quarta-feira, setembro 14, 2011

A difícil vida fácil das montadoras


Do
Projeto Nacional

O Estadão noticia hoje que a venda de carros caiu motivada pelas restrições ao crédito.

“De cada 100 empréstimos solicitados na primeira quinzena de agosto, 38 receberam sinal verde dos bancos. Em igual período de 2010, eram 70 empréstimos aprovados, aponta pesquisa da agência de varejo automotivo MSantos, feita com 20 revendas da Grande São Paulo.”, informa o jornal.

O motivo destas restrições?

“A inadimplência no Crédito Direto ao Consumidor (CDC) acima de 90 dias atingiu 4% em julho, com alta de 0,2 ponto porcentual em relação a junho, segundo Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras.”

Então, por conta de um aumento de 0,2% na inadimplência reduz-se à metade a concessão de crédito?

Algo errado, não é?

Ainda mais que há dois fatores importantes neste setor.

O primeiro, é que uma taxa de 4% de inadimplência não é nenhum desvio em relação à taxa média de inadimplência em outros setores do crédito. A taxa média de não pagamento do Itaú em toda a sua carteira de crédito é superior a essa e a do Bradesco ronda este nível. Já mostramos aqui, com os números oficiais do BC, que a “onda de calote” simplesmente não existe. Além disso, a execução de devedores inadimplentes é mais fácil neste setor do que em qualquer outro, pois o bem – “semovente”, como dizem na Justiça – é de facílima recuperação. A Justiça, aliás, trata quase como uma ação expressa, mandando pagar ou devolver.

O segundo é que 40% dos financiamentos de veículos partem dos bancos das montadoras. Portanto, de bancos que estão de olho no custo de estoques das fábricas, nos planos de lançamentos e em tudo o que pode representar despesas ou possibilidades de lucro para as indústrias às quais são ligados.

A causa da restrição ao crédito de veículos são outras.

A primeira delas é que a arbitragem deixou de ser tão vantajosa. Isso consiste em pegar dinheiro externo, a taxas próximas de zero e emprestar aqui aos valores que se conhece. Com a adoção e elevação do IOF sobre estas operações, a perspectiva de alta do dólar e a vigilância tributária sobre as operações futuras com moeda estrangeira, essa fonte minguou e, sobretudo, deixou de ser tão lucrativa.

Nada a ver, portanto, com a elevação da inadimplência do consumidor, que serve apenas como “cobertura” para decisões de redução de crédito. Até porque as montadoras vão muito bem, obrigado.

Até julho deste ano, elas enviaram 22% a mais em lucros e dividendos aos seus países de origem do que no mesmo período do ano passado (US$ 3,171 bilhões), segundo informa hoje o Valor Econômico.

A segunda razão é que nos aproximamos do fim da produção dos modelos 2011 e é a hora ideal para pressionar o Governo para que a proposta de redução do IPI não fique condicionada a investimentos em inovação e aumento do conteúdo nacional na produção de veículos. Já se negocia, inclusive, um novo pacto de redução do imposto em troca da manutenção do emprego industrial no setor.

E estão loucos para que o Governo tome suas dores e bloqueie a ameaçadora chegada dos chineses.

O pessoal das montadoras não aperta parafuso sem porca.

Por: Fernando Brito

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