quinta-feira, maio 09, 2013

OMC: a diplomacia do PT não isolou o Brasil


Agência Carta Maior

Saul Leblon

Com a oposição dos países ricos e a má vontade da mídia conservadora brasileira, mas o apoio coeso das nações em desenvolvimento, o Brasil conquistou o mais importante posto internacional de sua história: a direção da Organização Mundial do Comércio.

Não foi um ponto fora da curva.

A política externa independente do Itamaraty, adotada desde 2003, firmou o país como liderança representativa das economias pobres e em desenvolvimento.

Com o apoio delas, o Brasil já havia vencido a eleição para dirigir a FAO, em 2012. Um sinal minimizado por uns e desdenhado por outros. Agora, tornou-se mais difícil ignorar a travessia em curso.

O candidato derrotado na OMC, o mexicano Herminio Blanco, foi um dos arquitetos do Nafta. Alinhado ao pensamento neoliberal, representava os interesses que jogaram o mundo na pior crise do capitalismo desde 1929.

A vitória na FAO, com o ex-ministro José Graziano da Silva, marcou a primeira renovação importante de um organismo internacional, depois da derrocada financeira de 2008.

Graziano derrotou a candidatura espanhola igualmente apoiada pelos países ricos.

O escrutínio das urnas mediria a eficácia da diplomacia independente dos anos Lula, acidamente criticada pelos sócios nativos de Washington.

Com Celso Amorim e Samuel Guimarães no comando, o Itamaraty faria forte inflexão em direção ao mundo em desenvolvimento.

O continente africano e a América Latina em peso garantiriam a eleição brasileira na FAO.

Foi uma vitória apertada, mas reveladora de um novo ciclo agora confirmado.

O êxito na OMC, com Roberto Azevêdo, acontece em meio aos escombros de cinco anos de desordem neoliberal.

Políticas de autopreservação dos países ricos asfixiam nações pobres.

Uma guerra cambial e comercial insana evidencia a imperiosa necessidade de uma coordenação global que não interessa às nações hegemônicas, empenhadas em reafirmar a ocupação do terreno.

Não por acaso, desta vez a vitória brasileira foi esmagadora.

A diferença da ordem de 30 votos inibiu a reação dos países ricos que, em revés anterior, em 1999, anularam na prática a posse do candidato tailandês escolhido pela maioria da organização.

Por tudo isso, o êxito na OMC representa também um trunfo interno expressivo do governo Dilma.

O dispositivo midiático conservador torcia pela vitória de quem simbolizava, no plano internacional, a coalizão de interesses locais que hoje busca restaurar a lógica dos anos 90 na economia, na política e na diplomacia brasileira.

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