terça-feira, outubro 04, 2011

Delfim: o neolibelês (*) não é neutro. Mas é autoritário


O Conversa Afiada reproduz artigo de Delfim Netto, na pág. 2 do Valor, em que dá uma aula sobre o que condiciona a Economia.

(O voto, por exemplo, é um dos “limites” à Economia …)

Delfim desmonta de forma elegante – é uma punhalada sem fazer barulho – os teóricos do Neolibelês (*) que anunciam o abandono do regime de metas de inflação pelo Banco Central do Tombini (e, portanto o Fim do Mundo !).

Vale a pena dar boas gargalhadas (se não fôr melhor chorar):



A economia, se for alguma coisa, é uma ciência social. Tenta entender um universo mutante, onde todas as “constantes” são “variáveis” e, não importa qual a potência da metodologia usada para torturar o passado para que ele revele o futuro, este continua opaco. Como não é possível construir experimentos críticos capazes de discriminar entre as duas visões, é claro que ambas envolvem larga dose de ideologia. É fato conhecido que nas ciências sociais as preferências não reveladas de pesquisadores, que se supõem “neutros”, influenciam os seus resultados.

A despeito dessa divergência (no tempo, cada lado já trocou da posição de ortodoxo para heterodoxo, de acordo com o “espírito do mundo”), o conhecimento de como funciona a organização econômica da sociedade e de como se comportam seus agentes – e de como reagem à ação do governo e dos efeitos não intencionais que ela acaba produzindo- tem crescido de maneira importante e revelado equívocos e exageros de ambas as partes.

A evolução da economia, desde a crise de 2007, e as tentativas de superar a crise financeira que atingiu o setor produtivo, consolidaram a ideia que o sistema de economia de mercado, deixado a si mesmo e, pior, contaminado por inovações financeiras que têm papel duvidoso para o desenvolvimento econômico, não tem nenhuma condição de se autocorrigir.
Por outro lado, as políticas econômicas sugeridas pelos que não acreditam na autocorreção do mercado mostraram sérias limitações. A conclusão é que, apesar das evidências mostrarem que na atual conjuntura esperar um autoajuste do mercado é absurdo, isso não autoriza liberdades com a política econômica.

As políticas fiscal, monetária e cambial do governo parecem estar na direção correta. São condicionadas a um cenário mundial em clara deterioração e tentam antecipar o que pode ocorrer com a taxa de crescimento econômico e logo em seguida, também, sobre o nível de emprego. Não há abandono da política de metas inflacionárias, quando se altera o peso dado ao desvio entre a inflação corrente e sua meta, relativamente ao desvio entre o PIB e o PIB potencial (seja lá o que isso for) para fixar a taxa de juros.

Ninguém subscreveria hoje esta barbaridade autoritária que, até 2007, era o limite intransponível da “ciência” monetária: “A sociedade pode, às vezes, melhorar seu bem-estar nomeando um banqueiro central que não compartilha (sic) seus objetivos sociais e que, em seu lugar, aumente o “peso” da estabilização monetária relativamente à estabilidade do emprego” (Rogoff, K.S., 1985).

Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

Em tempo: não perca o post sobre a venda de motos no Nordeste e a observação sobre as aulas de Economia da Urubóloga ao Chico Pinheiro e à Renata Vasconcellos. De boa que o Renato Machado se livrou !


Paulo Henrique Amorim


(*) “Neolibelê” é uma singela homenagem deste ansioso blogueiro aos neoliberais brasileiros. Ao mesmo tempo, um reconhecimento sincero ao papel que a “Libelu” trotskista desempenhou na formação de quadros conservadores (e golpistas) de inigualável tenacidade. A Urubóloga Miriam Leitão é o maior expoente brasileiro da Teologia Neolibelê.

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