quarta-feira, dezembro 04, 2013

Acadêmicos apoiam alunos em protestos contra o ensino de economia

Em carta ao The Guardian, professores argumentam contra o "compromisso intelectual dogmático" em favor da ortodoxia e contra a diversidade intelectual.

Philip Inman, do The Guardian
Photograph: Mark Benedict Barry/Corbis
Um grupo proeminente de acadêmicos da área de economia passou a dar respaldo aos protestos de estudantes contra o ensino de economia neoclássica, engrossando a pressão para que as universidades mais importantes façam reformas em cursos que, segundo críticos, são dominados por teorias de livre mercado que ignoram o impacto da crise financeira mundial.


Acadêmicos de algumas das instituições de ensino de maior prestígio no Reino Unido, incluindo as universidades de Cambridge e de Leeds, declararam que alunos têm sido enganados por seus cursos, e acusaram os organismos de financiamento à educação superior de serem uma barreira a reformas.


Em ataque surpreendente às agências que provêm bolsas de estudo e pesquisa, eles disseram que uma “monocultura intelectual” é reforçada por um sistema de financiamento estatal baseado na avaliação de revistas científicas “que são muito enviesadas em favor da ortodoxia e contra a diversidade intelectual”.


Em carta ao The Guardian, os acadêmicos declararam que um “compromisso intelectual dogmático” com teorias de ensino baseadas na racionalidade de consumidores e trabalhadores com demandas ilimitadas “contrasta agudamente com a abertura de ensino em outras ciência sociais, que frequentemente apresentam paradigmas divergentes”.


Eles disseram: “alunos podem, atualmente, obter um diploma de economia sem jamais terem sido expostos às teorias de Keynes, Marx ou Minsky, e sem terem aprendido nada sobre a Grande Depressão.”


As críticas fazem coro aos protestos na Universidade de Manchester. Os alunos de lá, responsáveis por formar a Post Crash Economics Society, disseram que seus cursos pouco se empenharam em explicar a razão dos economistas terem falhado em alertar sobre a crise econômica, mas tiveram grande foco na formação de profissionais para integrar o mercado financeiro.


No início deste mês, um grupo internacional de economistas, respaldados pelo Institute for New Economic Thinking, de Nova York, prometeram revisar os programas de ensino econômico e oferecer às universidades um curso alternativo.


Em congresso realizado pelo Tesouro Britânico, em seus escritórios em Londres, eles prometeram oferecer um programa de ensino de primeiro ano pronto para ser ministrado no ano acadêmico de 2014 e 2015, contemplando o ensino de história econômica e um conjunto mais amplo de teorias econômicas concorrentes.


O debate sobre o futuro do ensino econômico é resultado de vários anos de discussão sobre o papel da academia, sobretudo nos Estados Unidos, no provimento de uma base intelectual para a farra dos empréstimos e dos negócios que levou à crise econômica de 2008.


O volume de empréstimos pessoais bateram recordes em vários países, e os negócios dos estranhos derivativos, frequentemente financiados com instrumentos de dívida, subiram a um nível em que pouco executivos de bancos entenderam sua vulnerabilidade no momento de uma estagnação de crédito.


Muitos economistas, incluindo o vencedor do prêmio Nobel em 2013, Robert Shiller, afirmam que as correntes ortodoxas de economia ensinam, erroneamente, teorias baseadas na manutenção de mercados abertos competitivos e na ideia de que compradores e vendedores bem informados eliminam o risco dos preços dos ativos crescerem para além de um nível sustentável por um período prolongado.

Os acadêmicos, liderados pelo professor Engelbert Stockhammer, da Universidade de Kingston, disseram: “Nós entendemos a frustração dos estudantes com a maneira como a economia é ensinada na maioria das instituições no Reino Unido.”


“Há uma comunidade vibrante de economistas pluralistas no Reino Unido e em toda parte, mas esses acadêmicos foram marginalizados dentro da profissão. As deficiências na maneira como a economia é ensinada estão diretamente relacionadas a uma monocultura intelectual, que é reforçada por um sistema de financiamento universitário baseado em revistas acadêmicas fortemente enviesadas em favor da ortodoxia e contrárias à diversidade intelectual”, declararam.

Tradução de Caio Hornstein.

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