segunda-feira, abril 02, 2012

Brasil tem quinto menor custo de produção em ranking de 14 países



VALOR

Entre os custos de produção da indústria de transformação, os que mais contribuem negativamente para o Brasil na comparação com outros países são energia, tributação sobre lucro e locação de instalações. Em outros itens, como mão de obra, o Brasil ainda mantém competitividade quando o alvo de comparação são as economias mais maduras, como Alemanha, Reino Unido, França e Estados Unidos, mas fica atrás em relação aos países considerados emergentes, como China, Índia, Rússia e México. Em relação à tributação sobre lucro, energia, e locação de instalações, porém, o custo brasileiro é maior que o de várias economias, seja na comparação com países emergentes ou desenvolvidos.

A conclusão é de um levantamento da KPMG sobre competitividade, que comparou o peso dos principais custos de negócios em diversas atividades em 14 países. A China lidera a classificação como o menor custo para negócios. O Brasil ficou em quinto lugar. O Japão tem o custo mais caro de todos, 9,4% maior que o dos Estados Unidos. A pesquisa elegeu algumas cidades para retratar os custos dos diferentes países. No caso do Brasil foram considerados São Paulo e Belo Horizonte. Para a comparação, os custos foram contabilizados na moeda americana e, no caso brasileiro, levou em conta câmbio com dólar a R$ 1,80.

Dentro do universo de 14 países (ver quadro ao lado), a China lidera o ranking de menor custo não só para a atividade industrial como no levantamento geral, que inclui outros setores. Além da indústria de transformação, o estudo avaliou os custos de negócio nos segmentos de pesquisa e desenvolvimento, Tecnologia da Informação (TI) e serviços. Os chineses vem seguidos da Índia, México e Rússia. O Brasil vem em quinto lugar tanto na classificação da indústria quanto no ranking geral.

A pesquisa toma como referência os Estados Unidos, país considerado como base 100. Nessa comparação, o custo dos negócios no Brasil é 7% menor do que o americano. Os chineses e indianos têm vantagem semelhante entre eles, com um custo cerca de 25% menor do que o dos Estados Unidos. A vantagem do México é de 21%.

Em relação à China e à Índia, o Brasil tem maior custo nos principais itens levantados para a comparação da indústria de transformação – mão de obra, locação de instalações, transporte, energia e alíquota efetiva da tributação sobre lucro. Segundo a pesquisa, o custo de mão de obra da indústria de manufaturados- que soma salários, direitos trabalhistas e benefícios usualmente concedidos pelas empresas – no Brasil é o dobro da do México e mais que duas vezes e meia o custo chinês. O dispêndio com mão de obra na Índia é quase um quarto do brasileiro.

O custo da indústria de transformação com os empregados no Brasil, porém, é entre 30% a 35% menor do que o mesmo item na Alemanha ou Estados Unidos. A mão de obra não é o único dispêndio no qual o Brasil ainda é mais competitivo que os países mais desenvolvidos. O custo de transportes, segundo a pesquisa, também é mais baixo que o dos americanos e quase empata com o dos alemães.

O problema, destaca Roberto Haddad, sócio de internacional e de fusões e aquisições da KPMG, é que o custo dos negócios no Brasil é muito alto quando a comparação se restringe a outros países emergentes com os quais há disputa por investimentos estrangeiros. “Ao mesmo tempo, a pesquisa mostra também que o Brasil tem outros dispêndios mais altos do que o das economias mais maduras”, diz. “A carga tributária é sem dúvida um fator que tira a competitividade, mas não é só isso”, diz.

A alíquota efetiva sobre lucro no Brasil para a indústria de transformação é a maior entre o 14 países pesquisados. Essa carga no Brasil é de 34,1%. A Itália vem em seguida, com 33,8%. Segundo o levantamento, a Índia também tem alta tributação sobre lucro, com alíquota efetiva de 28,5%. Os alemães vêm depois, com 28,4%, e a tributação chinesa é bem menor – 14,3%.

“O problema da carga tributária no Brasil não é somente o total do recolhimento feito, mas também o custo gerado pela falta da contrapartida em termos de serviços públicos”, diz Haddad. “A carga de tributos é alta, e não há retorno em serviços como saúde e educação, outros fatores que também afetam a competitividade.”

Na locação de instalações para a produção de manufaturados, o Brasil é o terceiro país mais caro na amostra dos 14 países, perdendo somente para o Japão e a Rússia. Outro item caro no Brasil é a energia. A eletricidade brasileira é a segunda mais cara entre os locais comparados no estudo, perdendo somente pra a Austrália. A energia elétrica brasileira é 150% mais cara que a da China, da Índia e até da de países europeus, como Alemanha.




Peso do salário ’sobe’ com produtividade baixa
Por Sergio Lamucci | VALOR
De São Paulo

SÃO PAULO – Após acompanhar a evolução dos salários entre 2004 e 2007, a produtividade do trabalho na indústria de transformação passou a perder feio essa corrida nos quatro anos seguintes. Entre 2008 e 2011, o salário médio real cresceu 12,4%, enquanto a produtividade avançou apenas 4,7%, em cálculos que cruzam a pesquisa industrial e a de salários na indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar de crescente, a alta dos salários em reais e em dólar, especialmente, traz preocupações ao setor industrial. Como eles estão longe de ser os mais altos do mundo, essa conta tem sugerido, para vários analistas, que o problema está mais na eficiência, do que no nível do rendimento.

Coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e professor da USP, Naercio de Menezes Filho é um dos que veem na baixa produtividade do trabalhador um dos problemas que atrapalham a competitividade da indústria. Para ele, os aumentos de salários em reais não têm sido muito salgados. Em dólares, porém, a conta aumenta. De 2005 a 2011, por exemplo, a folha de salários da indústria aumentou 57% em dólares, já descontando os ganhos de produtividade, segundo a MB Associados.

A comparação internacional mostra que, mesmo com o avanço expressivo em dólares, o custo da mão de obra industrial brasileira não é dos mais elevados. Em 2010, estava em pouco mais de US$ 10 a hora, segundo números do Departamento de Trabalho dos EUA. É superior ao de emergentes como México (US$ 6,23) e China (US$ 1,36 em 2008, um dado não totalmente comparável), mas inferior ao de países como EUA (US$ 34,74) e mesmo Coreia do Sul (US$ 16,62).

Menezes Filho diz que a produtividade do trabalho no Brasil tem crescido pouco. De 2005 a 2010, subiu 2,2% ao ano por aqui, abaixo dos 3,2% da Rússia, dos 6% na Índia e dos 10% na China, segundo o instituto de pesquisa americano Conference Board. Esses números, contudo, se referem ao conjunto da economia, e não apenas à indústria. “Mas as informações que nós temos é de que a produtividade no setor tem ficado relativamente estagnada”, diz Menezes Filho. Para ele, os trabalhadores brasileiros são pouco eficientes por diversos fatores, a começar pelos poucos anos de escolaridade e pela péssima qualidade da educação. Como resultado, boa parte da mão de obra é pouco qualificada.

O economista também acha que a produtividade é afetada por práticas ultrapassadas de gestão, que tenderiam a predominar na maior parte das empresas. Isso diminui a eficiência dos trabalhadores. “Além disso, apenas 5% das empresas industriais gastam com pesquisa e desenvolvimento, o que significa que inovam pouco, tanto em produtos como em processos. No país, as companhias estão muito distantes das universidades.”

Números da Universidade da Pensilvânia indicam que o trabalhador brasileiro é menos produtivo que o americano, o alemão e o coreano, mas ainda é mais eficiente que o chinês, segundo o economista Samuel Pessôa, sócio da Tendências Consultoria e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV). Em 2008, o brasileiro produzia o equivalente a US$ 17,9 mil por ano; o americano, a US$ 84,7 mil; o alemão, a US$ 67 mil; o coreano, a US$ 50,9 mil; e o chinês, a US$ 11,9 mil. Esses dados se referem à capacidade de produção média dos trabalhadores de toda a economia.

Pessôa diz que a evidência internacional é de que “os diferenciais de produtividade do trabalho da indústria de transformação entre diferentes países é menor do que os diferenciais de produtividade média”. Com isso, os diferenciais de produtividade entre Brasil e China na indústria devem ser menores do que o da média da economia. E, como a eficiência avança mais rápido no país asiático do que por aqui, a diferença tende a cair rapidamente.

Como Menezes Filho, o economista José Marcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos, também considera fundamental a indústria melhorar a produtividade, mas acha que houve, sim, um aumento razoável do custo da mão de obra em reais. Camargo calculou a evolução do custo unitário do trabalho (medida da evolução da folha de salários em comparação com a da produtividade) levando em conta os preços de bens industriais finais do Índice de Preços ao Produtor (IPA) da Fundação Getulio Vargas (FGV). De meados de 2008 – quando começa a aumentar – até o fim de 2011, ele subiu 19%. Esse indicador é importante por mostrar a capacidade ou não da indústria de reajustar os preços. Nos últimos anos, com a forte concorrência importada, os aumentos têm sido limitados.

Para comparar, o custo unitário do trabalho deflacionado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 12,8% no mesmo período. De um lado, a indústria vê a mão de obra subir acima dos ganhos de produtividade, num momento em que o mercado de trabalho está muito aquecido. De outro, gasta mais com os serviços, que sobem de 8% a 9% ao ano e dos quais também é consumidora. A saída é melhorar a produtividade, diz Camargo, que vê como alguns obstáculos para isso uma educação fraca e uma legislação trabalhista que incentiva a rotatividade do trabalhador pouco qualificado.

O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lucio, combate a ideia de que os salários subiram muito em reais, mesmo que possam ter avançado acima da produtividade. Segundo ele, é possível que os aumentos salariais tenham sido compensados por ganhos relacionados a melhora de tecnologia, gestão e logística. Lúcio não acha que o trabalhador brasileiro da indústria seja pouco produtivo.

Numa planta de ponta no Brasil, ele pode ser tão eficiente quanto o operário de um país desenvolvido, acredita ele. “O principal problema da perda de competitividade da indústria é o câmbio, combinado ao fato de que, depois da crise, todo mundo quer vender para o Brasil, um dos mercados que mais crescem.”

O diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Fernando Sarti, torce o nariz para quem aponta a alta de salários como um dos principais motivos da perda de competitividade da indústria. Ele acha que o aumento em reais não foi muito expressivo, e que o valor do rendimento médio no setor está longe de ser astronômico. “A alta muito forte ocorreu com o salário medido em dólares, por causa da valorização do câmbio”, afirma Sarti, destacando que o peso da mão de obra na estrutura de custos da indústria é baixo, embora varie muito de setor para setor.

Pessôa vê um movimento de alta considerável da mão de obra em reais nos últimos anos, dado o aquecimento do mercado de trabalho, mas diz que ele se tornou muito mais dramático em dólares. “É o câmbio que mata a indústria”, avalia Pessôa. Ele discorda, contudo, da estratégia para tentar mudar o nível do real, marcada pela combinação de compras maciças de reservas, controles de capital e redução de juros talvez além do razoável. Com a alta dos preços de commodities e a baixa taxa de poupança doméstica brasileira, o real ficará estruturalmente valorizado, acredita Pessôa.

Para melhorar a competitividade do setor industrial ele propõe aumentar a carga tributária dos setores de serviços e dos que produzem commodities, para permitir a desoneração da indústria de transformação. Aumentos de produtividade, por sua vez, são bem-vindos, mas não devem devolver a competitividade perdida para o câmbio valorizado, diz ele.

(Sergio Lamucci | Valor)

Postado por Luis Favre
Comentários
Tags: custo de produção,

COMENTÁRIO E & P

Isso acaba de vez com a falácia de que o custo de se produzir no Brasil é muito alto, conforme divulgam economistas de neoliberais e comentaristas da imprensa. Para alguns deles a Lei Aurea deveria ser revogada e o trabalhador brasileiro receber os mesmos salários do chinês, sem a contraprestação que o Estado chinês oferece aos trabalhadores. A chamada flexibilização do trabalho nada mais é que a volta do trabalho escravo, com salários miseráveis e sem nenhuma proteção trabalhista. Os cursos de economia da PUC-Rio e da FGV-Rio deveriam ser repensados e humanizados. São pessoas oriundas da subelite brasileira (não tem projeto de nação)que pouco se importam com a qualidade de vida da população brasileira que estudam nessas instituições. E pioram ainda mais quando vão fazer pós-graduação em Chicago, Harvard ou Yale. Ai perdem o cérebro e a racionalidade de vez. Os comentaristas econômicos brasileiros são uma vergonha, não acertam uma, deveriam ser demitidos por incapacidade intelectual. São imbecilizados e de direita a grande maioria e sempre se posicionam contra a população na questão de distribuição de renda e igualdade social. Eles estão a serviço da manutenção da desigualdade social e defendem interesses de outros países em detrimento do Brasil. É só ouvir, ler ou assistir o que eles falam para sacar que o objetivo não é informar, mas desinformar.

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