quinta-feira, novembro 17, 2011

Sobre o programa nuclear de Israel



Joseph Massad é professor associado de Política e História Intelectual Árabe Moderna na Columbia University, em New York.

Quantas vezes será preciso recontar essa história? É sabida de todos nos EUA, na Europa, no mundo árabe, de fato, no mundo inteiro. Lê-se sobre isso na imprensa internacional desde o final dos anos 1960s. Os detalhes históricos do caso são também bem conhecidos.

Em 1955, o presidente Dwight Eisenhower deu a Israel o primeiro pequeno reator nuclear em Nahal Sorek; em 1964, os franceses construíram para Israel o muito maior reator nuclear Dimona, no deserto de Naqab (Negev); em 1965, Israel roubou dos EUA, 90,9 kg de urânio enriquecido para fazer bombas (ação de espiões israelenses numa empresa da Pensilvania, Nuclear Materials & Equipment Corporation); em 1968, Israel sequestrou um navio liberiano em águas internacionais e roubou a carga de 200 toneladas de yellowcake que o navio transportava. Desde o início dos anos 1970s, Israel tem bombas atômicas.

Os EUA e Israel dizem que o Irã seria uma ameaça
para a paz mundial se possuísse uma arma nuclear.
Apesar dos desmentidos oficiais, todo o mundo sabe que Golda Meir, quarta primeiro-ministro de Israel, esteve a um passo de lançar 13 bombas nucleares sobre Síria e Egito em 1973 e só desistiu de cometer esse ato de genocídio quando Henry Kissinger deu a Israel toda a capacidade aérea de ataque, a maior da história naquele momento, de que Israel precisava para reverter o curso da guerra de 1973 (como a revista Time noticiou o caso). Israel manteve estreita colaboração na construção de armas nucleares com o regime de apartheid da África do Sul durante décadas, colaboração que só terminou quando terminou o regime de apartheid da África do Sul, em 1994.


Desde então, especialistas estimam que Israel tenha mais de 400 bombas atômicas, incluindo armas termonucleares que chegam ao nível de megatons, além de bombas de nêutrons, armas nucleares táticas e ogivas para transporte das bombas. Também tem o sistema de mísseis necessário para lançar suas bombas, com alcance de 11.500km (maior que a distância que separa Israel e Irã). Israel também tem submarinos capazes de lançar ataques nucleares e jatos capazes de entregar onde queiram a carga nuclear que Israel decida usar, contra quem decida usar, quando decida usar.

Diligentemente, Israel sempre impediu que seus vizinhos sequer construíssem reatores nucleares para finalidades pacíficas. Violou a lei internacional ao bombardear o reator nuclear Osirak que os franceses estavam (em 1981) construindo para o Iraque, em ataque aéreo não provocado, apesar de o reator estar sendo construído para ser usado, conforme declaração dos governos de França e Iraque, para pesquisa científica. Israel também bombardeou o que, segundo relatórios de inteligência seria um reator nuclear que a República Popular da Coreia (Coreia do Norte) estaria construindo na Síria em 2007. O Mossad (serviço secreto israelense) várias vezes foi associado ao assassinato de inúmeros cientistas e físicos nucleares egípcios, iraquianos e iranianos, ao longo de décadas.

Israel não assinou e continua a recusar-se a assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e não autoriza nenhum tipo de inspeção, pelos inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, no seu reator Dimona.

Israel, país agressivo e predatório que tem longa história de ataques contra países vizinhos desde que foi ‘fundado’, expulsou centenas de milhares de pessoas, criou milhões de refugiados palestinos, libaneses e egípcios, assassinou dezenas de milhares de civis e usou armas proibidas pela legislação internacional (de bombas de napalm a bombas de fósforo, para citar só os casos mais bem conhecidos), continua a ocupar territórios palestinos, e o povo palestino vive sob ocupação estrangeira, o que viola a lei internacional.

Israel é governada por uma ideologia de estado fundamentalista, racista, antimuçulmana e antiárabe, à qual aderem seus governantes, suas instituições de governo e, também, sua cultura popular e política e muitas das leis do estado israelense.

De fato, Israel não apenas vive de fazer guerra quase ininterrupta contra seus vizinhos como, também, exige que as potências ocidentais invadam os países vizinhos de Israel e, simultaneamente, patrocina campanhas de ódio racista contra árabes e muçulmanos nos EUA e em toda a Europa, além de incorporar a mesma ideologia racista nos currículos de escolas e universidades e em grande parte da produção cultural nacional israelense.

Políticas racistas

Os EUA, protetores de Israel, são o único estado da Terra que algum dia, deliberadamente, usou bombas atômicas contra populações civis e até hoje, 66 anos depois, ainda defende aquela decisão, que levou àquele ato genocida, e ensina a população, nas escolas e pela imprensa, a também defendê-lo.

Os EUA também cuidam de evitar que o arsenal atômico de Israel jamais seja discutido no Conselho de Segurança da ONU, apesar das persistentes propostas para que a questão nuclear israelense seja julgada naquele fórum. A insistência com que os EUA cuidam de manter como “segredo” (conhecido de todos) a capacidade nuclear de Israel é construída e mantida, dentre outros motivos, para manter ativa a ajuda que os EUA continuam a dar a Israel, apesar de a condição essencial para receber esse tipo de ajuda ser que os países receptores sejam signatários do Tratado de Não Proliferação... que Israel nunca assinou e recusa-se a assinar.

Mesmo assim, os EUA e Israel, que há muito tempo são as principais ameaças à paz mundial e, de fato, os mais ativos provocadores de guerras em todo o mundo desde a II Guerra Mundial, insistem em dizer ao mundo que o Irã seria ameaça à paz mundial, caso possua uma bomba atômica.

O Irã é país cujo governo revolucionário e democrático jamais invadiu país algum (ao contrário, o Irã foi atacado pelo Iraque de Saddam em 1981, por decisão das ditaduras comandadas pelas ricas famílias do petróleo do Golfo e seus patrocinadores EUA e França).

Deixando-se de lado, por um momento, as políticas racistas dos EUA que definem quem poderia e quem não poderia ter armas nucleares (segundo um critério racista que determina que só europeus e seus aliados europeus poderiam ter o que quer que seja), é preciso dizer que, se há corrida nuclear no Oriente Médio hoje, foi gerada e estimulada pelo espírito violento e belicista de Israel e pelo fato de que, em toda a região, só Israel mantém arsenal ativo de armas de destruição em massa.

Se se tratar de o Oriente Médio ser zona livre e armas nucleares, nesse caso o esforço da comunidade internacional deve começar por desarmar Israel – o único país na região que tem bombas atômicas. E que deixem em paz o Irã – onde o mundo nem sabe se há ou não, ou se estão em desenvolvimento ou não, essas armas.

O racismo do governo Obama contra árabes e muçulmanos não conhece limites. Mas, entre os povos do Oriente Médio (árabes, turcos e iranianos), os critérios racistas de Obama não persuadem ninguém.

Ter ou não ter armas nucleares é questão de segurança humana, no que diga respeito a quem viva próximo de Israel. Ter armas nucleares não é privilégio racial nem dos norte-americanos nem dos europeus.

É possível que os EUA não temam as bombas atômicas de Israel. Mas quem viva perto de Israel, países e populações civis que há muitos anos são alvo do terror israelense, temem Israel. Por muitos bons motivos, que todos na região conhecem.

Só depois que Obama aprender essa lição, se aprender, os povos da região voltarão a ver alguma seriedade e poderão atribuir alguma credibilidade à sempre tão repetida (falsa) preocupação dos EUA com a “proliferação” nuclear.

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O último golpe da propaganda israelense contra o Irã

8/11/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
Israel spinning its last spin on Iran
Traduzido pelo Coletivo da Vila Vudu

Israel começou a perder o domínio estratégico que teve no Oriente Médio, quando encontrou pela frente o Hezbollah, que o desafiou na guerra do Líbano, em 2006. Mas continua como mestra incontestável da propaganda global. O ponto alto dessa performance parece ter sido o famoso ousadíssimo ataque, por pilotos israelenses, contra uma instalação nuclear secreta da Síria, em 2007 [1].

2007 foi a culminância da propaganda israelense. Leiam o relatório, na página do governo holandês. Ou no blog do Washington Post. O que teria provocado aquela magnífica onda de divulgação e propaganda, há quatro anos? Evidentemente, para encobrir a derrota que o Hezbollah aplicou-lhe, Israel planejou a operação militar e a operação de propaganda, que, acreditavam os israelenses, lhes devolveriam a imagem de antes, de marcianos descidos no Oriente Médio.

Não é em tudo semelhante ao que vemos hoje? Não estamos assistindo ao replay daquele raro momento de gênio para a autopromoção e a propaganda –, que Israel está forçando ao máximo, para atacar o Irã?

Tenho quatro motivos pelos quais chamo de propaganda a propaganda israelense.

(1) Os líderes israelenses com certeza sabem o mesmo que sabe o ex-chefe do Mossad, Ephraim Halevy, que repetiu várias vezes, semana passada, que o programa nuclear iraniano não representa, de fato, ameaça existencial a Israel.

(2) Os líderes israelenses entendem a política. Entendem que na Europa e nos EUA, os líderes foram colhidos no redemoinho da crise econômica e mal conseguem manter-se à tona. Sabem bem que Israel não tem capacidade para combater sozinhos, em guerra para a qual não contem com total apoio dos EUA; e que os EUA, por sua vez, não têm fôlego para envolver-se hoje em mais uma guerra – menos ainda se for guerra no Oriente Médio que faça subir o preço do petróleo. (Evidentemente, a primeira reação do Irã será fechar o Estreito de Ormuz, por onde passa 1/3 do petróleo que o mundo consome.)

(3) Os três mais altos comandantes das forças armadas de Israel e os chefes do Mossad e do Shin Bet já se manifestaram contra um ataque ao Irã. Os líderes israelenses sabem bem porque todos esses se opõem tão firmemente à guerra contra o Irã. Sabem que o Hezbollah fará chover dezenas de milhares de foguetes sobre todas as cidades pequenas e grandes e sobre todas as colônias de israelenses, o que provocará número colossal de mortes entre os civis. Digam o que disserem, políticos como Benjamin Netanyahu e Ehud Barak sabem que efeito essa tragédia terrível teria sobre suas bem-sucedidas carreiras eleitorais. E, por fim,

(4) os israelenses são mentes brilhantes e com certeza, antes de iniciar um ataque contra o Irã, não deixariam de perguntar a pergunta fundamental: Qual o objetivo do ataque? Destruir o programa nuclear do Irã? Mas, para tanto, Israel teria, antes, de saber exatamente onde se localizam as instalações nucleares do Irã – informação que, hoje, Israel não tem. Em resumo, a liderança israelense estaria pondo em risco a vida de centenas de milhares de israelenses inocentes, numa guerra sem objetivo claro. E de fato, no final da história, o Irã que emergisse depois do ataque israelense, sem dúvida construiria sua bomba atômica, a qual, essa, sim, seria ameaça existencial contra Israel por, no mínimo, alguns milênios.

Assim sendo, por que essa onda de propaganda israelense que está enlouquecendo o planeta?

Vejo três fatores em operação:

(1) As políticas regionais de Israel chegaram a um beco sem saída. E o iminente reconhecimento da Palestina pela Assembleia Geral da ONU é pílula amarga demais para engolir. Agora, o anel de isolamento regional que cerca Israel fechou-se.

(2) Os movimentos sociais de protesto em Israel estão ganhando ímpeto. A política econômica de Israel carece desesperadamente de reformas; mas o governo foi apanhado de calças curtas e não tem dinheiro.
O governo israelense precisa muito de alguma coisa que distraia a atenção da população, afastando-a das questões 1 e 2, acima. O espectro da guerra contra o Irã é o derradeiro golpe de propaganda ao qual os políticos israelenses estão recorrendo, em desespero, para mobilizar a nação.

(3) Não poderia haver melhor momento para “apertar” Barack Obama. Evidentemente, Netanyahu sabe o quanto Obama é supremamente “apertável” – desde que Obama foi forçado a recuar do que disse no famoso discurso do Cairo, em 2009. Com Obama começando sua campanha eleitoral para a reeleição, Netanyahu o vê como vulnerável a chantagem – e chantagem é jogo em que Israel é mestra. A experiência mostra que sempre que a pressão aumenta no Oriente Médio, os EUA instintivamente soltam os cordões do dinheiro para Israel. Obama está à beira de fazer isso.

A parte engraçada é que não há nenhum sinal de que o Irã tenha, de fato, trabalhado muito para sua dramática aparição como potência regional. Não é autor da coreografia da Primavera Árabe, nem nada teve a ver com os EUA invadirem o Afeganistão e o Iraque. Praticamente tudo aconteceu naturalmente – resultado das tolices dos EUA e das políticas israelenses.

A primeira implicação disso tudo é que os israelenses não são infalíveis e invencíveis. Não são, mas não acho que os líderes israelenses sejam idiotas. Precisam, isso sim, desesperadamente, dos efeitos de uma onda de propaganda espetacular – como em 2007 – que mostre Israel como nação potente e valorosa, contra um Irã covarde e fraco. Para que a coisa funcionasse, Israel teve de pressupor que o Irã atacado permaneceria encolhido e não retaliaria. O problema é que o Irã não está cooperando. Estaremos assistindo à última onda de propaganda de Israel?


Nota dos tradutores
[1] “Operação Pomar” [ing. Operation Orchard], 6/9/2007 (em inglês).

*MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.


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