quarta-feira, dezembro 12, 2012

A inédita projeção externa do Brasil


Por Assis Ribeiro
Do Estadão

A identidade brasileira no exterior

Rubens Barbosa


Respaldado pelo crescimento da economia e pela rápida expansão do mercado do­méstico, em con­sequência da redução das desi­gualdade e da inclusão de mais de 40 milhões de brasileiros na classe média, o Brasil ganhou inédita projeção externa. A per­cepção de que o País surge co­mo a nação líder na América do Sul e um dos principais merca­dos emergentes apresenta desafios e responsabilidades para a economia e para a política ex­terna que não existiram até o passado recente.

A crescente presença do Bra­sil para além do seu entorno geográfico e sua influência no cená­rio internacional suscitam uma nova preocupação: qual a identidade do Brasil? Qual a marca Brasil? Como o País é percebido no exterior e como gostaríamos de ser vistos pela comunidade internacional? Quais as nossas credenciais e o nosso diferen­cial para ocuparmos um lugar de destaque na mesa principal?

Roberto DaMatta, o maior an­tropólogo brasileiro, há quase 20 anos estudou as característi­cas da identidade brasileira. O que faz o brasil, Brasil? define com precisão o sentido denso da realidade do nosso país. Seu trabalho, contudo, está voltado para dentro, para o jeito de ser e de atuar do brasileiro.

Com que credenciais o Brasil se apresenta hoje no cenário in­ternacional e como é visto pelos agentes políticos no exterior?

Não ser uma potência nu­clear, nem uma ameaça militar; o peso da economia no contex­to global (o Brasil é a sexta eco­nomia no mundo); a importân­cia da agricultura e da produ­ção de alimentos; a estabilida­de institucional, política e eco­nômica; o relevante papel de­sempenhado pelo Brasil em or­ganizações internacionais; a participação do Brasil em ques­tões regionais além das frontei­ras da América do Sul; o mente e a defesa de nossos inte­resses comerciais e financeiros no exterior. Em muitos casos, têm prevalecido estes em detri­mento daqueles.

A nova projeção externa e a crescente presença das empre­sas brasileiras no exterior vai exigir uma gradual sofisticação da definição do interesse nacio­nal brasileiro. O exercício do soft power implica uma ação in­tegrada de política externa e a definição de áreas prioritárias (América Latina e África), além de ações propositivas nas dis­cussões sobre temas globais nos organismos internacionais.

Levando em consideração os interesses globais do País, so­bretudo numa visão de longo prazo, a projeção do Brasil co­mo um país de soft power não é suficiente. A política externa, para defender o interesse nacio­nal, deverá contar também com o hard power, isto é, com um crescente poder dissuasó­rio, mediante a modernização de suas Forcas Armadas e o for­talecimento da indústria de de­fesa nacional.

Em reunião que está sendo realizada hoje na Fiesp, será da­da uma contribuição para o exa­me dessa questão, que tem sido muito pouco discutida até aqui. O encontro sobre o Brasil como uma potência com capa­cidade de influir por suas atitu­des e ações focalizará o que es­tá ocorrendo no exterior por meio de ações concretas nas áreas de cooperação e assistên­cia técnica, financiamentos, as­sistência humanitária e opera­ções de paz.

Na conclusão da reunião se­rão identificadas políticas a se­rem sugeridas ao governo, por meio da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que teve a iniciati­va de propor esse debate:

Ampliação da coordenação entre o Itamaraty, o Ministério da Agricultura (Embrapa, Conab), os Ministérios da Fazen­da, da Ciência e Tecnologia, da Educação e da Cultura para que as ações setoriais sejam vistas como parte de uma política coe­rente e consequente do gover­no brasileiro; fortalecimento da Agência Brasileira de Cooperação, com um orçamento que possa res­ponder à decisão política;apoio do setor privado (Se­si, Senai); fortalecimento do Departa­mento Cultural do Itamaraty para a promoção da música, da literatura, das artes em geral do Brasil, a começar pela América Latina e nos principais países desenvolvidos;criação de Instituto Brasil, nos moldes do Cervantes, da Es­panha, e do Confúcio, da China, como resposta à projeção de va­lores e cultura brasileiros;criação de um Departamen­to de Diplomacia Pública, para a coordenação da política de di­vulgação do Brasil no exterior;e melhor aproveitar as opor­tunidades que se abrem pela participação do Brasil em gru­pos como o Brics e a CPLP.

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