quinta-feira, agosto 29, 2013

O Banco Central é o que nasceu para ser

Tijolaço

Os bancos centrais não são exatamente instituições publicas.

Um dia a história humana os registrará assim, como enclaves do capital financeiro dentro dos estados nacionais.

Porque a direção dos estados nacionais, em tese, nas democracias, deriva do povo e em seu nome é exercida.

E a dos bancos centrais, aqui e mundo afora, é derivada não da vontade popular, mas da do “mercado”, a qual, no máximo, ela mitiga e negocia com quem tem a legitimidade popular.

Mas tendo o capital financeiro como determinante.

O Banco Central independente, que o “mercado” tanto reclama, já existe.

Independe do interesse público, porque rege-se pelo interesse do rentismo.

O que será que “as ruas” diriam se entendessem que uma decisão como a de aumenta em 0,5% a taxa de juros tira dos cofres públicos mais do que corrupto algum jamais tirou ou até de todos eles somados?

Não milhões de reais, mas dezenas de bilhões de reais.

Mas este saque é legítimo, porque é feito em nome da técnica, dos fundamentos econômicos, do combate à inflação, embora não se se explique exatamente como o tomate subiu por que as taxas de juros estavam mais baixas no início do ano, pela simples razão de ser isto inexplicável, porque ilógico.

Ficamos, em geral, presos ao falso dilema de que a moeda estável é uma espécie de deusa, à qual devemos sacrificar o crescimento econômico, os salários, o consumo popular, os investimentos e serviços públicos, a saúde, a educação, enfim, nossa vida, nossos sonhos, nossos filhos.

Nao se pode desafiar o monstro, porque o monstro pode nos matar.

A inflação apresenta sinal de alta? Mais juros. Está em baixa? Mais juros, para que não suba amanhã. Chova ou faça sol, juros, juros, senão o capital se vai…

Para que ele não se vá, vai-se o nosso e segue a transferência mostruosa dos recursos públicos para as mãos privadas.

tabbancosEm nome deste fundamentalismo obtuso, vão-se, sem grita, nossos direitos e esperanças.

Nossos bancos, como você vê aí no quadro, são os mais rentáveis do mundo, nao porque, obvio, seus caixas e gerentes sejam os mais eficientes. Com juros que, mesmo mais baixos do que os que a nossa dantesca história financeira costuma apresentar, seguem imorais num mundo onde continuam a ser negativos, em geral.

Solução à vista?

Não, porque tanto essa é a ordem mundial, que nos afeta com seus vasos comunicantes do capital, quanto porque nossos Governos , sobretudo, nossa mídia – falo da parte que não se tornou mera serviçal do capital – perderam a capacidade dee pensar fora dessa lógica e passaram a achar pueril criticar essas regras que nos empobrecem.

Tornamo-nos vìtimas de algo como aquela “Síndrome de Estocolmo” na qual o sequestrado se apaixona pelo sequestrador e aceita a lógica de seu algoz, esquecendo-se de si.

Mesmo os que o percebem e sabe, ou calam ou apenas murmuram, porque o medo de ir contra o coro uníssono das vozes da dominação lhes faz tremer os joelhos.

A ditadura do capital financeiro – que escraviza povos inteiros e dizima também o capital produtivo – é uma onda que tomou conta do mundo, desde os anos 90, em lugar das ditaduras políticas com que se submetiam nações nos anos 70.

Mas cairá, como aquelas caíram, pela sua insustentabilidade, pela morte que carregam em si e porque o pensamento humano, mesmo quando o corpo se dobra à opressão, jamais desiste de procurar asas.

Por: Fernando Brito

quarta-feira, agosto 28, 2013

GUIMARÃES E A FUGA DO SENADOR BOLIVIANO: “JOGO DE POLÍTICA INTERNA” Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães deu relevante entrevista à Carta Maior.

O Conversa Afiada republica entrevista da Carta Maior com o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães sobre a fuga do senador boliviano:


FUGA DO SENADOR BOLIVIANO: “É TUDO UM JOGO DE POLÍTICA INTERNA”


Em entrevista à Carta Maior, o ex-secretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Pinheiro Guimarães analisa o episódio da fuga do senador boliviano, que acabou provocando a demissão do ministro Antônio Patriota. Para Guimarães, trata-se de “um jogo de política interna”. “Essas pessoas acham que o governo do presidente Evo Morales não é sequer democrático, quando ele foi eleito com maioria enorme. São conservadoras e acham que a ascensão dos trabalhadores, dos índios, dos negros nos países da América Latina é algo preocupante para eles”. Por Najla Passos.


CM: Qual é o contexto latino-americano em que se dá a fuga do senador para o Brasil?
Samuel Pinheiro Guimarães – É um contexto razoavelmente claro. De um lado você tem governos de esquerda, em diferentes graus e características, que são os governo do Brasil, da Argentina, do Uruguai, da Venezuela, do Equador e da Bolívia. De outro lado você tem governos que podem ser situados como do centro para a direita, como o do Chile, o do Peru que, apesar de ter sido eleito com grandes perspectivas, na realidade se mostrou um governo aliado às teses da direita, e o governo da Colômbia. Não é por coincidência que estes governos se unem ao México para formar a chamada Aliança do Pacífico, que se coloca claramente em oposição ao Mercosul. E isso se reflete no cenário interno brasileiro, onde você tem os partidos de centro-direita que se aliam com esses governos de direita, que se desdobram em elogios ao Chile, à Colômbia, elogiam até o Paraguai. E criticam a Venezuela, o Evo Morales, e aproveitam todas as oportunidades para fazer esse embate. Essa situação atual se coloca neste contexto. O senador Roger Pinto pertence a um partido de direita.


CM: E qual é o papel dele na política boliviana, nessa oposição sistemática ao presidente Evo Morales?
SPG: Ele tem um papel de destaque, acusando o Evo de narcotraficante e assim por diante. Ele responde a processos por corrupção e já foi condenado por um. Então, resolveu criar um fato político. Que eu saiba, não há nenhum outro político boliviano na cadeia. Pelo menos, os jornais não publicam isso. Não vejo nenhum jornalista preso na Bolívia.


CM: Não há um quadro de perseguição política geral naquele país?
SPG: Não vejo isso. Os jornais que normalmente são aliados com estes governos de centro-direita, imediatamente publicariam. Esse senador resolveu pedir asilo ao governo brasileiro para criar um problema político para os governos da Bolívia e do Brasil, que mantêm estreitas relações. Governos que ele, sendo de direita, faz oposição.


CM: Foi um erro do Brasil aceitar o pedido de asilo?
SPG: Eu não vou julgar as posições do Brasil. Quem aceitou o asilo foi o embaixador da época [Marcel Biato]. Essas questões são complexas. Eu não estou na Bolívia para julgá-las. De toda forma, creio ter sido uma medida precipitada, porque isso envolve um julgamento sobre as acusações que pesam contra o senador e sobre o presidente da Bolívia.


CM: Já houve algum episódio similar na política externa brasileira?
SPG: Que eu conheça não. Você tem o asilo territorial, quando a pessoa entra no território e pede asilo, e o diplomático, que é dado nas embaixadas, até nos navios de guerra. Nesse último caso, o mais recente que me lembro é o do presidente de Honduras, Manuel Zelaya, que tinha sido deposto, vítima de um golpe de estado e se asilou na embaixada brasileira.

Um caso totalmente distinto, até porque, depois, a situação em Honduras se revelou gravíssima, com dezenas de jornalistas assassinados, sem que a grande imprensa aqui se preocupasse em nenhum momento com isso. No caso do senador Roger Pinto, há pessoas que imediatamente passam a criticar o governo do presidente Evo Morales que, no caso, não tem responsabilidade nenhuma, diga-se de passagem. O senador estava na embaixada do Brasil sob os cuidados da embaixada do Brasil. Não estava numa prisão boliviana. Portanto, ele não estava passando por maus-tratos em uma prisão boliviana.

Normalmente, nas embaixadas, os exilados são tratados com toda consideração, com razoável conforto. A ideia de que o exilado não pode tomar banho de sol é algo que depende das decisões do embaixador ou do encarregado, na ausência do embaixador. Não são exigências do governo boliviano. O que a imprensa faz parecer é que o governo boliviano estivesse maltratando o senador Roger. Não é o caso. Aliás, a aparência do senador Roger Pinto é muito boa. Eu me congratulo porque ele apresenta ótimas condições de saúde. Não parece estar em condições de privação. Suponho eu que sempre serviram todas para ele as refeições… a aparência dele não é a de alguém que esteja passando fome.


CM: É pertinente a crítica de que a Bolívia deveria ter concedido um salvo-conduto para o senador?
SPG: O direito de asilo diplomático é uma instituição latino-americana. Não é reconhecida pelo direito internacional, diferente do asilo territorial. E nessa convenção latino-americana [a Convenção de Caracas, de 1954], os países que estão obrigados a seguir suas disposições, são os que assinaram a convenção. A Bolívia não signatária dessa convenção e não tem nenhuma obrigação de segui-la, de dar salvo-conduto. Aliás, nem considera que ele seja um asilado político. Então, não tem porque dar. O senador poderia perfeitamente abrir a porta e sair à rua, nada o impedia. O que se está criando é uma situação de política interna para criar dificuldades para a presidenta, para o Itamaraty, para criticar o Itamaraty por uma razão ou por outra, por ter dado asilo ou por não ter dado asilo.


CM: O senhor acredita que foi uma ação orquestrada pela direita?
SPG: Não, mas acho que a direita sempre aproveita esses momentos. Eu nunca ouvi falar que nenhuma dessas pessoas que defendem o senador estivessem preocupadas, por exemplo, com os presos em Guantánamo, que estão lá há dez anos sem culpa formada e sem advogados. Todas essas pessoas agora extremamente preocupadas com os direitos humanos não emitem uma única opinião em defesa desses presos. Nem vejo elas reivindicarem salvo-conduto para Julian Assange, que está exilado na embaixada do Equador em Londres. É tudo um jogo de política interna. Essas pessoas acham que o governo do presidente Evo Morales não é sequer democrático, quando ele foi eleito com maioria enorme, em eleições supervisionadas, altamente legítimas, tem maioria no congresso e todo apoio da população. Mas essas pessoas são conservadoras e acham que a ascensão dos trabalhadores, dos índios, dos negros nos países da América Latina é algo preocupante para eles.


CM: Há esse tipo de postura de desrespeito aos governos de origem popular no Itamaraty?
SPG: Não, creio que não. Certamente, em toda organização maior você tem pontos de vista diferente. Pessoas de todo tipo de posição política. Eu acho até que o Itamaraty, de uma forma geral, caminhou, nos últimos anos, para uma visão mais esclarecida e consciente da importância da América Latina, até por influência do ex-presidente Lula.


CM: Do Itamaraty do ex-presidente Lula para o da presidenta Dilma, houve perda do protagonismo do Brasil na região?
SPG: O protagonismo de um país depende muito do presidente da república, da ênfase que este presidente dá aos lugares onde vai, que ele prestigia com a sua presença. O Itamaraty é um instrumento do presidente da república. Um instrumento. Faz o dia-a-dia da política, gera as informações, cumpre as determinações do presidente. O presidente Lula conferia prioridade à América do Sul, desde seu discurso de posse. E havia toda uma experiência prévia do Lula, da experiência que ele teve no passado de criar o Foro de São Paulo com os partidos políticos. Tudo isso fez com que ele tivesse relações muito estreitas com muitas lideranças da América do Sul. Ele tinha um interesse muito grande na região, achava que a América do Sul era essencial para a política externa brasileira, sem descuidar das relações com outros países. Mas essas concepções variam, e dependem muito das ações do presidente. Lula ia uma vez a cada três meses na Argentina, na Venezuela, na Bolívia. E isso ia criando um entendimento, uma compreensão política cada vez maior de cada realidade. Isso é muito importante.


CM: A presidenta Dilma se relaciona pouco com a América do Sul?
SPG: Não estou dizendo isso. Estou dizendo que cada um tem o seu estilo. E a situação também mudou um pouco. A crise internacional começa já em 2008, mesmo assim o Brasil cresceu muito. Depois é que seus efeitos foram se instalando sobre a economia brasileira. A presidenta Dilma também dá muita importância a esses temas.


CM: Qual o impacto da morte do Hugo Chávez no quadro geral da região?
SPG: O presidente Chávez e o presidente Lula eram duas pessoas profundamente convencidas da importância da integração latino-americana, da importância da coordenação entre os países, da união no contexto da política internacional. O presidente Maduro tem muitos méritos, mas não é o Chávez. São pessoas diferentes. E não que ele não seja bom. O próprio Chávez julgou que ele seria o mais qualificado para sucedê-lo. E Chávez devia ter lá suas razões.


CM: Como o Lula julgou que a Dilma seria mais qualificada para sucedê-lo…
SPG: Mas as circunstâncias eram diferentes. Um estava morrendo. O outro estava vivo. (risos). Está vivo e espero que continue por muito tempo.


CM: A demissão do Antônio Patriota foi adequada?
SPG: Sim, foi adequada. Não quero dizer que o ministro Patriota conhecesse o caso ou fosse responsável direto pelo que ocorreu, mas a presidenta necessitava tomar uma atitude em relação ao governo da Bolívia. E a demissão do ministro – que é um auxiliar da presidenta – é conveniente. Sou amigo do Patriota, quero deixar isso claro, mas as questões são políticas, não pessoais. A coisa se colocou de uma tal forma que a decisão dela foi acertada porque permite que o novo ministro entre em contato com as autoridades da Bolívia sem ter nenhum passado de nenhuma natureza. Foi uma medida politicamente importante.


CM: Cria-se um precedente preocupante? Qualquer criminoso comum pode pedir asilo em uma embaixada?
SPG: Acho que não cria precedente não porque qualquer cidadão já pode pedir asilo. Depende da embaixada conceder o asilo ou não.


CM: A decisão de conceder asilo é da embaixada? Passa pelo presidente?
SPG: Não necessariamente, porque muitas vezes quando o presidente é comunicado ela já ocorreu de fato.


CM: É tradição da diplomacia brasileira acolher qualquer um que peça asilo?
SPG: Não me lembro de nenhuma recusa. Mas este caso do senador Roger Pinto é complexo porque, mesmo acusado de corrupção, ele é um político de oposição, de forte oposição. Então, as coisas se misturam. De qualquer forma, uma coisa é conceder o asilo e outra é organizar uma fuga.


CM: É possível um diplomata, sozinho, patrocinar uma fuga dessas?
SPG: Eu não sei. O que li nos jornais é que foram carros da embaixada, acompanhados por fuzileiros navais.


CM: Concedido o asilo, o país pode voltar atrás?
SPG: Pode, claro. Pode haver também um pedido de extradição. A decisão é do Executivo, como ocorreu no caso Cesare Battisti. O judiciário pode examinar, mas o próprio judiciário brasileiro chegou a conclusão de que a prerrogativa é do Executivo. E é importante observar que estas questões tem alcance limitado após certo tempo. Ninguém mais fala em caso Battisti, nem fala mais que isso prejudicaria a relação do Brasil com a Itália.

SICSÚ: SURRA É MAIOR ! LULILMA 20 VS 0 FHC Ataulfo e a Urubóloga não serão o Pedro Vaz de Caminha, o escrivão único da missão metropolitana


Do Tijolaço

O professor João Sicsú acaba de lançar pela Geração Editorial – a mesma da Privataria Tucana; da História do Mensalão (o do PT) do Paulo Moreira Leite; e outras preciosidades a caminho – o que chama de uma denúncia: “Dez anos que abalaram o Brasil – e o futuro ? – os resultados, as dificuldades e os desafios dos Governos Lula e Dilma:.

É uma resposta à tentativa do PiG (*) de reescrever a História do Brasil e transformar os governos trabalhistas de Lula e Dilma em episódios atípicos numa uniforme tradição conservadora e escravagista (com subterfúgios).

Não deixar que a Urubóloga e o Ataulfo Merval de Paiva (**) preservem sobre a História o monopólio que a Globo Investments BV tem hoje: contar o que acontece.

Como se fossem o Pero Vaz de Caminha: o único escrivão dos emissários metropolitanos.

Como se fosse possível reeditar o IBGE ou recalcular as Contas Nacionais.

Como dizia o Caetano Velloso, antes de se tornar “intelectual orgânico” da Globo: eu assisto ao jornal nacional não para saber o que acontece, mas para saber o que a Globo quer que eu pense o que aconteceu.

Sicsú teve uma importante participação no IPEA, na gestão Marcio Pochmann, como diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas.

O livro se propõe a meditar sobre os futuros governos trabalhistas e solicitou a contribuição de lideres da base aliada ao Governo: Renato Rebelo, presidente do PC do B, a deputada Juliana Brizola, do PDT, e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, agora, provavelmente, constrangido com a aliança do partido com a UDR e o Caiado, e a comunhão, em São Paulo, com os administradores de grandes fortunas.

É de Amaral a frase (profética ?): o PSB não será o Viagra do PSDB.

Sobre o futuro este ansioso blog falará, depois, na inteligente companhia de Sicsú, hoje, frequentemente, nas páginas da Carta Capital.

Vamos nos concentrar, agora, na comparação dos Governos Lulilma com o sombrio Farol de Alexandria, aquele que iluminava a Antiguidade, foi destruído num terremoto chamado “Lula”, e sobrevive no PiG como Imortal e comprador de um imóvel de 450m2 do mesmo banqueiro que operava o trensalão tucano.

- O PAPEL DO BANCO DO BRASIL

Na pág. 22, Sicsú reproduz o documento oficial do Ministro Pedro Malan, da Fazenda, ao FMI, em 1999, em que se oferece para vender o Banco do Brasil, a Caixa e o BNDES !!!
O Banco do Brasil desempenhou papel decisivo para ampliar o credito e evitar a crise de 2008.



- EDUCAÇÃO

FHC não construiu uma única Universidade. Lula, 16.
FHC abandonou a ampliação do ensino técnico. Lula aumentou os Centros Federais de Tecnologia em 50%. Nos últimos dez anos foram construídos e estão funcionando 259 novos Centros Federais de Tecnologia. Eram 140 e hoje são quase 400.
Hoje, há 527 mil jovens estudantes na rede Pronatec, em 1531 municípios, com a opção de fazer 518 cursos. 263 mil alunos só nos primeiros seis meses de 2013.



- INVESTIMENTOS DA PETROBRAS

Nos oito anos de FHC, a Petrobras investiu US$ 50 bilhões. Entre 2003 e 2011 (um ano de Dilma), a Petrobras investiu US$ 150 bilhões.



- BOLSA FAMÍLIA

Entre 2011 e 2013 mais de um milhão e meio de beneficiários desistiu do Bolsa Família porque conseguiu emprego.



- CREDITO EM BANCO

No Governo FHC, quando pobre não tinha conta em banco, a participação do credito no PIB era de 26%. Em 2012, 54%.



- PRODUÇÃO DE AUTOMÓVEIS

Em 2003, na herança maldita do FHC, o Brasil produziu 1,7 milhão de automóveis. Em 2011, 3,4 milhões.



- SECOM E GLOBO

A Globo tem 44% da verba governamental, ou seja, R$ 500 milhões, em 2012. (É muito, mas no Governo FHC chegava a 80% ! – PHA)



- FMI

Lula assumiu com US$ 38 bilhões de reservas (inconfiáveis … – PHA). Pagou o que devia ao FMI, rompeu o contrato com o FMI, emprestou dinheiro ao FMI e em abril e 2013 tinha US$ 380 bilhões em reservas, o que significa que “zerou” a divida. Multiplicou as reservas por 10. (E o FHC quebrou o Brasil três vezes e três vezes foi ao FMI – PHA)



- MERCADO INTERNO

Lula e Dilma ampliaram o mercado interno. Ele hoje tem 100 milhões de pessoas: maior que a população da Alemanha, da França e da Inglaterra.
Entre 2003 e 2011 ingressou no mercado brasileiro o equivalente a 40 milhões de pessoas, ou seja, a população da Argentina.
Até 2022, mais de 25% da população podem ingressar nas classes de renda que são capazes de consumir de forma regular – ou seja, 60 milhões de novos consumidores.



- EMPREGO

Em 2003, com a herança maldita, a taxa de desemprego era superior a 12%. Hoje, 5,6%.
FHC criou 5 milhões de empregos formais. Lula triplicou: criou 15,3 mihoes de empregos com carteira assinada.
Dilma criou 2,4 milhões em 2011 e 1,3 milhão (segundo os dados disponíveis) em 2012



- DISTRIBUIÇÃO DA RENDA

Em 2002, o índice de Gini (quanto mais perto de 1, pior) era 0,563. Em 2011, 0,501



- PARTICIPAÇÃO DO SALÁRIO NA RENDA

Em 2003, era de 44%. Em 2009, acima de 51%



- EMPREGO COM CARTEIRA ASSINADA

43% em 2003. 53% em 2011



- SALÁRIO MÍNIMO

Em 2003, o salário-mínimo era de R$ 200. Hoje, em termos correntes, R$ 678, mais de 70% de aumento real.



- DÍVIDA LÍQUIDA DO SETOR PÚBLICO

60% do PIB, em 2002. 35% do PIB, em 2012



- GASTO SOCIAL PER CAPITAL

FHC, médio, cresceu 4%. Lulilma, 9%.



- RENDA PER CAPITA

R$ 16.000 em 2002. R$ 22.000 em 2012, em reais de 2012.



- INFLAÇÃO

Nos quatro anos de “metas de inflação”, o FHC não ficou dentro do limite SUPERIOR por DOIS anos. E nos outros dois ficou acima do limite inferior. O Governo Lulilma esteve SEMPRE dentro da meta, com exceção do ano da herança maldita, 2003.



- TAXAS DE JUROS SELIC

2002, 25%. 2012, 7,25% (hoje, 8,50%).
Investimento publico
2003, 2,6% do PIB. 2012, 4,4%.

Só tem um jeito: dizer que o “PT só tem corrupto”!

E dar o Golpe paraguaio no Supremo.

Paulo Henrique Amorim

REFORMA UNIVERSITÁRIA. CHEGA DE DR CRM ! Saul Leblon, na Carta Maior, vai mais longe: que sociedade gerou esses CRMs ?

O Conversa Afiada reproduz artigo de Saul Leblon, extraído da Carta Maior:

CUBANOS CHEGAM E JÁ DIAGNOSTICAM A DOENÇA NO BRASIL

Eles desembarcaram há apenas quatro dias.

Ainda nem começaram a trabalhar. Mas alguma coisa de essencial já foi diagnosticada entre nós, apenas com a sua presença.

Uma foto estampada na Folha de S. Paulo desta 3ª feira sintetiza a radiografia que essa visita adicionou ao diagnóstico da doença brasileira.

Um médico negro avança altivo pelo corredor polonês que espreme a sua passagem na chegada a Fortaleza, 2ª feira.

O funil do constrangimento é formado por jovens de jaleco da mesma cor alva da pele.

Uivam, vaiam, ofendem o recém-chegado.

Recitam um texto inoculado diuturnamente em sua mente pelas cantanhêdes, os gasparis e assemelhados.

Centuriões de um conservadorismo rasteiro, mas incessante.

É força de justiça creditar a esse pelotão a paternidade da linhagem, capaz de cometer o que a foto cristalizou para a memória destes tempos.

“Escravo!” “Escravo!” “Escravo!”.

Ecoa a falange cevada no pastejo da semi-informação, do preconceito e das tardes em shopping center.

Foi programada para cumprir esse papel, entre outros, de consequências até mais letais para a democracia e a civilização entre nós.

Um desembarque que em outros países seria motivo de festas, homenagens e bandas de música.

Aqui é emoldurado pelo espetáculo deprimente de uma classe média desprovida de discernimento sobre o país em que vive, o mundo que a cerca e as urgências da sociedade que lhe custeou o estudo.

Para que agora sabotasse a assistência cubana aos seus segmentos mais vulneráveis, aos quais ela se recusa a atender.

Os alvos da fúria deixaram família, rotinas e camaradagem para morar e socorrer habitantes de localidades das quais nunca ouviram falar.

Mas que a maioria dos brasileiros também sequer desconfia que existam.

Com o agravante de que ali talvez jamais pousem seus pés. Coisa que os cubanos farão. Por três anos.

E que graças a eles, agora saberemos que existem.

Se o governo for safo – espera-se que seja – fará do Mais Médico uma ponte de conexão de nós com nós mesmos.

O futuro da democracia agradecerá.

Os pilares dessa ponte, de qualquer forma, são os que transitam agora altivos diante da recepção que indigna o Brasil aos olhos do mundo.

Perfis médicos ainda improváveis entre nós, apesar do Prouni e das cotas satanizadas pela mesma cepa mental adestrada em compor corredores e funis.

Nem sempre físicos, como agora.

Mas permanentemente intolerantes, na defesa da exclusão e do privilégio.

Formados em uma ilha do Caribe desguarnecida de recursos, por uma escola de medicina que contorna a tecnologia cara, apurando a excelência do exame clínico – aquele em que o médico demora uma hora ou mais com o paciente, rastreando o seu metabolismo – eles passarão a cuidar da gente brasileira pobre e anônima. (Leia a excelente entrevista de Najla Passos com a doutora Ceramides Carbonell sobre a formação de um médico em Cuba).

Campos Alegres de Lourdes, Mansidão, Carinhanha, beira do São Francisco, Cocos, Sítio do Quinto, Souto Soares… Quem conhece esse Brasil?

É para lá que eles vão. E para mais 3.500 outras localidades.

Um Brasil esquecido, em muitos casos, mantido na soleira da porta, do lado de fora do mercado e da cidadania.

Que sempre esteve aí. Mas que agora, pasmem, terá um sujeito interessado em ouvir o que sua agente tem a dizer, esforçando-se por entender pronúncias que até nós, os locais, teríamos dificuldade de discernir.

O ‘doutor de Cuba’ de fala estrangeira e jeito parecido com a gente estará ali.

A examinar, apalpar dores, curar vermes, prescrever cuidados, encaminhar cirurgias, ouvir e confortar.

Com remédios, atenção e esperança.

Houve um tempo em que essas expedições a um Brasil distante do mar eram feitas por brasileiros, e de classe média.

Protagonistas de um relato épico, de nacionalismo não raro ingênuo. Mas que aproximava e treinava o olhar do país sobre ele mesmo.

Coisa que a hiper-conexão disponível agora poderia fazer até melhor.

Não fosse a determinação superior de afastar e dissimular, o que muitas vezes se alcança destacando o pitoresco.

Em detrimento do principal: as questões do nosso tempo, do nosso desenvolvimento, as escolhas que elas nos cobram. E os interesses que as bloqueiam.

Tivemos a Coluna Prestes, nos anos 20.

Os irmãos Vilas Boas, apoiados por malucos como Darcy Ribeiro e entusiastas como Antonio Calado, fizeram isso nos anos 40/50 e início dos 60, quando foi criado o Parque Nacional do Xingu.

Trouxeram a boca do sertão para mais perto do olhar litorâneo e urbano.

Desbastavam distancias a facão.

Na raça, traziam horizontes, aproximavam rios, tribos, desafios e, de alguma forma, semeavam um espírito de pertencimento a algo maior que a linha do mar e a calçada de Copacabana.

A utopia geográfica, se por um lado borrava os conflitos de classe, ao mesmo tempo colidia com o país real que os esperava em cada socavão, de trincas sociais, fundiárias, étnicas e econômicas avessas à neblina da glamorização.

Paschoal Carlos Magno, a UNE e o CPC, o Centro Popular de Cultura, fariam o mesmo nos anos 60, antes do golpe militar.

As famosas ‘Caravanas do CPC’ rasgaram o mapa do sertão.

Desceriam o São Francisco nas gaiolas lendárias para garimpar e irradiar a cultura popular em lugares onde agora, possivelmente, um doutor cubano irá se instalar.

Caso de Carinhanha, por exemplo, um dos mais belos entardeceres do São Francisco.

Onde foi que a seta do tempo se quebrou?

Por que já não seduz a grande aventura de nossa própria construção?

Uma leitora de Carta Maior, Odette Carvalho de Lima Seabra, resume em comentário enviado ao site o núcleo duro do problema.

“ A geração dos nossos jovens doutores”, escreve, “ jamais compreenderá de que se trata. Foram criados nos shopping centers. A escola secundária limitadíssima no seu alcance humanístico os fez também vítimas sem que o saibam que são. Uma revolução que durou vinte anos e cujo sentido era o de esvaziar de sentido a vida de todos nós deixou no seu rescaldo, esse bando de jovens, como são os nossos doutores, muito alienados. É tempo de aprender com os cubanos”, conclui Odette.

Colocado nos seus devidos termos, o impasse readquire a clareza histórica de que se ressente a busca de soluções.

Entre indignado e estupefato, o conservadorismo nega aos visitantes cubanos outra referência de exercício da medicina que não a dos valores argentários.

Ética médica, solidariedade, internacionalismo e humanismo formam uma constelação incompreensível a quem divide o mundo entre consumidores e escravos.

À esquerda, no entanto, cabe também evitar simplificações.

Se quiser enxergar a real abrangência das tarefas em curso, é preciso admitir que não estamos diante de uma batalha entre anjos e demônios.

Os médicos do Caribe não nascem bonzinhos. Tampouco endemoninhados, os dos trópicos.

Eles são formados assim. Por instituições.

A escola, por certo, mas a mídia, sem dúvida, que a completa pelo resto da vida.

É vital que o governo, lideranças sociais e os intelectuais compreendam o fundamental em jogo.

Se quisermos colher frutos duradouros com o ‘Mais Médicos’, o passo seguinte do programa terá que ser a reforma universitária brasileira.

Que reaproxime universidade e a juventude das grandes tarefas coletivas do nosso tempo.

As diferenças entre a formação do cubano hostilizado na chegada a Fortaleza, e aqueles que o ofendiam não são apenas de ordem técnica.

Mas, sobretudo, de discernimento diante do mundo.

A ponto de um não achar estranho sair de seu país para ajudar um outro.

Nem considerar despropositado que parte de seu ganho se transforme em fundo público de reinvestimento.

O oposto das convicções dos que o agraciavam com o corolário de sua própria servidão.

Esse talvez seja o aspecto mais chocante da visita que acaba de chegar.

E, sobretudo, o mais instrutivo.

Ela escancara a doença social que corrói o nosso metabolismo. E adverte para as limitações que irradia.

Na sociedade que estamos construindo.

Na mentalidade que vai se sedimentando. No risco que ela incide sobre o todo.

Para que o ‘Mais Médicos’ um dia possa ser dispensável, o Brasil precisa se tornar ele próprio um grande ‘Mais Solidariedade’.

Como faz Cuba desde 1959, com todos os seus erros, acertos e percalços.

domingo, agosto 25, 2013

Homem rouba para ser preso e ter médico. O modelo americano de saúde


A cena se passou sexta-feira, nos Estados Unidos, paraíso do pensamento “coxinha” brasileiro.

Timothy Dean Alsip, 50 anos, entra numa agência do Bank of America filial, em Portland e entrega um bilhete a um dos caixas.

“Isto é um assalto. Entregue-me um dólar”.

Depois de receber o dólar, Alsip sentou-se no hall de entrada e esperou a polícia, disseram funcionários segundo o jornal OregonLive .

Quando os policiais chegaram ao banco, o Alsip disse que era um “sem teto” e precisava de assistência médica.

Como resultado, ele foi jogado na cadeia do condado de Clackamas sob a acusação de roubo em segundo grau com uma fiança de US $ 250mil.

É a isso que leva um sistema privadíssimo de saúde como o americano, onde a direita se insurge contra qualquer tentativa de medicina pública.

Mas está tudo dentro da lei, como exigem alguns doutores de jaleco branco ou de toga negra.

Obscurantistas, como os monstros da Idade Média, sobre os quais o Giordano Bruno – o da peça de Bertold Brecht – teve de dizer o seu “eu sustento que a única finalidade da ciência está em aliviar a miséria da existência humana”.

Também nós não devemos ter medo de falar, se não nos fizerem como ao Bruno em Roma, pondo-lhe um pedaço de madeira como rolha à boca.

A ciência, muito menos a ciência médica, pode ser evocada para justificar o abandono de seres humanos.

Idem a lei.

Ambas, se não trabalham pelo ser humano, são odiosas e desprezíveis.

PS. Obrigado a @MoniquePrada pela pauta original

Por: Fernando Brito

Aécio perde força até em Minas

A grande imprensa não vem repercutindo uma informação essencial para se entender o que pode estar por trás da súbita altivez de José Serra. Além de estar perdendo pontos nas pesquisas nacionais de intenção de voto, Aécio Neves não está conseguindo sequer emplacar um candidato minimamente competitivo em seu próprio estado.

Os dois candidatos de oposição ao governo Anastasia, Pimentel (PT) e Clésio (PMDB), lideram isoladamente as pesquisas de intenção de voto: segundo pesquisa divulgada ontem pelo jornal Hoje em DIA, os dois tem quase 50% da preferência do eleitor mineiro. Os tucanos não alcançam 4%.

Aécio Neves conseguiu construir uma imagem sólida de si mesmo em Minas Gerais. Dizem as más línguas que a imprensa mineira foi amordaçada e manipulada com esse objetivo, coordenado por sua irmã todo-poderosa, Andrea Neves.

Mas Aécio cometeu um erro típico de políticos provincianos, que pensam mais em si mesmos do que nas ideias que supostamente representam: não construiu lideranças para substituí-lo. Investiu tudo em seu nome.

Este erro custará caro ao PSDB, por razões simples:

- O maior problema de Aécio Neves é ser bem conhecido e ter votos apenas em Minas Gerais.
- Mas se não tem um candidato sólido ao governo de Minas, Aécio pode comprometer seu desempenho no segundo maior colégio eleitoral do país.
- Com desempenho fraco em Minas, Aécio terá que gastar recurso, tempo e energia no estado, em detrimento de outras regiões, como São Paulo, Rio e Nordeste, onde precisa investir para ganhar terreno.

Estou começando a achar que Serra está certo em sua pretensão de ser novamente o candidato do PSDB à presidência da república…

Leia a matéria publicada sábado no jornal Hoje em Dia:

Fernando Pimentel e Clésio Andrade ampliam a vantagem

Hoje em Dia

Os candidatos de oposição ao governo de Minas Fernando Pimentel (PT) e Clésio Andrade (PMDB) ampliaram a vantagem na corrida das eleições de 2014. Enquanto isso, sem uma definição sobre quem será o candidato governista ao Palácio Tiradentes, Alberto Pinto Coelho (PP) e os tucanos Marcus Pestana, Dinis Pinheiro e Pimenta da Veiga não chegam a alcançar 4% da preferência.

Nova pesquisa feita pelo instituto MDA, à qual o Hoje em Dia teve acesso, mostra que eles lideram todos os quatro cenários pesquisados, e alcançam, juntos, entre 48,5% e 49,6% da preferência do eleitorado, dependendo do cenário apresentado. Em maio, quando outra pesquisa do instituto foi realizada, somados, os índices do petista e do peemedebista alcançavam entre 40,4% e 41%.

Na nova pesquisa, realizada entre os dias 16 e 20 de agosto, o ministro Fernando Pimentel chega a atingir 39,1% das intenções de voto quando o candidato governista é o presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Dinis Pinheiro (PSDB). No cenário, o senador Clésio Andrade tem 10,5% da preferência. Dinis alcança 2,9%.
Quando o candidato do governo é o atual vice-governador Alberto Pinto Coelho, seu índice é idêntico ao do tucano. Neste caso, Pimentel soma 38,4% e Clésio Andrade registra 10,3%. Enquanto 15,2% votariam em branco ou nulo, outros 33,2% não sabem ou não responderam. Na pesquisa de maio, Pinto Coelho somava 5%, enquanto Pimentel tinha 32,3% e Clésio Andrade tinha 8,1%.

Se a escolha governista for pelo presidente do PSDB, Marcus Pestana, o tucano tem 3,4% da preferência. Nesse cenário, Pimentel soma 38,6% (em maio tinha 32,8%) e Clésio registra 10,4% (tinha 8,2%). Um grupo de 15,5% dos eleitores votaria branco ou nulo e outros 32% não sabem ou não responderam.

Novo cenário

O melhor desempenho do governo se dá com o ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga (PSDB). Ainda assim, seus índices são praticamente idênticos aos dos outros pré-candidatos governistas. O tucano alcança 3,6% dos votos, enquanto Pimentel marca 38,1%, Clésio tem 10,4%, brancos e nulos somam 15,1% e os que não sabem ou não responderam chegam a 32,8%.

É a primeira vez que tal cenário é apresentado nos relatórios de pesquisa do instituto MDA. No estudo de maio, Pimenta da Veiga não foi incluído. Outros dois candidatos governistas foram testados naquela ocasião: Renata Vilhena e Danilo de Castro. No novo relatório eles não foram incluídos, assim como o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), que tem dito não ter interesse na candidatura, apesar das pressões do partido.

A pesquisa ouviu 2.001 pessoas em 63 municípios. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais para mais ou para menos.

Por: Miguel do Rosário

Tio Sam grampeou a ONU!


Reportagem publicada pela revista alemã Der Spiegel revela que a pátria da liberdade, dos “homens bravos”, gosta mesmo é de olhar no buraco da fechadura…

Acaba de ser publicado na Reuters.

Agência de espionagem dos EUA grampeou sede da ONU–revista alemã

BERLIM, 25 Ago (Reuters) – A Agência de Segurança Nacional dos EUA grampeou a sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York, informou a revista semanal alemã, Der Spiegel, neste domingo, na mais recente de uma série de reportagens sobre a espionagem dos EUA, que causou tensão no relacionamento entre Washington e seus aliados.

Citando arquivos secretos divulgados pelo ex-contratado da inteligência dos EUA Edward Snowden, aos quais a revista teve acesso, a Der Spiegel disse que as revelações provam como os EUA sistematicamente espionam outros países e instituições.

A publicação disse que os documentos mostram que agentes da inteligência norte-americana grampearam tanto outros países quanto instituições, incluindo a União Europeia e a Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA), com sede em Viena.

No verão de 2012, especialistas da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) conseguiram entrar no sistema de videoconferência da ONU quebrando o sistema de codificação, de acordo com um dos documentos citados pela Der Spiegel.

“O tráfego de dados nos dá acesso a teleconferências de vídeo internas da ONU (oba!)”, a Der Spiegel citou um documento com essa declaração, acrescentando que em três semanas o número de comunicações decodificadas subiu de 12 para 458.

Arquivos internos também mostram que a NSA espionava a missão diplomática da UE em Nova York. Entre os documentos copiados por Snowden, de computadores da NSA, estão planos da missão da UE, sua infraestrutura de TI e servidores.

De acordo com os documentos, a NSA roda um programa de grampo em mais de 80 embaixadas e consulados em todo o mundo, chamado de “Serviço Especial de Coleta”. “A vigilância é intensa, bem organizada e tem pouco ou nada a ver com afastar os terroristas”, escreveu a Der Spiegel.

Por: Miguel do Rosário

Jabor tem razão: os canalhas são ousados. Mas não corajosos


Do Tijolaço

Está no ar uma chamada para os comentários de Arnaldo Jabor na rádio CBN que me provoca risos cada vez que a ouço.

Uma secretária interrompe uma reunião de diretores de um empresa para entregar uma “chamada de celular” de Jabor ao diretor.

E o performático diz que “o mundo seria bem melhor se os homens de bem tivessem a ousadia dos canalhas”.

Porque é a única vez que concordo com Jabor – e a frase nem é dele – desde que ele escolheu a Vera Fischer para trabalhar no “Eu te Amo”, já lá se vão 32 anos.

Sim, os canalhas são ousadìssimos, neste país.

Dominam, sem deixar espaço, todos os meios de comunicação, com mais coragem do que têm seus donos.

Massacram a todos os que resistem ao poder avassalador da mídia.

Chamam-nos de “sujos”, “guerrilheiros cibernéticos” e outros quejandos.

Não são empregados de seus patrões, são “fornecedores” de “conteúdo”. Têm CNPJ.

Os homens de bem, contudo, existem. E alguns muito ousados, como Miguel do Rosário, que colocou o pescoço em risco para revelar a sonegação de R$ 615 milhões em impostos da Globo.

(Dos quais, com ousadia e sem canalhice, continuamos atrás, com todas as dificuldades de investigação, aguardem)

Em nome dos homens de bem, portanto, publico o texto de Paulo Nogueira, do Diário do Centro do Mundo, onde as coisas são colocadas no seu verdadeiro lugar.

E onde se mostra que, pelo menos nisso, Jabor tem razão: os canalhas são ousados.

Mas não são corajosos, porque não enfrentam o poder que domina o mundo e a mídia: o dinheiro.

O que é jornalismo corajoso.

E o que é o jornalismo falsamente corajoso.

Paulo Nogueira

Muitas vezes leio o seguinte comentário num texto de articulistas da grande mídia: “Como você foi corajoso!”

Quase sempre a alegada coragem é uma pancada no governo.

Pois então eu gostaria de discutir o que é coragem no jornalismo contemporâneo.

Bater no governo, em democracias, não traz risco nenhum. Portanto, não implica, também, bravura.

Uma coisa seria criticar Pinochet. Outra é criticar Dilma.

Muitos jornalistas construíram reputação de corajosos batendo em presidentes, ou ministros, sem risco nenhum.

“Você viu como Fulano bateu no Mantega? Que coragem!”

Há uma única situação de real coragem no jornalismo tal qual conhecemos hoje: criticar alguém de quem o dono goste. Ou elogiar alguém de quem ele não goste.

O resto é silêncio, como escreveu Shakespeare.

Faça o teste. Veja, por exemplo, se Jabor atacou algum amigo da Globo. Ou Merval. Ou Míriam Leitão. Ou tantos outros.

A esse alinhamento automático com os donos dei o nome, há algumas semanas, de verdadeiro “jornalismo chapa branca”.

É a independência mascarada. E a liberdade de dizer sim aos patrões: os bravos colunistas são livres desde que reproduzam os interesses das corporações para as quais trabalham. A esse fenômeno Noam Chomsky deu o nome de “liberdade para dizer sim”.

Embora aqui e ali discordem, as grandes empresas jornalísticas têm interesses econômicos comuns, no geral.

Todas elas desejam a permanência de seus privilégios. Querem a reserva de mercado que condenam em outros setores, por exemplo.

Querem que o papel que utilizam continue isento de imposto. Querem uma legislação tributária frágil o bastante para que sonegar seja um ato banal e impune.

A Globo está no meio de um escândalo fiscal espetacular. Há, no caso, uma mistura de trapaça descarada e esperteza detectada.

Para não pagar imposto, como todos sabemos, a Globo tratou a compra dos direitos da Copa de 2002 como se fosse um investimento no exterior. Por muito menos que isso o presidente do Bayern de Munique está prestes a ser preso. E Berlusconi, na Itália, só escapa das grades por ser septuagenário.

Descoberto o golpe, a Globo foi multada. Em dinheiro de 2006, a empresa devia mais de 600 milhões de reais à Receita Federal.

Para coroar o episódio, uma funcionária da Receita foi presa por tentar fazer sumir a documentação do caso.

Se ela obtivesse sucesso, a Globo estaria livre de uma dívida superior a 600 milhões de reais.

Parece inacreditável, mas é verdade.

Que jornalista da grande mídia tratou do assunto? Descontemos a turma da Globo, por razões óbvias.

Mas e a Folha, com seu autoalardeado espírito combativo e rabo preso com ninguém?

Apenas para efeito de especulação, imaginenos que a News International, de Murdoch, fizesse algo parecido no Reino Unido.

As publicações de Murdoch talvez tentassem minimizar o caso, mas a concorrência disputaria avidamente cada furo sobre o assunto para estampar na manchete.

E a opinião pública estaria num estado de torrencial indignação, como quando se descobriu que um tabloide de Murdoch invadira o celular de uma garota de 13 anos sequestrada e morta.

São as virtudes da concorrência: eu me calo conforme minha conveniência, mas meu concorrente me investiga, e o interesse público é protegido.

O que ocorreu no Brasil no caso da Globo?

Num determinado momento, cheguei a falar, pelo Facebook, com o editor executivo da Folha, Sérgio Dávila. “Escuta, vocês não vão dar nada?”

A Folha deu uma matéria que pode ser classificada como miserável.

Depois, o assunto sumiu fo jornal, como se tivesse sido resolvido. Também Dávila sumiu: deixou de responder a minhas mensagens no Facebook.

Se algum colunista da Folha – Clóvis Rossi, Eliane Cantanhêde ou quem seja – tivesse tratado do assunto mereceria palmas pela coragem.

Mas todos eles sabem que não devem escrever aquilo que seus patrões não querem que seja escrito.

O que terá acontecido no caso da Folha, o leitor pode se perguntar. Trabalhei 25 anos em grandes corporações, e posso imaginar. Um telefonema trocado entre donos resolve tudo.

É possível que, com alguma delicadeza, alguém da Globo tenha lembrado alguém da Folha que a Globo poderia publicar histórias que a Folha não gostaria de ver publicadas.

Uma breve conversa telefônica e o interesse público desaparece sob o peso dos interesses privados.

Coragem, para retomar o tema deste texto, é sair da zona de conforto dos artigos que você sabe que seus patrões irão aplaudir.

Dias atrás, Míriam Leitão defendeu Joaquim Barbosa de um ataque – inusualmente corajoso, aliás – de Noblat. (Noblat é experiente o bastante para saber que mais um prova de independência dessas e sua vida na Globo fica dramaticamente ameaçada.)

Míriam sabia que os Marinhos ficariam felizes com sua defesa de JB. Logo, coragem só teria havido se ela reforçasse os pontos levantados por Noblat contra as grosserias de JB.

O que Míriam fez é um exemplo acabado de “jornalismo chapa branca”. Mas, como numa ação de merchandising, o leitor pode ser enganado e achar que ela demonstrou grande coragem.

Em junho, Jabor fez uma ação memorável de jornalismo chapa branca. Atacou ferozmente os protestos, por dar como certo que os Marinhos eram contra.

Quando ele viu que não, voltou pateticamente atrás. Chapa branquíssima.

A internet ajudou a desmascarar o novo jornalismo chapa branca.

Com o crescimento das audiências na internet e a queda das audiências na mídia tradicional, em breve o jornalismo digital será forte o bastante para exigir esclarecimentos cabais como o caso de sonegação da Globo.

O interesse público agradecerá.

Por: Fernando Brito

sexta-feira, agosto 23, 2013

ANP quer entregar transporte do gás às multinacionais

Ontem, a Agência Nacional do Petróleo, cumprindo sua vocação de berço de ser um agente de destruição da petrobras, aprontou mais uma.

Quer limitar, nos novos gasodutos a serem construídos no Brasil, a participação da Petrobras.

O argumento é que não é bom que a mesma empresa produza e transporte o gás, porque isso contraria “a competição”.

Por isso, a ANP prepara uma resolução que impede o produtor de ser o trasnportador.

E quem é o produtor de 90% do gás brasileiro?

Adivinhou.

E quem tem quase toda a malha de gasodutos do país?

Adivinhou de novo, não é?

Não se está falando aqui de um frota de caminhões-tanque ou de uns tubinhos de encanamento de gás, daqueles pintados de amarelo que a gente vê nos prédios.

Estamos falando de dutos de alto valor logístico, capazes de definir políticas de implantação de indústrias e de jogar um papel muito pesado na definição de preços.

E de altos investimentos, com capacidade de gerar toda uma cadeia de produção industrial que pode – como faz a Petrobras – gerar encomendas milionárias para a industria brasileira ou… no exterior.

E lembremos que, com o início da exploração do pré-sal, não apenas a produção de petróleo dará um salto imenso mas, com ela, a do gás.

A ANP é o que foi criada para ser: a entregadora do petróleo brasileiro.

Por isso, quando não pode escancarar o portão, começa a tentar abrir todas as portas e portinholas que puder.

As multinacionais estão de olho neste filé e já entraram, com Fernando Henrique Cardoso, no gasoduto Brasil-Bolívia.

A BP – aquela feita com o golpe no Irã – tem 29% do controle.

E há muito tempo quer mais.

Leia este trecho do Relatório Reservado, de julho de 2000:

De um lado, Shell. Do outro, British Petroleum. Pode até dar zebra, mas é quase certo que uma das duas multinacionais seja o futuro controlador dos negócios de transporte e distribuição de gás da Enron no Brasil, Argentina e Bolívia. Outros pretendentes também procuraram oficialmente o grupo americano, porém, um detalhe crucial levou à bipolarização da disputa: apenas Shell e BP topam comprar o pacote completo, que inclui participações nos dois lados do Gasoduto Bolívia-Brasil, na Transredes, na Térmica de Cuiabá, na Elektro, na CEG, na Rio Gás e na Gaspart, além de 35% na argentina Transportadora Gas del Sur. Este é o grande diferencial. Em todas as outras negociações, os candidatos queriam apenas um ou outro ativo. O curioso é que Shell e BP pensam exatamente da mesma forma. Se pudessem escolher, também comprariam apenas os negócios no setor de gás. Como a Enron não quer saber de uma venda self-service, os dois grupos europeus pagam o pedágio. Aceitam ficar com as participações no setor de energia para colocar a mão em negócios estratégicos na área de gás, como o Gasoduto Bolívia-Brasil e a CEG. Mas o que Shell e BP fariam com as empresas elétricas? A estratégia da dupla é praticamente a mesma. As duas companhias já negociam com empresas de energia a formação de um consórcio que assumiria a operação da Elektro e da Térmica de Cuiabá. Isso para não falar que, no limite, não está descartada a própria venda futura destas empresas. Para a Shell, comprar as participações da Enron seria um negócio e tanto, sobretudo para a sua atuação no Brasil. Triplicaria os 17% que tem na Gás Transboliviano, passando a ser a maior acionista da companhia. No lado brasileiro, passaria de 4% para 12% no capital da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil, ficando individualmente atrás apenas da Gaspetro. E, de quebra, entraria no capital de nada menos do que nove distribuidoras de gás, sendo duas no Sul e cinco no Nordeste, além da CEG e Rio Gás, no Rio de Janeiro.

Tão ingênua, essa ANP…

Por: Fernando Brit

Elite corporativista teme que mudança do foco no atendimento abale o nosso sistema mercantil de saúde


Por Pedro Porfírio

A virulenta reação do Conselho Federal de Medicina contra a vinda de 6 mil médicos cubanos para trabalhar em áreas absolutamente carentes do país é muito mais do que uma atitude corporativista: expõe o pavor que uma certa elite da classe médica tem diante dos êxitos inevitáveis do modelo adotado na ilha, que prioriza a prevenção e a educação para a saúde, reduzindo não apenas os índices de enfermidades, mas sobretudo a necessidade de atendimento e os custos com a saúde.

Essa não é a primeira investida radical do CFM e da Associação Médica Brasileira contra a prática vitoriosa dos médicos cubanos entre nós. Em 2005, quando o governador de Tocantins não conseguia médicos para a maioria dos seus pequenos e afastados municípios, recorreu a um convênio com Cuba e viu o quadro de saúde mudar rapidamente com a presença de apenas uma centena de profissionais daquele país.

A reação das entidades médicas de Tocantins, comprometidas com a baixa qualidade da medicina pública que favorece o atendimento privado, foi quase de desespero. Elas só descansaram quando obtiveram uma liminar de um juiz de primeira instância determinando em 2007 a imediata “expulsão” dos médicos cubanos.

No Brasil, o apego às grandes cidades


Dos 371.788 médicos brasileiros, 260.251 estão nas regiões Sul e Sudeste

Neste momento, o governo da presidenta Dilma Rousseff só está cogitando de trazer os médicos cubanos, responsáveis pelos melhores índices de saúde do Continente, diante da impossibilidade de assegurar a presença de profissionais brasileiros em mais de um milhar de municípios, mesmo com a oferta de vencimentos bem superiores aos pagos nos grandes centros urbanos.

E isso não acontece por acaso. O próprio modelo de formação de profissionais de saúde, com quase 58% de escolas privadas, é voltado para um tipo de atendimento vinculado à indústria de equipamentos de alta tecnologia, aos laboratórios e às vantagens do regime híbrido, em que é possível conciliar plantões de 24 horas no sistema público com seus consultórios e clínicas particulares, alimentados pelos planos de saúde.

Mesmo com consultas e procedimentos pagos segundo a tabela da AMB, o volume de clientes é programado para que possam atender no mínimo dez por turnos de cinco horas. O sistema é tão direcionado que na maioria das especialidades o segurado pode ter de esperar mais de dois meses por uma consulta.

Além disso, dependendo da especialidade e do caráter de cada médico, é possível auferir faturamentos paralelos em comissões pelo direcionamento dos exames pedidos como rotinas em cada consulta.

Sem compromisso em retribuir os cursos públicos

Há no Brasil uma grande “injustiça orçamentária”: a formação de médicos nas faculdades públicas, que custa muito dinheiro a todos os brasileiros, não presume nenhuma retribuição social, pelo menos enquanto não se aprova o projeto do senador Cristóvam Buarque, que obriga os médicos recém-formados que tiveram seus cursos custeados com recursos públicos a exercerem a profissão, por dois anos, em municípios com menos de 30 mil habitantes ou em comunidades carentes de regiões metropolitanas.

Cruzando informações, podemos chegar a um custo de R$ 792.000,00 reais para o curso de um aluno de faculdades públicas de Medicina, sem incluir a residência. E se considerarmos o perfil de quem consegue passar em vestibulares que chegam a ter 185 candidatos por vaga (UNESP), vamos nos deparar com estudantes de classe média alta, isso onde não há cotas sociais.

Um levantamento do Ministério da Educação detectou que na medicina os estudantes que vieram de escolas particulares respondem por 88% das matrículas nas universidades bancadas pelo Estado. Na odontologia, eles são 80%.

Em faculdades públicas ou privadas, os quase 13 mil médicos formados anualmente no Brasil não estão nem preparados, nem motivados para atender às populações dos grotões. E não estão por que não se habituaram à rotina da medicina preventiva e não aprenderam como atender sem as parafernálias tecnológicas de que se tornaram dependentes.

Concentrados no Sudeste, Sul e grandes cidades

Números oficiais do próprio CFM indicam que 70% dos médicos brasileiros concentram-se nas regiões Sudeste e Sul do país. E em geral trabalham nas grandes cidades. Boa parte da clientela dos hospitais municipais do Rio de Janeiro, por exemplo, é formada por pacientes de municípios do interior.

Segundo pesquisa encomendada pelo Conselho, se a média nacional é de 1,95 médicos para cada mil habitantes, no Distrito Federal esse número chega a 4,02 médicos por mil habitantes, seguido pelos estados do Rio de Janeiro (3,57), São Paulo (2,58) e Rio Grande do Sul (2,31). No extremo oposto, porém, estados como Amapá, Pará e Maranhão registram menos de um médico para mil habitantes.

A pesquisa “Demografia Médica no Brasil” revela que há uma forte tendência de o médico fixar moradia na cidade onde fez graduação ou residência. As que abrigam escolas médicas também concentram maior número de serviços de saúde, públicos ou privados, o que significa mais oportunidade de trabalho. Isso explica, em parte, a concentração de médicos em capitais com mais faculdades de medicina. A cidade de São Paulo, por exemplo, contava, em 2011, com oito escolas médicas, 876 vagas – uma vaga para cada 12.836 habitantes – e uma taxa de 4,33 médicos por mil habitantes na capital.

Mesmo nas áreas de concentração de profissionais, no setor público, o paciente dispõe de quatro vezes menos médicos que no privado. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar, o número de usuários de planos de saúde hoje no Brasil é de 46.634.678 e o de postos de trabalho em estabelecimentos privados e consultórios particulares, 354.536.Já o número de habitantes que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS) é de 144.098.016 pessoas, e o de postos ocupados por médicos nos estabelecimentos públicos, 281.481.

A falta de atendimento de saúde nos grotões é uma dos fatores de migração. Muitos camponeses preferem ir morar em condições mais precárias nas cidades, pois sabem que, bem ou mal, poderão recorrer a um atendimento em casos de emergência.

A solução dos médicos cubanos é mais transcendental pelas características do seu atendimento, que mudam o seu foco no sentido de evitar o aparecimento da doença. Na Venezuela, os Centros de Diagnósticos Integrais espalhados nas periferias e grotões, que contam com 20 mil médicos cubanos, são responsáveis por uma melhoria radical nos seus índices de saúde.

Cuba é reconhecida por seus êxitos na medicina e na biotecnologia

Em sua nota ameaçadora, o CFM afirma claramente que confiar populações periféricas aos cuidados de médicos cubanos é submetê-las a profissionais não qualificados. E esbanja hipocrisia na defesa dos direitos daquelas pessoas.

Não é isso que consta dos números da Organização Mundial de Saúde. Cuba, país submetido a um asfixiante bloqueio econômico, mostra que nesse quesito é um exemplo para o mundo e tem resultados melhores do que os do Brasil.


Quando esteve em Cuba, em 2003, a deputada Lilian Sá
foi conhecer com outros parlamentares o médico de família,
uma equipe residente no próprio conjunto habitacional

Graças à sua medicina preventiva, a ilha do Caribe tem a taxa de mortalidade infantil mais baixa da América e do Terceiro Mundo – 4,9 por mil (contra 60 por mil em 1959, quando do triunfo da revolução) – inferior à do Canadá e dos Estados Unidos. Da mesma forma, a expectativa de vida dos cubanos – 78,8 anos (contra 60 anos em 1959) – é comparável a das nações mais desenvolvidas.

Com um médico para cada 148 habitantes (78.622 no total) distribuídos por todos os seus rincões que registram 100% de cobertura, Cuba é, segundo a Organização Mundial de Saúde, a nação melhor dotada do mundo neste setor.

Segundo a New England Journal of Medicine, “o sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”.

O Brasil forma 13 mil médicos por ano em 200 faculdades: 116 privadas, 48 federais, 29 estaduais e 7 municipais. De 2000 a 2013, foram criadas 94 escolas médicas: 26 públicas e 68 particulares.

Formando médicos de 69 países


Estudantes estrangeiros na Escola Latino-Americana de Medicina

Em 2012, Cuba, com cerca de 13 milhões de habitantes, formou em suas 25 faculdades, inclusive uma voltada para estrangeiros, mais de 11 mil novos médicos: 5.315 cubanos e 5.694 de 69 países da América Latina, África, Ásia e inclusive dos Estados Unidos.

Atualmente, 24 mil estudantes de 116 países da América Latina, África, Ásia, Oceania e Estados Unidos (500 por turma) cursam uma faculdade de medicina gratuita em Cuba.

Entre a primeira turma de 2005 e 2010, 8.594 jovens doutores saíram da Escola Latino-Americana de Medicina. As formaturas de 2011 e 2012 foram excepcionais com cerca de oito mil graduados. No total, cerca de 15 mil médicos se formaram na Elam em 25 especialidades distintas.

Isso se reflete nos avanços em vários tipos de tratamento, inclusive em altos desafios, como vacinas para câncer do pulmão, hepatite B, cura do mal de Parkinson e da dengue. Hoje, a indústria biotecnológica cubana tem registradas 1.200 patentes e comercializa produtos farmacêuticos e vacinas em mais de 50 países.

Presença de médicos cubanos no exterior

Desde 1963, com o envio da primeira missão médica humanitária à Argélia, Cuba trabalha no atendimento de populações pobres no planeta. Nenhuma outra nação do mundo, nem mesmo as mais desenvolvidas, teceu semelhante rede de cooperação humanitária internacional. Desde o seu lançamento, cerca de 132 mil médicos e outros profissionais da saúde trabalharam voluntariamente em 102 países.

No total, os médicos cubanos trataram de 85 milhões de pessoas e salvaram 615 mil vidas. Atualmente, 31 mil colaboradores médicos oferecem seus serviços em 69 nações do Terceiro Mundo.

No âmbito da Alba (Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América), Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha humanitária continental com o nome de Operação Milagre, que consiste em operar gratuitamente latino-americanos pobres, vítimas de cataratas e outras doenças oftalmológicas, que não tenham possibilidade de pagar por uma operação que custa entre cinco e dez mil dólares. Esta missão humanitária se disseminou por outras regiões (África e Ásia). A Operação Milagre dispõe de 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Central e do Caribe. Em 2011, mais de dois milhões de pessoas de 35 países recuperaram a plena visão.

Quando se insurge contra a vinda de médicos cubanos, com argumentos pueris, o CFM adota também uma atitude política suspeita: não quer que se desmascare a propaganda contra o regime de Havana, segundo a qual o sonho de todo cubano é fugir para o exterior. Os mais de 30 mil médicos espalhados pelo mundo permanecem fiéis aos compromissos sociais de quem teve todo o ensino pago pelo Estado, desde a pré-escola e de que, mais do que enriquecer, cumpre ao médico salvar vidas e prestar serviços humanitários.

Coluna Econômica do Nassif - 23/8/2013



O que está ocorrendo agora nada tem a ver com eventual inadimplência de países emergentes. Trata-se de um ensaio, tendo em vista a expectativa do FED (o Banco Central dos EUA) retirar os chamados estímulos monetários.

Esses estímulos consistem no resgate periódico de títulos da dívida dos EUA. Em vez de rolar a dívida, paga-se em dólares, inundando o sistema financeiro internacional com a moeda e mantendo as taxas de juros (em dólares) em níveis historicamente baixos.

Deflagra-se então um movimento de saída de recursos dos EUA, especialmente dos grandes fundos de investimento e, principalmente, de pensão, cujos cálculos atuariais embutem taxas mínimas de remuneração, para dar conta dos compromissos futuros, não atendidas pelos juros em dólares.

Ao mesmo tempo, essa revoada de dólares provoca a valorização de todos os ativos expressos em outras moedas, dentre os quais o real foi dos mais expressivos.

***

O fim dos estímulos monetários reverte o processo. Haverá um aumento das taxas de juros nos EUA, um refluxo dos investimentos norte-americanos, de volta para o país. Essa reacomodação da poupança global provocará uma desvalorização nas moedas e nos ativos dos emergentes.

***

É o chamado jogo do mico-preto. Quando se inicia o processo de desvalorização do real, que sai por último paga a conta.

O cálculo é simples:



O investidor tem, suponhamos, R$ 100 milhões aplicados aqui.
Com o dólar a R$ 2,20, fará a conversão e ficará com US$ 45,5 milhões.
Com o dólar a R$ 2,40, seus R$ 100 milhões valerão apenas US$ 41,7 milhões.


***

Esse é o mote inicial da corrida.

O mote final será o segundo tempo do jogo, quando se concretizar, de fato, o fim dos estímulos monetários e a fuga de dólares se tornar maciça.

Nesse momento, os emergentes terão dificuldades em financiar seus déficits em contas correntes. As empresas enfrentarão dificuldade para rolar suas dívidas em dólares. Escassearão as linhas de crédito às exportações e importações. A estilingada do dólar pressionará os preços e o Banco Central aumentará os juros.

Depois, será questão de tempo para a moeda se acomodar em um novo patamar e se administrar os prejuízos: empresas endividadas em dólares e inflação pressionada.

***

Há trunfos para tornar a transição menos traumáticas que em outros momentos de cataclisma global.

A primeira, a existência de reservas cambiais para garantir a oferta imediata de dólares.

A médio prazo, o plano de investimentos em infraestrutura que, se bem estruturado, significará investimentos consideráveis nos próximos anos.

A relativa estagnação da economia poderá amortecer os impactos sobre os preços.

Por outro lado, colidirá com os aumentos reais de salários dos últimos anos. As empresas exportadoras se beneficiarão do reajuste cambial e da recuperação da economia norte-americana. Aquelas que operam no mercado interno - especialmente o setor de serviços e comércio - não.

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quinta-feira, agosto 22, 2013

Desemprego e inflação: fantasmas da mídia são fantasmas. Não existem

Do Tijolaço


O IBGE divulgou a taxa de desemprego de julho: 5,6%.

Quatro décimos de ponto percentual a menos que em junho, quando foi de 6%.

Se tivesse subido 0,4%, a esta hora, manchetes apregoando a alta do desemprego.

Teríamos até malandragens estatísticas dizendo que a taxa de desemprego aumento em quase 7% (0,4 em 6,0%) em apenas um mês.

Claro que isso é um besteirol terrorista, pelas mesmas razões de equilíbrio , aqui ninguém vai fazer o raciocínio inverso, porque o índice baixou.

A verdade é que chegamos a um patamar próximo do pleno emprego e as variações, agora, precisam ser maiores ou se repetir mais para que definam uma tendência.

Só a má-fé e a politicagem podem explicar coisas assim, como a que ontem “saudou” o “aumento” da inflação medido pelo IPCA-15 – prévia da inflação oficial -, que passou de 0,07% para 0,16%.

Os dados do IBGE servem, porém, para algo mais útil: trazer para cá o excelente artigo de análise sobre o tema do professor João Saboia, da UFRJ, publicado anteontem no Valor, que sai do ti-ti-ti de 0,1% pra cá ou para lá e consolida os dados, para avaliar a situação e as mudanças de características do emprego no Brasil.

Desaceleração sim, piora ainda não

João Sabóia


Nos últimos meses tem crescido a sensação de que o mercado de trabalho está piorando ao longo de 2013. O fato da economia estar rateando tem levado muitos analistas econômicos a apontarem para diversos problemas no mercado de trabalho do país, que estaria piorando, ou na melhor das hipóteses, passando por uma forte desaceleração.

O principal objetivo deste artigo é procurar relativizar os movimentos que estão ocorrendo, mostrando que o mercado de trabalho urbano ainda poderia estar distante de uma piora em relação ao passado recente.

Conforme é sabido, o mercado de trabalho passou por um longo processo de recuperação a partir de 2004. Mesmo com o crescimento econômico relativamente baixo em alguns anos, o movimento de melhora teve continuidade, a ponto de alguns afirmarem que teríamos chegado recentemente a uma situação próxima ao pleno emprego.

A única variável que piorou foi o percentual de chefes entre os desempregados que foi de 26,2% para 26,8%

Uma das maiores dificuldades na análise mensal do mercado de trabalho é a existência de um forte componente sazonal. Mesmo com correções para dar conta da sazonalidade, as comparações mensais ficam dificultadas, pois os movimentos costumam ser mínimos de um mês ao outro, ficando dentro da margem de erro das pesquisas amostrais, como no caso da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Portanto, o mais aconselhável para se tirar conclusões mais seguras é a comparação dos dados de um mesmo mês em anos subsequentes.

56A partir dos dados das seis regiões metropolitanas cobertas pela PME montamos um indicador para o mercado de trabalho baseado na metodologia do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) utilizando nove variáveis agregadas em três grupos. Para medir o componente de desemprego são utilizadas a taxa de desemprego, o desemprego dos chefes de família e o desemprego de longa duração (mais de 1 ano). Para o componente de renda as variáveis são a remuneração média, o diferencial entre a remuneração dos empregados com e sem carteira e a sub-remuneração (abaixo do salário mínimo). Finalmente, em relação ao componente de inserção no mercado de trabalho são considerados o percentual de empregados com carteira assinada, o nível de escolaridade dos ocupados e a taxa de subocupação (poucas horas trabalhadas). O indicador síntese varia entre zero e um, indicando uma melhor situação quanto maior for o seu valor.

O resultado do índice síntese das nove variáveis está apresentado no gráfico. Conforme pode ser verificado, ao longo do primeiro semestre de 2013 o indicador continuava acima dos valores encontrados no mesmo semestre do triênio 2010/2012. É verdade que a melhora entre 2012 e 2013 tem sido bem menor do que nos anos anteriores, mas o indicador manteve-se na primeira metade do ano sistematicamente acima do encontrado no primeiro semestre de 2012.

Das nove variáveis utilizadas houve melhoria em oito quando comparados os dados do primeiro semestre de 2013 com 2012. Tomando-se como referência os valores médios obtidos no primeiro semestre dos dois anos podemos destacar os seguintes resultados:

- O percentual de empregados com carteira assinada passou de 53,5% para 54,4%;

- O percentual de ocupados com no mínimo o segundo grau completo aumentou de 62,1% para 63,6%;

- A remuneração média subiu de R$ 1.847 para R$ 1.875 (reais de junho de 2013);

- A taxa de desemprego caiu de 5,9% para 5,7%;

- O percentual de desempregados de longa duração caiu de 6,0% para 4,9%;

A única variável que piorou no período foi o percentual de chefes entre os desempregados que aumentou de 26,2% para 26,8%.

Conforme pode ser verificado no gráfico, a tendência nos últimos três anos tem sido de aumento do indicador ao longo de cada ano. Tal fato está associado à própria melhoria do mercado de trabalho no período 2010/2013, assim como a efeitos sazonais verificados durante cada ano. Exceto em 2010 quando a economia teve forte crescimento, em geral há uma flutuação no indicador no primeiro semestre, seguido de aumento no segundo.

Neste ano não tem sido diferente. O indicador flutuou no primeiro semestre de forma bastante semelhante ao que se verificou em 2012. A dúvida que fica é em relação ao que ocorrerá ao longo do segundo semestre. Se mantiver a tendência dos anos anteriores o indicador deverá aumentar refletindo o próprio movimento sazonal favorável encontrado na segunda metade de cada ano. Se isso não ocorrer, aí sim poderemos falar em piora no mercado de trabalho e teríamos o cruzamento das curvas de 2013 e 2012 em algum ponto do segundo semestre.

Em resumo, o mercado de trabalho continua apresentando resultados favoráveis em 2013, mas encontra-se em processo de desaceleração da melhoria. O segundo semestre deste ano será fundamental para a ocorrência ou não de uma reversão nesse processo que já dura uma década. Se o governo conseguir uma recuperação no estado das expectativas dos agentes é possível que o país feche o ano ainda apresentando resultados favoráveis no mercado de trabalho. Caso contrário, corremos o risco da desaceleração se transformar efetivamente numa piora.

Por: Fernando Brito

quarta-feira, agosto 21, 2013

Assim se constrói um planeta desigual

POR LADISLAU DOWBOR
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No preço decomposto do seu cafezinho emerge intermediação global, que espolia agricultores e provoca inflação cada vez mais segregadora

Por Ladislau Dowbor | Foto: Letícia Freire

A visão que herdamos é a de que lucro se gera na empresa, que paga aos trabalhadores menos do que o valor obtido. Isto sem dúvida é verdadeiro, quer chamemos o valor obtido de lucro, de mais valia, ou, de maneira mais neutra, de excedente. Não há muito a acrescentar neste debate. O que queremos aqui focar é como este lucro se desloca na cadeia produtiva. É cada vez menos o produtor que se apropria do resultado do valor agregado de um determinado produto, e cada vez mais o intermediário. Um exemplo prático, extraído do excelente estudo sobre a aplicação de ciência e tecnologia à economia agrícola, nos dá a dimensão do problema¹.


O gráfico acima mostra como se forma a cadeia de preços de um produto, o café, à medida que avançamos na cadeia produtiva, desde a produção do grão pelo agricultor, até o momento em que é transformado na bebida que tomamos. Ou seja, a evolução do preço da porta da fazenda em Uganda, à porta do bar no Reino Unido, desde os 14 centavos de dólar pagos a quem produziu o café até o equivalente de 42 dólares que pagamos no bar.

É bom seguir a evolução das colunas, que representam o valor obtido em cada etapa: porta da fazenda, comercialização primária (trader price), colocado no porto em Mombasa, colocado em Felixstowe no Reino Unido, custo do produto após processamento na fábrica, preço na prateleira do supermercado e, finalmente, o preço sob forma de café para consumo (when made into coffee). Veja-se antes de tudo a participação ridícula do produtor de café, que arca com o grosso do trabalho. Depois, ao pegarmos as cinco primeiras etapas, vemos que para o conjunto dos agentes econômicos que podem ser considerados produtivos (produtor, serviço comercial primário, transporte, processamento) a participação no valor que o consumidor final paga ainda é muito pequena.

O imenso salto se dá no preço na gôndola do supermercado, os Walmart ou equivalentes em qualquer país. E outro salto se dá no ”when made into coffee”, ou seja, quando é servido sob forma de café. O gráfico fala por si. E os valores nas pontas, 14 centavos e 42 dólares, dão uma ideia da deformação da lógica de remuneração dos fatores e dos agentes econômicos.

Não há nada de muito novo nisto, todos sabemos do peso dos atravessadores, conceito inventado justamente para dar uma conotação negativa aos intermediários dos processos produtivos que ganham não ajudando, mas colocando gargalos, ou pedágios, sobre o ciclo produtivo. Mas o que queremos levantar aqui é que há um desequilíbrio muito forte entre os esforços que dedicamos ao estudo e divulgação da variação de preços no tempo, essencialmente a inflação, e o pouco que estudamos sobre a variação de preços dentro das cadeias produtivas. Aparecem de vez em quando, como no Globo Rural que apresentou produtores de tomate no Paraná que se recusavam a vender o produto ao preço de 13 centavos por quilo (quatro reais por caixa de 30 quilos), sabendo quanto o consumidor pagaria na feira.

O impacto econômico deste processo é simples: do lado do produtor, o lucro é insuficiente para desenvolver, ampliar ou aperfeiçoar a produção, e em consequência a oferta não se expande. Do lado do consumidor, o preço é muito elevado, o que faz com que o consumo também seja limitado. Quem ganha é o intermediário, com margens muito elevadas sobre um fluxo relativamente pequeno de produto.

A lógica da desintermediação, naturalmente, é reduzir os lucros gerados no pedágio, redistribuindo esta apropriação de mais-valia entre o produtor (que poderá produzir mais e melhor) e o consumidor (sob forma de preço mais baixo, o que permitirá consumo maior, absorvendo assim o fluxo maior de produtos). E o intermediário descobrirá que ao ganhar menos sobre um volume maior, voltará a ter a sua parte do bolo sem prejudicar a cadeia produtiva.

De onde vem este poder do intermediário de travar o processo para maximizar o seu lucro? Um outro gráfico do mesmo estudo ilustra bem a situação do pequeno produtor e do consumidor final frente ao “gargalo” dos grandes intermediários:


O título do gráfico é “a concentração do mercado oferece menos oportunidades para os agricultores de pequena escala”. Trata-se aqui essencialmente de entender a dificuldade da agricultura familiar. O sentido geral do gráfico, é que a ampla base na parte de baixo, representando os agricultores (small-scale farmers) é constituída por muitos produtores (mais de quatro milhões no Brasil), dispersos e portanto com pouca força. Forma-se depois um gargalo logo acima, ao nível dos traders (comercialização primária), e o gargalo se afina mais ainda no nível dos processadores do produto, e se mantém muito concentrado no nível dos varejistas. No nível dos consumidores, a ampulheta se abre novamente de maneira radical, pois são milhões os consumidores, sem nenhuma força individual para influenciar os preços. Quando perguntamos, nos consumidores do produto final, porque o preço subiu, nos dizem que o produto “está vindo mais caro”. Vindo mais caro de onde?

A importância deste tipo de estudos, que aparecem apenas ocasionalmente e em casos extremos, é que mostram onde surge efetivamente a inflação (é o momento de “salto” radical do preço), e portanto onde se trava também o desenvolvimento dos processos produtivos. Temos hoje inúmeras instituições que fazem um seguimento muito detalhado da inflação, inclusive porque é importante para o reajuste de aluguéis, de salários e assim por diante. Mas a análise sobre de onde vem a mudança do nível geral de preços busca os setores que se destacam (por exemplo os alimentos) e não as variações de preços dentro de cada cadeia produtiva.

Praticamente ninguém estuda onde o preço está sendo aumentado, em que elo da cadeia produtiva. Os dois gráficos que apresentamos acima são muito raros, e em todo caso nem sistemáticos nem regulares, no sentido de formar uma imagem da evolução no tempo. E no entanto todos os dados da composição de custos de cada produto existem, pois uma empresa precisa deles para definir o preço final de venda. O que é necessário é fazermos um tipo de engenharia reversa, tomando um produto final – por exemplo um medicamento – e verificar a evolução dos custos em cada nível de transformação e intermediação.

Isto permitiria, por exemplo, deixar mais claro o custo da intermediação financeira nos processos produtivos, outro tipo de gargalo que encarece muito o produto final e reduz a produtividade da cadeia. Permitiria também estimular investimentos complementares nas áreas do gargalo, de forma a diversificar a oferta e reduzir o efeito de cartelização (monopsônios ou oligopsônios, no jargão econômico). Seria um instrumento poderoso para o CADE identificar pontos de incidência para políticas anti-truste e de defesa de mecanismos de mercado. E melhoraria a relação de força dos produtores frente aos intermediários, cada vez mais desequilibrada.

O que não podemos é continuar a manter esta situação em que todos sabemos do entrave que representam os atravessadores de diversos tipos para a dinamização da produção e do consumo, mas não se produz nenhuma informação adequada sobre como se constrói o preço final de cada produto. Não basta medir a inflação, temos de ver como se gera, e quem a gera. Não é particularmente complexo comparar quanto vale no mercado atacadista o ácido ascórbico, a popular vitamina C, com o que pagamos na farmácia.

Em termos de dinamização do processo produtivo em geral, trata-se de identificar os gargalos que geram lucros extraordinários sem agregação de valor correspondente. São os elos da cadeia produtiva que inflam os preços e travam a expansão do ciclo produtivo. Com cada vez menos grandes intermediários atravessando as principais cadeias produtivas, trazer um pouco de luz para a compreensão da formação da cadeia de preços seria fundamental. As diversas instituições que hoje seguem a inflação com tanto detalhe poderiam, sem muita dificuldade, abrir uma janela de atividade promissora, e prestar um bom serviço para a racionalização dos processos produtivos.



¹ IAASTD – Agriculture at a Crossroad – International Assessment of Agricultural Science and Technology for Development – Unep, New YORK, 2009

Escribas de aluguel

Emir Sader

Somente depois do fim da ditadura passou a surgir no Brasil o fenômeno de artistas e intelectuais que, até ali, estavam nas filas da oposição democrática, passassem a buscar abrigo nos espaços das elites conservadoras. A própria forma que assumiu a transição favoreceu essa conversão.

Seu caráter conciliador entre o velho e o novo, chancelado pela aliança promiscua no Colégio Eleitoral entre o PMDB e o então PFL, no bojo do qual os que não ficavam com a candidatura de Paulo Maluf, recebiam o epíteto de “democratas” ou de “liberais”, como o próprio nome do partido originário da ditadura mencionava. Antonio Carlos Magalhães, Marco Maciel, José Sarney – entre outros – embarcaram nessa canoa e foram recebidos de braços abertos pelos que organizaram a transição conservadora da ditadura à democracia.

O processo de conversão de gente de esquerda para a direita tem uma longa história. O principal mecanismo para essa transição é a critica de erros – reais ou supostos – da esquerda, como justificativa para distanciar-se desta e caminhar – de forma célere ou lenta – para a adesão à direita. Passar da critica à demonização da URSS foi a forma clássica dessa transição. Se o projeto que encarnava o socialismo de Marx, Lenin, Trotski, tinha se degenerado tão brutalmente, haveria que jogar no lixo não apenas aquela primeira forma de existência de um projeto socialista, mas o socialismo e seus teóricos e dirigentes.

Faziam essa expurgação e eram acolhidos ou na social democracia ou – passando às vezes por aí como transição – diretamente para a direita. A teoria do totalitarismo teve o papel de tentar centrar o debate não na polarização capitalismo/socialismo, buscando identificar a URSS com o nazismo, Stalin com Hitler, todos na mesma canoa do totalitarismo.

Claro que não era apenas um processo de reconversão intelectual. Era um processo de reconversão de classe social. Quem fazia esse trajeto era acolhido e bem recompensado pela direita – com edição de livros de denuncia do comunismo ou da esquerda –, com amplas entrevistas na mídia conservadora, afora outras recompensas materiais.

Nada muito diferente do que acontece no mundo nas ultimas décadas. Os pretextos podem ser o fim da URSS – confundido com o fim do socialismo –, críticas levantadas pela direita sobre corrupção em partidos de esquerda, politicas que não respeitariam o meio ambiente, etc., etc. O objetivo é encontrar álibis para deixar de ser de esquerda.

As formas que essa conversão assume são, via de regra, pelos generosos espaços que a mídia de direita reserva carinhosamente aos que se dispõem a criticar sistematicamente a esquerda, com a suposta autoridade de quem foi de esquerda ou diz que foi. Contanto que não dirijam os fuzis que a direita lhes concede contra a própria direita.

Jornais como O Globo, O Estado de São Paulo, a Folha de São Paulo, a Veja, entre outros, estão cheios de esquerdistas “arrependidos”, que poupam seus patrões – que, todos, apoiaram o golpe de 1964 –, para concentrar seu fogo na esquerda – no PT, nos governos do Lula e da Dilma, na CUT, no MST, etc., etc.

São escritores e músicos em fim de carreira, que já não produzem nada que valha a pena há décadas, que vivem do seu passado e do serviço que prestam à direita. Ganham seu dinheirinho, têm seu espaço numa imprensa cada vez menos lida, ou na TV como clowns da burguesia.

Escribas de aluguel terminam suas carreiras – que às vezes tiveram algum brilho no passado – comendo da mão da direita oligárquica, fazendo ainda pose de artistas ou de intelectuais, odiando o Brasil que se transforma, se democratiza, apesar de e contra eles.

Forum: Os Black Bloc querem a destruição de ‘alvos capitalistas’


Revista Forum


Por Redação - de São Paulo


Os Black Blocks tiveram atuação relevante nos levantes ocorridos no Egito

O movimento de jovens vestidos de preto e com máscaras, que passou a integrar a paisagem das manifestações no Brasil, afirma não temer o confronto com a polícia e defende a destruição de “alvos capitalistas”. Reportagem publicada na edição de número 125 da revista Forum que circula nas bancas e em versão Digital, na internet, assinada pelo repórter Paulo Cezar Monteiro, mostra que os ativistas Black Bloc “não são manifestantes, eles não estão lá para protestar. Eles estão lá para promover uma intervenção direta contra os mecanismos de opressão, suas ações são concebidas para causar danos às instituições opressivas”.

Leia, adiante, os melhores trechos da reportagem:

É dessa forma que a estratégia de ação do grupo que vem ganhando notoriedade devido às manifestações no País é definida por um vídeo, divulgado pela página do Facebook “Black Bloc Brasil”, que explica parte das motivações e forma de pensar dos seus adeptos.

A ação, ou estratégia de luta, pode ser reconhecida em grupos de pessoas vestidas de preto, com máscaras ou faixas cobrindo os rostos. Durante os protestos, eles andam sempre juntos e, usualmente, atacam de maneira agressiva bancos, grandes corporações ou qualquer outro símbolo das instituições Eles afirmam não temer o confronto com a polícia e defendem a destruição de “alvos capitalistas”. Conheça a história e a forma de luta que se popularizou com o movimento antiglobalização e ganha destaque no Brasil “capitalistas e opressoras”, além de, caso julguem necessário, resistirem ou contra-atacarem intervenções policiais.

Devido ao atual ciclo de protestos de rua, o Black Bloc entrou no centro do debate político nacional. Parte das análises e opiniões classifica as suas ações como “vandalismo” ou “violência gratuita”, e também são recorrentes as críticas ao anonimato produzido pelas máscaras ou panos cobrindo a face dos adeptos. Mas o Black Bloc não é uma organização ou entidade. Leo Vinicius, autor do livro Urgência das ruas – Black Bloc, Reclaim the Streets e os Dias de Ação Global, da Conrad, (sob o pseudônimo Ned Ludd), a define o como uma forma de agir, orientada por procedimentos e táticas, que podem ser usados para defesa ou ataque em uma manifestação pública.

Zuleide Silva (nome fictício), anarquista e adepta do Black Bloc no Ceará, frisa que eles têm como alvo as “instituições corporativas” e tentam defender os manifestantes fora do alcance das ações repressoras da polícia. “Fazemos o que os manifestantes não têm coragem de fazer. Botamos nossa cara a tapa por todo mundo”, afirma.
O jornalista e estudioso de movimentos anarquistas, Jairo Costa, no artigo “A tática Black Bloc”, publicado na Revista Mortal, lembra que o Black Bloc surgiu na Alemanha, na década de 1980, como uma forma utilizada por autonomistas e anarquistas para defenderem os squats (ocupações) e as universidades de ações da polícia e ataques de grupos nazistas e fascistas. “O Black Bloc foi resultado da busca emergencial por novas táticas de combate urbano contra as forças policiais e grupos nazifascistas. Diferentemente do que muitos pensam, o Black Bloc não é um tipo de organização anarquista, ONG libertária ou coisa parecida, é uma ação de guerrilha urbana”, contextualiza Costa.

De acordo com um dos “documentos informativos” disponíveis na página do Facebook, alguns dos elementos que os caracterizam são a horizontalidade interna, a ausência de lideranças, a autonomia para decidir onde e como agir, além da solidariedade entre os integrantes. Atualmente, há registros, por exemplo, de forças de ação Black Bloc nas recentes manifestações e levantes populares no Egito.

Black Bloc no Brasil

Para Leo Vinicius, é um “pouco surpreendente” que essa estratégia de manifestação urbana, bastante difundida ao redor do mundo, tenha demorado a chegar por aqui. “Essa forma de agir em protestos e manifestações ganhou muito destaque dentro dos movimentos antiglobalização, na virada da década de 1990 para 2000. Não é uma forma de ação política realmente nova”. No Brasil, existem páginas do movimento de quase todas as capitais e grandes cidades, a maior parte delas criadas durante o período de proliferação dos protestos. A maior é a Black Bloc Brasil, com quase 35 mil seguidores, seguida pela Black Bloc–RJ, com quase 20 mil membros.

A respeito da relação com o anarquismo, Vinicius faz uma ressalva. É preciso deixar claro que a noção de que “toda ação Black Bloc é feita por anarquistas e que todos anarquistas fazem Black Bloc” é falsa. “A história do Black Bloc tem uma ligação com o anarquismo, mas outras correntes como os autonomistas, comunistas e mesmo independentes também participavam. Nunca foi algo exclusivo do anarquismo. Na prática, o Black Bloc, por se tratar de uma estratégia de operação, pode ser utilizado até por movimentos da direita”, explica o escritor.

Para alguns ativistas, o processo de aceitação das manifestações de rua, feito pela grande mídia e por parte do público, de certa forma impôs que, para serem considerados legítimos, os protestos deveriam seguir um padrão: pacífico, organizado, com cartazes e faixas bem feitas e em perfeito acordo com as leis. Vinicius demonstra certa preocupação com a possibilidade do fortalecimento da ideia de que essa forma “pacífica” seja vista como o único meio possível ou legítimo de protestar. Ele afirma que não entende como violenta a ação Black Bloc de quebrar uma vidraça ou se defender de uma ação policial excessiva. “A violência é um conceito bastante subjetivo. Por isso, não dá pra taxar qualquer ato como violento, é preciso contextualizá-lo, entender as motivações por trás de cada gesto”, avalia.

Para ele, a eficácia de uma manifestação está em saber articular bem formas de ação “pacíficas” e “não pacíficas”. Foi esse equilíbrio, analisa, que fez com que o Movimento Passe Livre – São Paulo (MPL-SP) barrasse o aumento da tarifa na capital paulista. “Só com faixas e cartazes a tarifa não teria caído”, atesta. “Quem tem o poder político nas mãos só cede a uma reivindicação pelo medo, por sentir que as coisas podem sair da rotina, de que ele pode perder o controle do Estado”, sentencia.

Por outro lado, Vinicius alerta que é preciso perceber os limites para evitar que as ações mais “radicais” façam com que o movimento seja criminalizado ou se isole da sociedade e, com isso, perca o potencial de realizar qualquer mudança. Em sua obra, faz a seguinte definição daqueles que adotam a estratégia Black Bloc: “Eles praticam uma desobediência civil ativa e ação direta, afastando assim a política do teatro virtual perfeitamente doméstico, dentro do qual [a manifestação política tradicional] permanece encerrada. Os BB não se contentam com simples desfiles contestatórios, certamente importantes pela sua carga simbólica, mas incapazes de verdadeiramente sacudir a ordem das coisas”, aponta.

Outra crítica recorrente é o fato de os BB usarem máscaras ou panos para cobrirem os rostos. Os adeptos da ação explicam que as máscaras são um meio de proteger suas identidades para “evitar a perseguição policial” e outras formas de criminalização, como também criar um “sentimento de unidade” e impedir o surgimento de um “líder carismático”.
Luta antiglobalização
Com o passar do tempo, segundo Jairo Costa, as táticas Black Bloc passaram a ser reconhecidas como um meio de expressar a ira anticapitalista. Ele explica que geralmente as ações são planejadas para acontecer durante grandes manifestações de movimentos de esquerda.

O estudioso destaca como um dos momentos mais significativos da história Black Bloc a chamada “Batalha de Seattle”, em 1999, contra uma rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em 30 de novembro daquele ano, após uma tarde de confrontos com as forças policiais, uma frente móvel de black blockers conseguiu quebrar o isolamento criado entre os manifestantes e o centro comercial da cidade. Após vencer o cerco policial, os manifestantes promoveram a destruição de várias propriedades, limusines e viaturas policiais, e fizeram várias pichações com a mensagem “Zona Autônoma Temporária”. Estimativas apontam prejuízos de 10 milhões de dólares, além de centenas de feridos e 68 prisões.
Para Costa, um dos episódios mais impactantes – e duros – da história Black Bloc foi o assassinato de Carlo Giuliani, jovem anarquista de 23 anos, durante a realização simultânea do Fórum Social de Gênova e a reunião do G8 (Grupo dos oito países mais ricos), na Itália, em julho de 2001. Ele lembra que, após vários confrontos violentos – alguns deles vencidos pelos manifestantes, que chegaram a provocar a fuga dos policiais, que deixaram carros blindados para trás –, ocorreu o episódio que levou à morte de Giuliani.

“Ele partiu para cima de um carro de polícia tentando atirar nele um extintor de incêndio. Muitos fotógrafos estavam por lá e seus registros falam por si. Ao se aproximar do carro, Giuliani é atingido por dois tiros, um na cabeça. E, numa cena macabra, o carro da polícia dá marcha a ré e atropela-o várias vezes”, narra. Os assassinos de Carlo Giuliani não foram condenados. Dois anos após o fato, a Justiça italiana considerou que a ação policial se deu como “reação legítima” ao comportamento do militante.

Alvos capitalistas

Entre as formas de ação direta do Black Bloc destacam-se os ataques aos chamados “alvos simbólicos do capital”, que incluem joalherias, lanchonetes norte-americanas ou ainda a depredação de instituições oficiais e empresas multinacionais. Costa explica que essas ações “não têm como objetivo atingir pessoas, mas bens de capital”.
Zuleide justifica a destruição praticada contra multinacionais ou outros símbolos capitalistas, porque elas seriam mecanismo de “exploração e exclusão das pessoas”. “Queremos que esses meios que oprimem e desrespeitam um ser humano se explodam, vão embora, morram. Trabalhar dez horas por dia para não ganhar nada, isso é o que nos enfurece. Por isso, nossas ações diretas a eles, porque queremos causar prejuízos, para que percebam que há pessoas que rejeitam aquilo e que lutam pela população”, explica.

Ela reconhece que essas ações diretas podem deixá-los “mal vistos” na sociedade, já que há pessoas que pensam: “Droga, não vou poder mais comer no ***** porque destruíram tudo”. Porém, Zuleide afirma que o trabalhador, explorado por essas corporações, “adoraria fazer o que nós fazemos”, mas, por ter família para sustentar e contas a pagar, não faz. “Esse é mais um dos motivos que nos fazem do jeito que somos”, pontua.

Vinicius explica que, nas “ações diretas”, os black blockers atacam bens particulares por considerarem que “a propriedade privada – principalmente a propriedade privada corporativa – é em si própria muito mais violenta do que qualquer ação que possa ser tomada contra ela”. Quebrar vitrines de lojas, por exemplo, teria como função destruir “feitiços” criados pela ideologia capitalista. Esses “feitiços” seriam meios de “embalar o esquecimento” de todas as violências cometidas “em nome do direito de propriedade privada” e de “todo o potencial de uma sociedade sem ela [as vitrines]”.

Sem violência?

Em praticamente todas as manifestações, independentemente das causas e dos organizadores, tornou-se comum o grito: “Sem violência! Sem violência!”, que tinha como destinatários os policiais que, teoricamente, entenderiam o caráter “pacifista” do ato. Também seria uma tentativa de coibir a ação de “vândalos” ou “baderneiros”, que perceberiam não contar com o apoio do restante da massa.

Zuleide reconhece que, inicialmente, a ação Black Bloc era alvo desses gritos, mas, segundo ela, quando as pessoas entendem a forma como eles atuam, isso muda. “Os manifestantes perceberam que o Estado não iria nos deixar falar, nos deixar reivindicar algo, e começaram a nos reprimir. Quando há confronto [com a polícia], nós os ajudamos retardando a movimentação policial ou tirando eles de situações que ofereçam perigo, e alguns perceberam isso”, afirma.

Apesar de os confrontos com policiais não serem uma novidade durante as suas ações, os adeptos afirmam não ter como objetivo atacar policiais. Contudo, outro documento intitulado “Manifesto Black Bloc” deixa claro que, caso a polícia assuma um caráter “opressor ou repressor”, ela se torna, automaticamente, uma “inimiga”.

No “Manual de Ação Direta – Black Bloc”, também disponível na internet, a desobediência civil é definida como “a não aceitação” de uma regra, lei ou decisão imposta, “que não faça sentido e para não se curvar a quem a impõe. É este o princípio da desobediência civil, violenta ou não”. Entre as possibilidades de desobediência civil são citadas, por exemplo, a não aceitação da proibição da polícia que a manifestação siga por determinado caminho, a resistência à captura de algum manifestante ou, ainda, a tentativa de resgatar alguém detido pelos policiais.

Também são ensinadas táticas para resistir a gás lacrimogêneo, sprays de pimenta e outras formas de ação policial, além de dicas de primeiros socorros e direitos legais dos manifestantes. De acordo com o documento, as orientações desse manual tratam apenas da desobediência civil “não violenta”.

Outra orientação é que seja definido, antes da manifestação, se a desobediência civil será “violenta” ou “não violenta”. Caso se opte pela ação ‘não violenta’, essa decisão deve ser respeitada por todos, visto que não cumprir o combinado pode pôr “em risco” outros companheiros, além de ser um sinal de “desrespeito”.

Contudo, o mesmo manual deixa claro que o que “eles fazem conosco” todos os dias é uma violência, sendo assim, “a desobediência violenta é uma reação a isso e, portanto, não é gratuita, como eles tentam fazer parecer”.
Uma breve história

1980: O termo Black Bloc (Schwarzer Block) é usado pela primeira vez pela polícia alemã, como forma de identificar grupos de esquerda na época denominados “autônomos, ou autonomistas”, que lutavam contra a repressão policial aos squats (ocupações).

1986: Fundada, em Hamburgo (Alemanha), a liga autonomista Black Bloc 1500, para defender o Hafenstrasse Squat.

1987: Anarquistas vestidos com roupas pretas protestam em Berlim Ocidental, por ocasião da presença de Ronald Reagan, então presidente dos EUA, na cidade.

1988: Em Berlim Ocidental, o Black Bloc confronta-se com a polícia durante uma manifestação contra a reunião do Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

1992: Em São Francisco (EUA), na ocasião do 500º aniversário da descoberta da América por Cristóvão Colombo, o Black Bloc manifesta-se contra o genocídio de povos nativos das Américas.

1999: Seattle contra a Organização Mundial do Comércio (OMC). Estima-se em 500 o número de integrantes do Black Bloc que destruíram o centro econômico da cidade.

2000: Em Washington, durante reunião do FMI e Banco Mundial, cerca de mil black blockers anticapitalistas saíram às ruas e enfrentaram a polícia.

2000: Em Praga (República Tcheca), forma-se um dos maiores Black Blocs que se tem notícia, durante a reunião do FMI. Cerca de 3 mil anarquistas lutam contra a polícia tcheca.

2001: Quebec (Canadá). Membros do Black Bloc
são acusados de agredir um policial durante uma marcha pela paz nas ruas de Quebec. Após esse evento, a população local e vários manifestantes de esquerda distanciaram-se da tática Black Bloc e de seus métodos extremos.
2001: A cidade de Gênova (Itália), ao mesmo tempo, recebeu a cúpula do G8 e realizou o Fórum Social de Gênova, com um grande número de Black blockers, além de aproximadamente de 200 mil ativistas. A ação ficou marcada pela violenta morte do jovem Carlo Giuliani, de 23 anos.

2007: Em Heiligendamm (Alemanha), reunião do G8 foi alvo de uma ação com a participação de cerca de 5 mil blackblockers . Mobilização Black Bloc de cerca de 5.000 pessoas

2010: Toronto (Canadá), na reunião do G20. Neste confronto, mais de 500 manifestantes foram presos e dezenas de outros ativistas foram parar em hospitais com inúmeras fraturas.

2013: Cairo (Egito). O Black Bloc aparece com forte atuação nos protestos da Praça Tahir, no combate e resistência ao exército do então presidente Hosni Mubarak.

Fonte: Artigo A Tática Black Bloc, escrito por Jairo Costa, na Revista Mortal, 2010.