacionais para criticar


O colunista Joe Nocera, do jornal The New York Times, fez um rolezinho no Brasil, e gostou do que viu: uma classe média emergente na última década que, para ele, deveria ser modelo para os Estados Unidos, onde ocorre o inverso, com a classe média decaindo. Contou que ouviu de economistas brasileiros críticas sobre o crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB) e que faltariam ganhos em produtividade para sustentar a volta dos investimentos. Não saiu convencido destas críticas, já que a economia mundial nem se reergueu ainda, mas o Brasil continua ostentando um crescimento sólido, mesmo que em ritmo menor.

Em sua coluna escreveu elogios ao Brasil sobre a queda na desigualdade de renda, o baixo desemprego e mais de 40 milhões de pessoas saindo da pobreza. O artigo conclui que a prosperidade da classe média é mais importante do que o crescimento maior do PIB para poucos, como na era do "fazer o bolo crescer, para depois dividir as migalhas".

O artigo é pertinente porque lembra também a questão: afinal quem é o verdadeiro "vilão" no crescimento menor do PIB?

Certamente a crise internacional tem seu peso, afinal quase todos os países estão importando menos, prejudicando o setor exportador. Por outro lado, houve também desova da produção encalhada em países em crise, aumentando a concorrência de importados no mercado interno. Mas não é só isso.

Qualquer empresário sabe que o principal fator de sobrevivência da empresa é ter clientes. Ele pode ter um excelente produto, bons preços, um ótimo estabelecimento, mas, sem clientes, as portas fecham. E a chamada nova classe média, aquela que teve maior aumento da renda nos últimos anos e passou a ter poder aquisitivo para consumir mais coisas, são os clientes que os empreendedores precisam.

Muitos empresários responderam bem aumentando a oferta para atender a demanda desta nova classe média que injeta mais de R$ 1 trilhão na economia por ano. O número de abertura de pequenas empresas, a maioria no setor de serviços, bate recordes. E como há clientes, elas têm sobrevivido. Em 2002 a taxa de mortalidade empresarial era de quase 50% até o segundo ano, de acordo com estudo do Sebrae. Caiu para 22% em 2005.

Vários grandes empresários também estão aproveitando as oportunidades. É o caso de Luiza Trajano, do Magazine Luiza. Convidada para o programa Manhattan Connection, do canal de TV Globonews, demoliu uma a uma as críticas rastaqueras à economia, comuns entre jornalistas da mídia tradicional, mostrando que setores da economia, como o varejo, estão bombando no Brasil.

Mas há ainda um segmento empresarial arcaico, sobretudo ligado ao rentismo e pouco chegado ao trabalho, que se enxergar pepitas de ouro ao lado de uma poça d'água, em vez de garimpar, prefere ficar reclamando do governo pela poça. É essa gente que é incapaz de oferecer à nova classe média o que ela quer, e fica apenas procurando números nas contas nacionais para criticar. Alguns chegam a sugerir aumento do desemprego, outros como os donos da Rede Globo, em editorial do jornal pedem o fim de ganhos reais no salário mínimo, o que levaria a renda de milhões de famílias a perder poder aquisitivo, e empresas a perder clientes.

No crescimento do PIB, desde a crise internacional, o consumo das famílias, quase sempre, tem contribuído mais do que a formação bruta de capital fixo, à exceção de 2013. Traduzindo: a nova classe média está fazendo sua parte pelo lado da demanda para o PIB crescer, já uma parte da classe rica empresarial não está correspondendo nem para aproveitar as oportunidades.

As políticas econômicas governamentais nos últimos dez anos levou ao crescimento do emprego, da renda das famílias e, consequentemente, do mercado interno. Essa nova classe média deu ao empresariado o principal fator de sobrevivência para a empresa, a clientela. Falta uma "nova classe rica", mais empreendedora e menos rentista, para suprir essa nova classe média pelo lado da oferta, para o PIB crescer mais.

terça-feira, janeiro 21, 2014

O PSDB e a barbárie nos EUA e Europa

Por Altamiro Borges

O jornal francês Le Monde publicou neste sábado (18) um denso artigo sobre a brutal regressão social nos EUA e na Europa. Assinado por Alan Frachon, o texto tem um título emblemático: “Capitalismo retorna aos anos 1920”. Nesta semana, outros veículos também noticiaram o aumento da miséria e do desemprego no mundo. Já o renomado intelectual Noam Chomsky advertiu que a barbárie impera nos EUA em decorrência das políticas de choque impostas pela oligarquia financeira. Mesmo com estes dados aterrorizantes, os tucanos nativos insistem em defender o mesmo receituário neoliberal que devasta a Europa e os EUA e pregam o retorno à era destrutiva de FHC, com a candidatura cambaleante de Aécio Neves.

No artigo do Le Monde, Alan Frachon faz uma “triste constatação”: “Os Estados Unidos se tornaram uma sociedade corroída pela desigualdade de renda. A da imensa classe média não aumenta há mais de 30 anos, e somente cerca de 10% da população recebe a maior parte dos frutos do crescimento”. Ainda segundo o autor, a “grave patologia” também se manifesta em outras nações capitalistas. “A maior parte das economias ocidentais vem passando por um crescimento vertiginoso da desigualdade de renda”. Frachon evita criticar a chamada “globalização” neoliberal, comandada pela oligarquia financeira, e até responsabiliza os “países emergentes”, que cresceram no vácuo da crise dos impérios capitalistas.

Mesmo assim, a sua conclusão é de que o modelo seguido pelos chamados países desenvolvidos representa um grave retrocesso e pode levar o sistema capitalista ao caos, como na grande depressão de 1929. “A participação dos salários no PIB não parou de diminuir em 30 anos, período durante o qual a classe média só conseguiu manter seu nível de vida se endividando. No topo não há crise, e sim concentração de fortuna. Em 2012, os 10% mais ricos dos americanos teriam dividido entre si quase metade da renda nacional, e os do famoso 1% da pirâmide, cerca de 22%. São números sem precedentes, salvo o ano de 1928, e que alteram profundamente o perfil social dos Estados Unidos”.

Chomsky fala em “pura selvageria”
Com uma visão mais crítica e anticapitalista, o renomado intelectual Noam Chomsky resumiu nesta semana a trágica situação dos EUA em apenas duas palavras: “Pura selvageria”. Em entrevista a Jacob Chamberlain, ele criticou o intento do Congresso ianque de promover cortes no seguro-desemprego e no programa de vale-refeição. “A recusa de proporcionar um padrão de vida mínimo às pessoas que vivem nessa monstruosidade é pura selvageria. Não há outro jeito de dizer”, afirmou, revelando toda a sua indignação e revolta. O corte no subsídio à alimentação prejudicará mais de 800 mil famílias no país; já a redução do seguro-desemprego emergencial afetará 1,3 milhões de trabalhadores estadunidenses.

Estas medidas regressivas e desumanas visam garantir maior austeridade fiscal, conforme exigência do 1% de ricaços que mandam nos EUA. Para Chomsky, elas revelam a gravidade da regressão social no império. “A desigualdade, agora, está num nível nunca antes visto, pelo menos, desde 1920... ou até mais antigamente. Isso é muito grave... São problemas profundamente estruturais que têm conexão com o assalto neoliberal à população, não só americana, mas mundial, que ocorreu na geração passada”. Para ele, o país é governado por um único partido – “o partido do negócio”, do grande capital, sem maiores diferenças entre os Democratas e os Republicanos.

13 milhões na pobreza no Reino Unido
A “pura selvageria” neoliberal criticada por Chomsky também se manifesta em outras partes do mundo. Segundo reportagem de Marcelo Justo, no sítio Carta Maior, a pobreza já vitima 13 milhões de pessoas no Reino Unido e cresce a procura por bancos de alimentos no império que deu origem ao capitalismo. “Em 2011-2012, 128.697 pessoas recorreram a estes bancos. Em 2012-2013, a cifra quase triplicou: 346.992. Já há mais de 400 bancos de alimentos no país... Com um duro plano de austeridade que está socavando lentamente o Estado de Bem-Estar Social, salários estagnados, explosão do emprego temporário e de meio turno, muitos têm que recorrer aos bancos de alimentos das ONGs no Reino Unido”.

“Há muita gente que come uma vez ao dia ou tem que escolher entre comer e acionar a calefação em pleno inverno”, explicou ao jornalista um diretor da ONG Trussel Trust. Ainda segundo o organismo, “um de cada cinco britânicos se encontram hoje em situação de pobreza relativa ou absoluta. ‘É fácil esquecer que se pode cair muito rápido nesta situação. Uma demissão, uma conta muito alta de eletricidade, uma redução dos benefícios sociais, um drama familiar e essas pessoas ficam sem nada’”. O desemprego hoje atinge 2,5 milhões de britânicos (taxa de 7,7%) e quase um milhão e meio de pessoas tem trabalhos de meio turno e com salários baixíssimos.

Recorde de desemprego na Itália
Já na Itália, a Agência Reuters publicou em dezembro um estudo que revela que “a pobreza chegou ao nível mais elevado em pelo menos 16 anos como resultado da crise econômica que provocou aumento do desemprego e redução do valor dos salários”. A pobreza relativa hoje afeta 12,7% das famílias italianas, conforme o relatório do instituto de estatísticas Istat. “O estudo, um compêndio de dados abrangendo itens como emprego e demografia, assinala que a pobreza se aprofundou em todas as regiões entre 2011 e 2012. A pobreza relativa passou de 4,9 para 6,2% no rico norte da Itália, e de 23,3 para 26,2% no sul, a área mais pobre do país”.

“O relatório apresenta um quadro sombrio do impacto da pior recessão do pós-guerra, com níveis recordes de desemprego, renda arrochada e o declínio dos empregos permanentes e de período integral. ‘Como um dos países mais afetados pela crise, a Itália registrou declínio progressivo nos principais indicadores macroeconômicos e sociais’, diz o ministro do Trabalho e ex-chefe do Istat, Enrico Giovannini, no prefácio do estudo”. O desemprego se encontra no seu maior nível desde o fim dos anos 1970. “A taxa total era de 12,5% em outubro, de acordo com as últimas cifras da Istat, mas alcançava 41,2% entre os jovens”. Mesmo assim, o governo neoliberal da Itália ainda planeja desmontar as leis trabalhistas do país.

A receita regressiva do PSDB
Neste cenário de barbárie capitalista, o cambaleante presidenciável do PSDB, o senador Aécio Neves, ainda insiste em propor austeridade fiscal, com cortes nos gastos sociais, e redução da carga tributária – o mesmo receituário regressivo e destrutivo aplicado nos EUA e na Europa. Alguns dos seus conselheiros também pregam o fim da política de valorização do salário mínimo e a adoção de medidas de redução do crédito. Chegam a afirmar que os altos índices de emprego e a melhora da renda dos assalariados geram “pressões inflacionárias”. Talvez os tucanos sonhem com um Brasil semelhante aos EUA e Europa - paraíso dos banqueiros e inferno dos trabalhadores.

*****

segunda-feira, janeiro 20, 2014

China e EUA, uma volta a 1914?

Joseph S.* – Project Syndicate/O Estado de S.Paulo
Este ano marca o centenário de um evento transformador da história moderna: a 1ª Guerra, que matou cerca de 20 milhões de pessoas e pulverizou uma geração de jovens da Europa e mudou fundamentalmente a ordem internacional.

A 1ª Guerra não acabou somente com vidas, mas destruiu também três impérios na Europa – o alemão, o austro-húngaro e o russo. Até o conflito mundial, o equilíbrio global de poder estava centrado na Europa; depois, EUA e Japão despontaram como grandes potências. A guerra também precipitou a Revolução Bolchevique, de 1917, preparou o caminho para o fascismo e intensificou e ampliou os confrontos ideológicos que arruinaram o século 20.

Como pôde ocorrer semelhante catástrofe? Pouco após o início da guerra, quando pediram para o chanceler alemão, Theobald von Bethmann-Hollweg, explicar o que havia acontecido, ele respondeu: “Oh, se ao menos eu soubesse!” Talvez no interesse da autojustificativa, ele tenha considerado inevitável a guerra. O chanceler britânico, Edward Grey, igualmente argumentou que veio “a pensar que nenhum indivíduo humano poderia tê-la evitado”. A questão que enfrentamos hoje é se ela poderia tornar a acontecer.

Margaret MacMillan, autora do interessante livro The War that Ended Peace (A Guerra que Acabou com a Paz, em tradução livre do inglês) argumenta que “é tentador – e sensato – comparar a relação atual entre China e EUA com a que havia entre Alemanha e Grã-Bretanha um século atrás”. Após traçar uma comparação similar, The Economist conclui que “a semelhança mais preocupante entre 1914 e agora é a complacência”. E alguns cientistas políticos, como John Mearsheimer, da Universidade de Chicago, argumentaram que “em poucas palavras: a China não pode ascender pacificamente”.

Mas as analogias históricas, embora ocasionalmente úteis para fins de prevenção, tornam-se perigosas quando transmitem uma sensação de inevitabilidade histórica. A 1ª Guerra não era inevitável. Ela também ficou mais provável pelo poder ascendente da Alemanha e pelo temor que isso causou na Grã-Bretanha. Mas também se tornou mais provável pela resposta tímida que a Alemanha deu ao poder ascendente da Rússia, além de uma porção de outros fatores, entre os quais, erros humanos. Hoje, porém, a diferença de poder geral entre EUA e China é maior do que entre Alemanha e Grã-Bretanha em 1914.

Para tirar lições contemporâneas de 1914, é preciso descartar os muitos mitos que foram criados sobre a 1ª Guerra. Por exemplo, a afirmação de que ela foi uma guerra preventiva e deliberada, por parte da Alemanha, é contrariada por evidências mostrando que as elites decisivas não acreditavam nisso. A 1ª Guerra não foi puramente acidental, tampouco, como outros sustentam: a Áustria foi à guerra deliberadamente para conter a ameaça do nacionalismo eslavo em ascensão. Houve erros de cálculo sobre a extensão e profundidade da guerra, mas isso não é o mesmo que uma guerra acidental.

Também se diz que a guerra foi causada por uma corrida armamentista descontrolada na Europa. Mas a corrida armamentista naval terminou em 1912 – e a Grã-Bretanha venceu. Embora houvesse receio na Europa sobre a força crescente de exércitos, a visão de que a guerra foi ocasionada diretamente pela corrida armamentista é fácil.

O mundo de hoje é diferente do mundo de 1914 de muitas maneiras importantes. Uma é que as armas nucleares deram a líderes políticos o equivalente a uma bola de cristal que mostra como ficaria seu mundo após a escalada. Talvez se o kaiser e o czar tivessem tido uma bola de cristal mostrando seus impérios destruídos e seus tronos perdidos em 1918, eles teriam sido mais prudentes em 1914. O efeito bola de cristal seguramente teve uma forte influência em líderes americanos e soviéticos durante a crise dos mísseis de Cuba. E provavelmente teria uma influência similar em líderes americanos e chineses hoje.

Outra diferença é que a ideologia da guerra é muito mais fraca hoje em dia. Em 1914, a guerra era realmente considerada inevitável, uma visão fatalista reforçada pelo argumento social-darwinista de que a guerra deveria ser bem-vinda, porque “limparia o ar” como uma boa tempestade de verão. Como escreveu Winston Churchill em A Crise Mundial: “Havia uma estranha índole no ar. Insatisfeitas com a prosperidade material, as nações se voltaram ferozmente para a luta, interna e externa. Paixões nacionais, indevidamente exaltadas no declínio de religião, ardiam abaixo da superfície de quase todo país com ferozes, embora ocultos, incêndios. Quase se podia pensar que o mundo desejava sofrer. Por toda parte, os homens estavam seguramente ansiosos para ousar.”

Hoje, na China, há um claro crescimento do nacionalismo, enquanto os EUA lançaram duas guerras após os ataques de 11 de setembro de 2001. Mas nenhum dos dois países é belicoso ou complacente com uma guerra limitada. A China ambiciona um papel maior em sua região e os EUA têm aliados regionais comprometidos com a defesa dos parceiros. Erros de cálculo são sempre possíveis, mas o risco pode ser diminuído com escolhas políticas acertadas. Aliás, sobre muitas questões – por exemplo, energia, mudanças climáticas e estabilidade financeira – China e EUA têm fortes incentivos para cooperar.

Além disso, enquanto a Alemanha em 1914 estava nos calcanhares da Grã-Bretanha (e a havia ultrapassado em termos de poderio industrial), os EUA continuam décadas à frente da China em tudo: recursos militares, econômicos e poder brando. Uma política excessivamente aventureira colocaria em risco os ganhos da China em casa e no exterior. Em outras palavras, os EUA têm mais tempo para administrar suas relações com uma potência ascendente do que a Grã-Bretanha tinha há um século. Um excesso de medo pode se autoalimentar. Se EUA e China administrarão bem a sua relação é outra história. Mas a maneira como eles o farão será ditada por escolha humana – e não por alguma lei histórica.

Entre as lições a serem aprendidas dos eventos de 1914 está ter cautela com analistas que usam analogias históricas, particularmente se elas têm um sopro de inevitabilidade. A guerra nunca é inevitável, embora a crença de que ela é possa ser uma de suas causas.

*Joseph S. é professor da Universidade Harvard e autor de ‘Presidential Leadership and the Creation of the American Era’.

TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

FONTE: O Estado de S. Paulo

USA - ESTÁ SENDO EXPULSO DA REGIÃO ASIÁTICA DO PACÍFICO

O domínio total dos EUA no oceano Pacífico está chegando ao fim. A China pretende abertamente à liderança, mas nem tudo é assim tão simples na região asiática do Pacífico.

Nikita Sorokin


“O nosso domínio histórico, que satisfaz a maioria dos aquí presentes, diminui claramente”, constatou recentemente o general de quatro estrelas Sam Locklear, chefe do Comando do Pacífico da Marinha de Guerra dos EUA. Segundo a revista americana Defense News, o almirante considerou que o poderio crescente da China é o fator fulcral que ameaça o domínio militar dos EUA. Ele assinalou também que a região asiática do Pacífico (RAP) regista uma militarização nunca vista, o que, juntamente com o reforço da China, viola o status-quo. Mas os EUA, segundo o almirante, devem dominar no oceano Pacífico e continuar a ser “mortalmente perigoso” para os inimigos.

Sem dúvida que a RAP, nos últimos anos, sofreu mudanças radicais no sentido do aumento alí do potencial militar de toda uma série de Estados. E a China desempenha o papel principal. Segundo o economista Alexei Maslov, há muito tempo que a China não esconde a intenção de aumentar o poderio militar, principalmente no mar. Do ponto de vista de Pequim, na RAP ocorrem processos praticamente incontrolados: a Coreia do Norte ameaça os vizinhos e os EUA com armas nucleares, o Japão incentiva um conflito com a China em torno de ilhas litigiosas, há divergências entre a China e o Taiwan sobre as Ilhas dos Pescadores.

Nessa situação, Pequim fala da necessidade do aparecimento de um moderador novo, eficaz da situação, porque os EUA não conseguem realizar essa tarefa, assinala Alexei Maslov:

“Os EUA, no fundo, perderam hoje essa região. Ou seja, resumindo, o lugar dos EUA na região é ocupado por outra potência, que, claro, irá realizar uma política asiática um tanto diferente. Penso que os EUA não conseguirão regressar a essa região sem dificuldades. Qualquer tentativa de aumento militar sério, incluindo a instalação de novas bases, a mudança do tipo de armamentos nessas bases, o envio de novas unidades da marinha para essa região, provocará imediatamente a agudização da situação”.

Ao mesmo tempo, segundo Bill Rogio, redator do Long War Journal , a atual correlação de forças na RAP ainda não significa que os EUA perderam o controle da situação. Porém, isso prova a existência de um pretendente ao domínio na região. Ele assinalou em declarações à Voz da Rússia:

“Existe o perigo de perder as posições dominantes se começar a guerra entre a China e o Japão, ou a guerra entre as Coreias do Norte e do Sul, e a China decidir ingerir-se ou instalar um bloqueio. Poderão os EUA ingerir-se? A origem da preocupação deve estar aí. Poderemos, na realidade, apoiar os nossos aliados e fazer isso sem enormes perdas? Eis as questões que se colocam se a China aumentar o seu poderio econômico e reforçar a sua marinha de guerra”.

O discurso do almirante Locklear contêm ideias racionais, mas também claros exageros, considera o orientalista Dmitri Mossiakov:

“Por um lado, claro que apareceu um adversário real à marinha americana no oceano Pacífico pela primeira vez depois da guerra fria e do brusco enfraquecimento da Marinha do Pacífico da União Soviética. Um adversário que realmente pode prejudicar sensivelmente os interesses americanos e o poderio americano. Mas, ao mesmo tempo, é claro que, ao nível atual, as forças de que dispõe a China não podem ser de perto comparadas aos grupos ofensivos de porta-aviões (dos EUA), com as bases militares navais, com os milhares de fuzileiros que se encontram na Região do Pacífico”.

Por muito que a China hoje fale do aumento do seu potencial, ele fica muito aquém dos EUA não só segundo os parâmetros quantitativos, mas também qualitativos das forças armadas, acrescenta Alexei Maslov. Ao mesmo tempo, na situação existe também um fator político: os EUA e muito mais o seu aliado japonês desfrutam, numa série de países da RAP, de má fama desde a Segunda Guerra Mundial, e até mesmo desde o início do séc. XX. Muitos consideram mesmo que o Japão é um traidor do mundo asiático. Nessa situação, a China é vista de forma muito positiva: ela tenta restabelecer a unidade asiática e até está pronta a cobrir a RAP com o seu “guarda-sol nuclear”. Em outras palavras, ao avaliar as possibilidades dos pretendentes ao domínio na região, é preciso calcular não só a quantidade dos seus armamentos, mas também o potencial político, até que ponto ele é comparável com o que os países da RAP pretendem.

No que diz respeito ao papel da Rússia na região, ela tem de manobrar entre as intenções ambiciosas dos principais adversários, defendendo os próprios interesses. Moscou realiza uma política maleável ao tentar manter uma distância sensata para não se envolver nos processos asiáticos negativos. Isso, segundo as palavras de Alexei Maslov, é uma tarefa muito complicada, tendo em conta a forma dura e inteligente como age a China. O objetivo da Rússia é conseguir, antes do início de qualquer conflito na região, a posição mais cômoda de árbitro do que de participante.

Ao falar das perspetivas da RAP, os peritos são unânimes a afirmar que, na região, ninguém quer uma guerra. Até o almirante Locklear sublinhou que o espaço “entre Hollywood e Bollywood é o motor da economia global”.

Numerosos analistas afirmam que no horizonte se avista uma espécie de “NATO asiático”. Segundo eles, chegou o momento de criar um novo bloco militar asiático. A China será um dos países líderes nele, mas não o único. Pois não se pode excluir a possibilidade de a Rússia vir a participar nessa organização.

Em momento de ajustes econômicos, China cresce no menor ritmo em 14 anos

BBCBrasil

Para economistas, novo modelo chinês não sustenta crescimento de dois dígitos
A economia da China cresceu em 2013 no ritmo mais lento registrado nos últimos 14 anos, segundo dados oficiais divulgados nesta segunda-feira.
O crescimento de 7,7% do Produto Interno Bruto no ano passado, em comparação com 2012, foi o mais baixo no país desde 1999. Ainda assim, ficou acima da meta do governo chinês, que era de 7,5%.

A economia chinesa passa por um momento de ajuste – deixando para trás um modelo apoiado em investimentos, sobretudo com empréstimos de bancos estatais ao setor produtivo. Esse modelo fez com que a economia sustentasse por uma década índices com dois dígitos de crescimento. Em 2007, a economia chinesa chegou a crescer 14,7%.

Mas muitos no mercado e no governo chinês acreditam que esse modelo baseado em investimentos e empréstimos não era mais sustentável. A China promove agora um ajuste para que o crescimento seja puxado pelo aquecimento do consumo interno, com o aumento de renda da população.

Com isso, a economia deixaria o patamar de dois dígitos, registrando índices mais próximos aos 7,5%. No ano passado, a economia chinesa já havia crescido 7,8% – uma queda brusca em relação aos 9,3% registrados em 2012.
Para alguns analistas, após os ajustes, este será o novo patamar da economia chinesa nos próximos anos.

"Nós esperamos que esta tendência continue em 2014, já que os políticos estão determinados a avançar com as reformas para manter o crescimento econômico estável", diz Li Huiyong, economista da Shenyin & Wanguo Securities.
Para David Wilder, diretor do escritório de Pequim do serviço de notícias financeiras Market News International, a vantagem deste novo patamar é que ele é sustentável no longo prazo.

"[O crescimento de 7,7%] está dentro do que o governo estava querendo atingir. A ideia é que a China não comporta aquele crescimento de dois dígitos que nós estávamos vendo. Esse crescimento mais lento é encorajador, porque sugere que a China está adotando um ritmo mais sustentável", disse David Wilder à BBC.

Para Ted Plafker, da revista Economist, o crescimento chinês de dois dígitos é "coisa do passado".

Ajuste

O maior ajuste econômico feito na China é no setor bancário, com redução dos empréstimos e maior regulação do setor.

Nos últimos anos, uma grande expansão nos investimentos – sobretudo os capitaneados pelo governo chinês – puxou o crescimento econômico do país. Mesmo durante a grave crise financeira mundial, os quatro maiores bancos estatais da China continuaram emprestando dinheiro, na tentativa de manter altos índices de crescimento.

Agora há temores de que muitos destes empréstimos foram feitos a investimentos pouco produtivos, e que os bancos correm o risco de não reaver seu dinheiro. Esse problema de crédito pode afetar não só o setor bancário, como também ter impacto no crescimento da economia.

Outra preocupação é com o crescimento do setor bancário "paralelo" ("shadow banking system", em inglês) – empresas que atuam como se fossem bancos, emprestando dinheiro no mercado. Muitos temem que esse sistema pouco regulado pelas autoridades gera muito crédito ruim, o que pode acabar prejudicando a economia chinesa.

Neste mês, a imprensa chinesa noticiou que o governo está criando leis para aumentar a supervisão desse sistema paralelo.

Na medida em que o país deixa para trás o crescimento amparado em investimentos governamentais, novas fontes de crescimento são criadas.

Recentemente foi estabelecida uma zona de livre comércio em Xangai, que testará a liberalização de alguns setores fortemente controlados pelo governo, como telecomunicações e sistema financeiro.

Neste mês, a China anunciou que vai abrir alguns serviços de telecomunicações – como call centers e provedores de acesso – para empresas estrangeiras. As firmas internacionais também poderão fabricar videogames para venda no mercado chinês – colocando fim a uma restrição que existe desde 2000.

Os 85 mais ricos do mundo têm o mesmo patrimônio de metade da população

Apesar da diminuição na última década, Oxfam afirma que desigualdade no Brasil e na América Latina ainda é grande

Um relatório da ONG britânica Oxfam divulgado nesta segunda-feira mostra que o patrimônio das 85 pessoas mais ricas do mundo equivale às posses de metade da população mundial.
Segundo o documento chamado Working for the Few ("Trabalhando Para Poucos", em tradução livre), as 85 pessoas mais ricas do mundo têm um patrimônio de US$ 1,7 trilhão, o que equivale ao patrimônio de 3,5 bilhões de pessoas, as mais pobres do mundo.

O relatório ainda afirma que a riqueza do 1% das pessoas mais ricas do mundo equivale a um total de US$ 110 trilhões, 65 vezes a riqueza total da metade mais pobre da população mundial.

A Oxfam observou em seu relatório que, nos últimos 25 anos, a riqueza ficou cada vez mais concentrada nas mãos de poucos.

"Este fenômeno global levou a uma situação na qual 1% das famílias do mundo são donas de quase metade (46%) da riqueza do mundo", afirmou o documento.
"No último ano, 210 pessoas se tornaram bilionárias, juntando-se a um seleto grupo de 1.426 indivíduos com um valor líquido combinado de US$ 5,4 trilhões", destaca o relatório.

"É chocante que no século 21 metade da população do mundo - 3,5 bilhões de pessoas - não tenham mais do que a minúscula elite cujos números podem caber confortavelmente em um ônibus de dois andares", afirmou Winnie Byanyima, diretora-executiva da Oxfam.
Para Byanyima, "em países desenvolvidos e em desenvolvimento estão cada vez mais vivendo em um mundo em que as taxas de juros mais baixas, a melhor saúde e educação e a oportunidade de influenciar estão sendo dadas não apenas para os ricos mas para os filhos deles também".

"Sem um esforço concentrado para enfrentar a desigualdade, a cascata de privilégios e de desvantagens vai continuar pelas gerações. Em breve vamos viver em um mundo onde a igualdade de oportunidades é apenas um sonho", acrescentou.
Publicado dias antes do Fórum Econômico Mundial em Davos, o relatório detalha o impacto da crescente desigualdade em países desenvolvidos e outros em desenvolvimento.

América Latina e Brasil

O relatório da Oxfam apontou que alguns países, especialmente na América Latina, estão conseguindo ir contra esta tendência, diminuindo a desigualdade na última década.

"Entre os países do G20, as economias emergentes geralmente eram aquelas com maiores níveis de desigualdade (incluindo África do Sul, Brasil, México, Rússia, Argentina, China e Turquia) enquanto que os países desenvolvidos tendiam a ter níveis menores de desigualdade (França, Alemanha, Canadá, Itália e Austrália)", afirmou o documento.
"Mas até isto está mudando, e agora todos os países de alta renda do G20 (exceto a Coreia do Sul) estão vivendo o crescimento da desigualdade, enquanto o Brasil, México e Argentina estão vendo um declínio nos níveis de desigualdade."

A Oxfam destaca o caso brasileiro, apontando que o país teve "sucesso significativo na redução da desigualdade desde o início do novo século".

"Em parte devido ao crescente gasto público social, uma ênfase no gasto com saúde pública e educação, um programa de transferência de renda de larga escala que impõe condições para o recebimento (Bolsa Família) e um aumento no salário mínimo que subiu mais de 50% em termos reais desde 2003", afirmou o relatório.

A Oxfam alerta que a "democracia ainda é frágil e a desigualdade ainda é muito alta na região, mas a tendência mostra que problemas que eram insolúveis, as enormes disparidades de renda, podem na verdade ser enfrentados com intervenções políticas".

Leis e paraísos fiscais

A Oxfam também fez uma pesquisa em seis países (Brasil, Espanha, Índia, África do Sul, Grã-Bretanha e Estados Unidos) e mostrou que a maioria dos entrevistados acredita que as leis são distorcidas para favorecer os ricos.

Entre os países pesquisados, a Oxfam destaca a Espanha, onde oito em cada dez pessoas concorda com essa afirmação sobre as leis.

A ONG também destaca outro grande problema relacionado ao dinheiro que não paga impostos, ficando em paraísos fiscais.

"Globalmente, os indivíduos e companhias mais ricos escondem trilhões de dólares dos impostos em uma rede de paraísos fiscais no mundo todo - estima-se que US$ 21 trilhões estão escondidos sem registros", informou a ONG em seu relatório.

Segundo a ONG, que vai enviar representantes a Davos, os participantes do Fórum Econômico Mundial têm o poder de reverter o aumento da desigualdade.

A Oxfam pede que os participantes do fórum se comprometam a não sonegar impostos em seus países ou em países onde têm investimento, não usar a riqueza econômica para conseguir favores políticos que prejudiquem a democracia, apoiar os impostos progressivos sobre patrimônio e renda, enfrentar o sigilo financeiro e sonegação de impostos entre outras recomendações.

Além disso, a ONG também recomenda o estabelecimento de uma meta global para acabar com a desigualdade econômica extrema em todos os países, uma regulamentação maior dos mercados para promover crescimento sustentável e igualitário e a diminuição dos poderes dos ricos de influenciar os processos políticos.

quinta-feira, janeiro 16, 2014

Paul Singer: Luta de classes

Publicado na Folha de São Paulo

Desde que a presidenta Dilma Rousseff denunciou a "guerra psicológica" que estaria sendo travada contra os esforços de seu governo para acelerar o crescimento da economia brasileira, os adversários acirraram suas críticas à política econômica vigente, tornando o debate sobre essas questões um dos mais importantes pomos de discórdia que animam os embates entre os candidatos à Presidência nas próximas eleições.

É interessante observar como esses debates –travados num país como o nosso, em pleno emprego há cinco anos– não se distinguem na essência dos debates travados na maioria dos países capitalistas que são democráticos.

Nestes países, quase sempre o desemprego é o mais importante problema social, causa de profundo sofrimento dos que se sustentam mediante trabalho assalariado, tanto dos que têm emprego e temem perdê-lo como dos que foram demitidos e enfrentam grandes dificuldades em conseguir outro.

Isso se aplica tanto a países tidos como "falidos", como a Grécia e outros da periferia sul da Europa, como aos Estados Unidos e outros que hospedam poderosas multinacionais financeiras e utilizam seu poderio político-econômico para impor a países esmagados por portentosas dívidas públicas ruinosas políticas de "austeridade", cujo efeito é produzir recessões sucessivas, que ampliam o desemprego e a desgraça dos que não são donos de empresas nem sequer de instrumentos de trabalho que lhes permitiriam ganhar a vida por conta própria.

A maior parte das divergências que atualmente alimentam as controvérsias giram ao redor da questão do emprego e do tamanho e destino do gasto público e de como o ônus dele decorrente é repartido entre as classes sociais que compõem o universo dos contribuintes.

Ao lado desses dois temas, aparecem assuntos correlatos: como os ganhos de produtividade do trabalho são repartidos entre lucros e salários, como a inflação responde ou não aos aumentos de salários e como a valorização cambial da moeda nacional afeta as exportações e as importações.

A base da maioria dessas controvérsias está no tamanho do poder do Estado em controlar e conduzir a economia nacional, tendo por objetivo atender mais ou menos as reivindicações da maioria pobre da população, que constitui também a maioria do eleitorado.
A classe dominante é formada pelos capitalistas que têm por objetivo a sua "liberdade" de fazer o que quiserem com o câmbio, com a localização geográfica de seus investimentos, com os preços e juros que eles cobram dos clientes. Para tanto, eles reivindicam a exclusão do Estado da arena econômica.

A esse respeito, os interesses dos capitalistas e das classes trabalhadores não podem deixar de se contrapor. O povo trabalhador depende das políticas ditas "sociais" que tomam a forma de serviços públicos essenciais: saúde, segurança, transporte, energia, telecomunicações, educação de crianças, jovens, adultos e idosos, habitação social, previdência, cultura etc..

Embora os serviços públicos estejam à disposição de toda a população, somente os pobres dependem deles. As classes abastadas não os usam, porque quase todos eles têm como contraparte serviços análogos prestados por empresas capitalistas privadas.

O entrechoque de interesses fica flagrante no caso do transporte urbano: o espaço de circulação é disputado por automóveis de passageiros e ônibus e outras modalidades de transporte público.

A mesma disputa fica tristemente óbvia quando os porta-vozes da classe capitalista encenam campanhas contra o tamanho dos impostos, quando todos sabem que o SUS, o Sistema Único de Saúde do qual dependem os trabalhadores, carece de meios para curar e salvar vidas porque o Orçamento do governo federal não dispõe de recursos para tanto.

A luta de classes até o fim do século passado se travava entre liberais extremados, conhecidos como neoliberais, e partidários de diferentes socialismos então sendo praticados em diversos países. Atualmente, a maioria desses socialismos "realmente existentes" não existe mais. A plataforma dos críticos e adversários do capitalismo hoje é inspirada tanto no marxismo como em autores profundamente comprometidos com a democracia como Keynes, Gramsci, Karl Polanyi, Rosa Luxemburgo e Baruch Spinoza.

O que atualmente surge como alternativa mais significativa ao capitalismo é a economia solidária, praticada por setores organizados em movimentos sociais em todos os continentes, geralmente sob a forma do cooperativismo.

A economia solidária é um modo de produção que surgiu nos alvores da primeira revolução industrial, no início do século 19, na Grã-Bretanha e na França, como reação aos salários miseráveis pagos então aos operários, operárias e crianças nas fábricas por jornadas extenuantes de 15 ou mais horas...

Ocorrendo conflitos com os patrões, os grevistas eram despedidos e, em reação, formavam suas próprias oficinas, uma vez tendo aprendido os segredos do ofício.

Desse modo surgiram as primeiras cooperativas de trabalho, empresas pertencentes aos trabalhadores, que as administravam coletivamente, cada sócio tendo um voto nas assembleias em que as decisões eram adotadas. Os ganhos resultantes do trabalho comum eram repartidos por critérios de justiça distributiva entre os sócios, adotados por maioria ou unanimidade nas assembleias.

Esse modelo aperfeiçoado pelos Pioneiros de Rochdale, em 1844, continua sendo praticado, com aprimoramentos de todas as filiadas à Aliança Internacional de Cooperativas, inclusive as agrárias, de consumo, de crédito, de moradia e de diversas outras modalidades.

Hoje, 170 anos depois, o cooperativismo surge como um modo de organizar atividades de produção, comércio justo, poupança e crédito, consumo consciente e responsável e sob a forma de movimento social dedicado à luta contra a miséria e naturalmente como alternativa ao modo de produção dominante –o capitalismo.

Com a difusão da democracia como modelo de normalidade politica, a economia solidária torna-se cada vez mais atraente para os que almejam igualdade e justiça para suas comunidades.

Os seus partidários defendem em geral políticas econômicas inspiradas pelo keynesianismo, cujo objetivo maior é o pleno emprego e a eutanásia do rentista, o que significa o fim da hegemonia global do capital financeiro, que é o maior responsável pelas frequentes crises internacionais, das quais os trabalhadores são as principais vítimas.

O trágico fiasco que precipitou o fim pacífico da maioria dos regimes ditos comunistas abriu um imenso vazio ideológico, político e, por que não, ético que o novo papa Francisco começa a preencher em nome da Igreja Católica.

Por tudo isso, reconhecer a pancadaria ao redor de nossa política econômica como luta de classes é necessário para que o público que vai decidir essa parada nas urnas não seja levado a pensar que se trata de uma contenda entre peritos (experts em inglês) e jovens ingênuos que pouco entendem do que está em jogo.

Os que reagimos aos excessos do neoliberalismo temos em vista, acima de tudo, preservar e enriquecer a democracia em nosso país, como garantia de que a luta por uma sociedade mais justa poderá prosseguir até que seus frutos possam ser usufruídos por todos.

PAUL SINGER, 81, é secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego. Foi secretário municipal do Planejamento de São Paulo (gestão Luiza Erundina)

quarta-feira, janeiro 15, 2014

Globo: Tradição contra o trabalhador brasileiro



Em 1962, O Globo foi contra o 13º salário do trabalhador:

“Os meios financeiros consideram altamente inflacionária e de consequências desastrosas para a economia nacional, a implantação de um 13º mês de salário”.

Em 2014, O Globo é contra o aumento do salário mínimo:

“O tema é inadequado a ano eleitoral, mas o presidente de 2015 terá de propor desarmar o mecanismo (indexação ao PIB), para impedir que a inflação corroa os ganhos obtidos”.

Com o golpe de estado de 1° de abril de 1964 (50 anos atrás) a Globo conseguiu que o salário mínimo fosse arrochado por 21 anos. Agora investe contra o trabalhador brasileiro junto o fundamentalismo ideológico neoliberal dos economistas tucanos. Da redução da pobreza, segundo o IBGE, ao aumento do salário mínimo é responsável por tirar 59% dos pobres da pobreza. É um crime contra o Brasil rever a política que dá aumento real ao salário mínimo. Definitivamente os ricos do Brasil que formam uma casta predadora querem que o pobre permaneça na miséria. Esse é o projeto político deles. Se dizem modernos mas tem mentalidade medieval e representam a barbárie!

Vaticano Habemus Papam subversivo





No dia de Natal, o Financial Times ataca Francisco por suas críticas à desigualdade do mundo. Por Claudio Bernabucci, de Roma
por Claudio Bernabucci


De Roma

Surpreendentes notícias chegaram de Londres durante as recentes festividades: o Financial Times, no dia de Natal, resolveu atacar abertamente o papa Francisco pelas posições críticas que ele tinha recentemente manifestado sobre a desigualdade no mundo e, em geral, contra as posições mais extremas do atual sistema econômico.

O colunista John Gapper, britânico que mora em Nova York, é um dos mais badalados comentaristas econômico-financeiros do jornal londrino. O que mais espantou foi, porém, a escolha simbólica feita pelos editores. O FT é considerado uma espécie de bíblia do neoliberalismo, e a escolha do dia 24 de dezembro para polemizar abertamente com o papa indica que está em jogo um desafio profundo. Em outros termos, a cúpula do sistema capitalista não gosta do novo papa, e ao mesmo tempo o teme: o posicionamento do FT é só uma das primeiras manifestações de antagonismo em uma luta que se prefigura duríssima. Agora, para todos aqueles, como este modesto contador de fatos, que atribuem ao neoliberalismo as principais responsabilidades pela atual decadência mundial, o fato de o Financial Times colocar o papa Francisco na barricada dos adversários representou notícia animadora. Se o FT está contra Francisco, nós estamos felicíssimos por ter o papa como aliado e, portanto, melhor presente de Natal não poderíamos ter recebido de além da Mancha.

Sem meios-termos, desde as primeiras linhas, o longo artigo do Financial Times afirma que o papa está errado na análise econômica sobre os desequilíbrios mundiais denunciados na sua primeira Exortação Apostólica, batizada Evangelii Gaudium (o Gáudio do Evangelho, 24 de novembro de 2013). “O papa Francisco põe a mira no moderno capitalismo por encorajar a ‘idolatria do dinheiro’ e a crescente desigualdade no mundo”, ataca Gapper. Vem depois a citação literal de uma só frase, no parágrafo 56 da Exortação: “Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira”. Até aqui a citação do FT, mas na verdade o papa continuava, afirmando: “Por isso, negam o direito de controle dos Estados, encarregados de velar pela tutela do bem comum”. “Considerando o mundo como um todo”, prossegue o FT, “o papa está errado em ambos os pontos. Não só a distribuição da renda ficou mais equitativa, mas também o capitalismo pode se gabar desse resultado”.

É verdade que a distância entre ricos e pobres aumentou no Ocidente, concede Gapper, mas em nível global nos últimos anos a desigualdade econômica diminuiu. Citando o índice Gini de desigualdade global, o comentarista observa que, nos países emergentes, China e Índia em particular, onde vive a grande maioria da população mundial, a desigualdade diminuiu como resultado da globalização. Na prática, observa o FT, acontece que na última década, em termos econômicos, houve duas classes de “vencedores” no mundo: os ricos em todos os lugares e a classe média nos países emergentes. E houve dois perdedores: os pobres em todos os lugares e a classe média nos países ocidentais. Através de inúmeras estatísticas e gráficos, o comentarista tenta fortalecer suas posições, mas, na ânsia de demonstrar o óbvio, perde de vista a complexidade do conjunto.

A Evangelii Gaudium, texto articulado que só em parte se dedica às questões sociais do mundo contemporâneo, já foi violentamente criticada por alguns expoentes da direita americana, que, sem perífrases, colocaram o pontífice entre os marxistas por ter ousado criticar o capitalismo. A bem da verdade, a opinião do papa Francisco parece ser compartilhada por outro perigoso esquerdista, sempre com base nas convicções da direita americana. Estamos falando do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que em recente discurso lamentou o fato de que os 10% mais ricos da população americana, que antes levavam para casa um terço da renda nacional, hoje chegam a levar mais da metade. E que os administradores das grandes empresas, que antes ganhavam de 20 a 30 vezes mais do que o salário médio, agora ganham 273 vezes a média americana. “A desigualdade”, tem afirmado recentemente Obama, “é a questão que define o nosso tempo. No que resta da minha Presidência, todos os meus esforços serão focalizados em limitá-la”.

O artigo do FT não chega às mesmas grosseiras conclusões do Tea Party americano, mas parece ser inspirado pelas mesmas preocupações, ou seja, a perda de hegemonia mundial do núcleo duro do capitalismo central, provocada pelo papa que veio do “fim do mundo”. O presidente negro incomoda, mas já foi parcialmente neutralizado e agora representa sem dúvida uma preocupação menor.

A leitura integral e uma análise complexa da Exortação Apostólica levam a entender em todas as suas potencialidades as posições da nova doutrina social que Francisco quer adotar para a Igreja e, ao mesmo tempo, levar aos homens de boa vontade. Três questões se destacam claramente na grande riqueza de conteúdo da Evangelii Gaudium: uma ideia de Igreja aberta e proativa, uma forte crítica ao capitalismo neoliberal e uma perspectiva ética de inclusão social.

O papa não se expressa contra nem a favor de determinado sistema de mercado, mas vai direto ao coração da crise mundial que se espraia em nosso tempo. Estamos assistindo a um colapso de todo o sistema monetário, o que é consequência da derrota do conjunto de valores que dominou a terceira fase da Revolução Industrial, a tecnológico-financeira. E Francisco demonstra-se muito mais firme e claro do que seus antecessores em condenar a injustiça e a especulação: “Uma reforma financeira que levasse em conta a ética exigiria uma vigorosa mudança de atitudes por parte dos dirigentes políticos, a quem exorto a enfrentar este desafio com determinação e clarividência, sem esquecer naturalmente a especificidade de cada contexto. O dinheiro deve servir, e não governar!”

Aparece nítido no texto papal o diagnóstico da falência ético-antropológica do sonho de um bem-estar puramente materialista que caracteriza o capitalismo contemporâneo, com base unicamente egoísta e individualista. “Para apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se com esse ideal egoísta, desenvolveu-se uma globalização da indiferença. Quase sem nos darmos conta, tornamo-nos incapazes de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista do drama dos outros nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse responsabilidade de outrem, que não nos compete. A cultura do bem-estar anestesia-nos a ponto de perdermos a serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas essas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem mero espetáculo, que não nos incomoda de forma alguma.”

O que o papa Francisco indica é a necessidade de uma saída social e humana da crise econômica: “Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência dessa situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída”. O papa lembra “que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los”. Só dessa maneira se pode gerar a vitória da economia sobre as finanças e reafirmar o papel dos povos nas atividades produtivas e de consumo. Em suma, a economia deve ser posta a serviço do homem, para cada homem, e o bem comum deve ser declinado em sentido popular e social, não individualista e centralizador.

As mais belas páginas da Exortação referem-se aos pobres: “Com a exclusão, fere-se, na própria raiz, o fato de pertencermos à sociedade em que vivemos, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder, já não está nela, mas fora. Os excluídos não são ‘explorados’, mas resíduos, ‘sobras’”. Contudo, o papa Francisco não propõe uma visão crítica de pauperismo moralizante, tampouco oferece receitas pragmáticas: seu papel não é esse. Sem dúvida, opera uma inversão radical na maneira de enfrentar globalmente a questão da exclusão social, atribui dignidade à pobreza e introduz com força a questão da exclusão na democracia de amanhã. Seu raciocínio é sobretudo conceitual e ideal, e por isso preocupa tanto seus detratores.

O artigo do FT termina com outra citação do papa: “Exorto-vos a uma solidariedade desinteressada e a um retorno da economia e das finanças a uma ética propícia aos seres humanos”. Com indescritível impudência (ou talvez por simples ignorância) o articulista conclui perguntando retoricamente: “A questão é: para quais seres humanos?”

Qualquer comentário parece supérfluo. Preferível recorrer ainda às palavras do papa: “Assim como o bem tende a difundir-se, também o mal consentido, que é a injustiça, tende a expandir sua força nociva e a minar, silenciosamente, as bases de qualquer sistema político e social, por mais sólido que pareça”.

Comentário E & P

Do fundamentalismo neoliberal nem o Papa pode discordar. Para que todos sejam lesados por essa psdeudo economia é preciso haver um consenso muito grande, que passa pela academia, a mídia e os aparelhos de Estado. Devem estar com saudades dos dois últimos papas que foram cúmplices dessa selvageria chamada especulação financeira, ou globalização. Os tempos são outros e o Financial Times e os parasitas (dinheiro que produz dinheiro) que representam estão lutando contra os povos do mundo assumirem o seu futuro. Deixar o futuro de mais de sete bilhões de seres humanos nas mãos do mercado que é uma jogatina dos mais ricos do mundo é muito temeroso e o Papa Francisco teve a coragem de fazer essa denúncia.

Porque a China fala grosso com os EUA sobre o FMI

Do Tijolaço



O Ministério de Relações Exteriores da China deu hoje um recado claro aos Estados Unidos para que respeite os acordos firmados em 2010 para dar mais poder aos países emergentes no Fundo Monetário Internacional.
Mesmo tendo reconhecido que a atual distribuição de poder no FMI reflete um mundo que já se foi, os Estados Unidos não fizeram a sua parte na reforma da estrutura de poder, porque o Congresso, ao aprovar o orçamento público do país, na segunda-feira, não teve acordo sobre as cotas americanas nos recursos do Fundo.
Com isso, não se completam as mudanças.
A China, que tem apenas 3,8% dos votos, passaria a 8,1% e ficaria como a terceira força na instituição, atrás dos EUA e da União Europeia.
O G-7 (EUA,França, Alemanha, Itália, Japão e Reino Unido) baixam de 44,3% para 41,2%.
E nós com isso?
O Brasil, a Índia e o México são, depois da China, os países que mais aumentam sua participação: saímos de 1,7% para 2,2%. E antes das mudanças da conferência de Singapura, em 2008, era de 1,4%, atrás de economias muito menores.
Passamos a ocupar o sexto posto, se os países da Zona do Euro forem considerados somados. O terceiro é do Japão e o quarto e quinto passam a ser Índia e da Russia e da Índia, com 2,63% e 2,59%, respectivamente.
São pequenas mudanças, que não refletem integralmente as mudanças da economia mundial, mas que foram conquistas arrancadas a fórceps dos Estados Unidos.
Que, como se viu, resistem a implantá-las.
Do Tijolaço


O incansável Altamiro Borges já mostrou – como antes havia feito o Miguel do Rosário – que na lista de bilionários brasileiros, os três maninhos Marinho, somados são a maior fortuna do Brasil.
Borges fiou-se na matéria publicada no El País sobre “Quem e quantos são os ricos na América Latina?”
Mas há algo no texto que ainda não foi devidamente tratado.
Diz o jornal espanhol que os pesquisadores Facundo Alvaredo, Anthony Atkinson, Thomas Piketty e Emmanuel Saez, da escola de Economia de Paris, estão elaborando um banco de dados mundial sobre quantos rendimentos acumula o 1% mais rico sobre a renda nacional, inclusive de capital.
Da América Latina, eles concluíram o levantamento apenas em dois países: Argentina e Colômbia, onde o um por cento mais abonado fica, respectivamente, com 16,7 e 20,4% de toda a riqueza.

E no resto do mundo?
“A Austrália, 9,1%; o Canadá, 12,2%; a Dinamarca, 6,4%; a Finlândia, 7,6%; a França, 8%; A Alemanha, 12,7%; a Índia, 8,9%; a Indonésia, 8,4%; a Irlanda, 10,5%; a Itália, 9,3%; o Japão, 9,5%; a Malásia, 9,3%; as ilhas Maurício, 7%; a Holanda, 6,3%; a Nova Zelândia, 7,3%; a Noruega, 7,9%; Portugal, 9,7%; Cingapura, 13,8%; a África do Sul, 16,6%; a Espanha, 8,2%; a Suíça, 10,5%; a Suécia, 7%; o Reino Unido, 12,5%; os EUA; 19,3%; e a China, 5,8%.

Isto é, dos países analisados, a Colômbia é o de maior concentração dos rendimentos, seguido por EUA e Argentina.”

Bem, eles ainda não deram os números do Brasil, mas essa conta já foi feita por aqui.
O 1% mais rico dos brasileiros, segundo o IBGE fica com 12,9% da renda nacional. E os 10% mais pobres com apenas 1,1%.

Mas ocorre que a renda dos mais pobres, com a indexação do salário mínimo à correção inflacionária mais a taxa de crescimento econômico tem um enorme poder.
Veja o que aconteceu em 2012 em relação a 2011, justamente quando o aumento do salário mínimo incorporou o salto do PIB (7,5%) de 2010:


Entendeu porque é tão ruim a “indexação” do salário mínimo, ao ponto de que a condenam a Globo, Aécio Neves e Eduardo Campos?

À cega classe dominante brasileira não importa apenas ficar mais rica. É preciso que o povo não fique também, porque o que o povo estiver ganhando do bolo não irá para seu bolso.

E bolso de rico tem mais fome que bucho de pobre.

Governo Federal estoura meta, mas foi no financiamento à agricultura familiar


Colunistas da mídia oposicionista ao governo federal, sempre à cata de números que possam ser noticiados como maus resultados, devem ter ficado esfuziantes. Depois da inflação ter fechado mais um ano dentro da meta, depois do superávit primário previsto para 2013 ter sido atingido, finalmente encontraram um número que estourou a meta prevista de R$ 18 bilhões no ano passado. O Pronaf atingiu R$ 18,6 bilhões.

Mas a alegria da mídia oposicionista durou pouco, afinal o Pronaf é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar, e este estouro trata-se, na verdade, do recorde histórico no volume de contratação de crédito.

Este segmento tem cerca de 12,3 milhões de trabalhadores no campo, e reponde por 38% do valor bruto da produção agropecuária nacional.

Segundo o ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), as chances de em 2014 repetir o estouro da meta é grande, pois nos primeiros cinco meses do Plano Safra 2013/2014 (contados de julho a novembro de 2013), o número de contratações do Pronaf já é 33% maior do que o registrado na safra passada. E neste ano a meta é maior, programada para R$ 21 bilhões.

Outros recordes

O ministro do MDA, Pepe Vargas, comemora diversos recordes em sua pasta nos últimos dez anos. O crédito para a agricultura familiar cresceu 717%. O número é mais do que o dobro do crescimento do crédito ao agronegócio no mesmo período (342%).

A renda média dos trabalhadores rurais cresceu 52%. Mais de 3,7 milhões deles saíram da pobreza e subiram para a classe média.

Dez mil bibliotecas rurais foram implantadas em todo o país, dentro do programa Arca das Letras.

Nos dez anos do Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR), um milhão de mulheres já foram atendidas.

Em 2013, o MDA entregou caminhões, retroescavadeiras e motoniveladora (patrola) a 5.061 municípios brasileiros de até 50 mil habitantes. Os veículos são fundamentais para as prefeituras recuperarem e manterem, com baixo custo, as estradas vicinais em condições para escoar a produção da agricultura familiar. Cada município já recebeu pelo menos um veículo e em 2014 continua a entrega de outros.

No fim do ano que se encerrou a presidenta Dilma Rousseff assinou decretos destinando à reforma agrária 193.566 hectares em 16 estados.

Alimentos orgânicos

Outra conquista foi o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo) – Brasil Agroecológico, lançado pelo MDA e pela presidenta Dilma Rousseff em outubro. No mesmo mês, a presidenta aprovou a criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). Com isso o MDA estima duplicar as atuais 600 mil famílias assistidas nas técnicas produtivas para elevar sua produção e renda de maneira sustentável.

Aliás, 2014 é um ano especial. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) declarou o ano da agricultura familiar. O ministro disse que o MDA pretende alcançar conquistas ainda mais expressivas.

Segundo Vargas, o Brasil tornou-se referência mundial neste setor: “Poucas pessoas sabem, mas o Brasil é dos poucos países que dispõem de crédito, seguro de rendas, programa de compras e programa de garantia de preços voltados para a agricultura familiar. É um conjunto de políticas públicas pouco visto no mundo”, disse.