sábado, maio 08, 2010

Toma teu mar, Almirante João Cândido



Que linda a obra da história, esta maravilhosa e lenta, lentíssima, máquina de fazer justiça que dá à sociedade dos homens o divino poder de expiar seus pecados, reparar seus erros e imortalizar na glória os que morreram na pobreza e no esquecimento.

Hoje foi ao mar o primeiro petroleiro construído para fazer frente às necessidades do Brasil de explorar o petróleo do pré-sal. Um gigante de 274 metros, capaz de transportar um milhão de barris de petróleo deixou o dique do estaleiro Atlântico Sul. É o primeiro dos 22 petroleiros – e de 49 embarcações, no total – encomendados pela Petrobras.

Ele leva no casco, para os mares do mundo, um nome gravado: João Cândido, o marinheiro negro que liderou a sublevação contra a aplicação de chicotadas nos navios brasileiros, uma herança da influência inglesa na formação de nossa Marinha.

O vídeo que posto acima é um trabalho de estudantes da Escola Técnica Henrique Lage. É a maneira de lembrar que estavam corretos os versos de Aldir Blanc quando em seu “Almirante Negro” diz que a ele a história não esqueceu.

Cândido levou quase um século para ser reabilitado, com a anistia assinada por Lula em 2007 e a inauguração da sua estátua ali, junto às pedras pisadas do cais na Praça XV, no Rio de Janeiro. Até então, tudo o que tivera do Estado era uma pequena pensão, dada em 1959, pelo então governador do Rio Grande do Sul, sua terra, Leonel Brizola.

No lançamento do navio, Lula disse que “neste país só aparece a história dos vencedores, a história dos derrotados quase nunca aparece. E a gente goste ou não goste, João Cândido é um personagem da história brasileira que mostrou que os brancos, os brancos, que chefiavam a Marinha naquele tempo, não estavam respeitando sequer a legislação brasileira, que já tinha acabado com as chibatadas que os negros tomavam.”

-E daqui para a frente, outros personagens que foram heróis neste país, que não saem nas páginas dos jornais, o jeito de nós homenagearmos eles é esse, é fazendo o nome deles atravessar as fronteiras brasileiras, cortando os mares do Norte e do Sul com o nome de personagens que merecem respeito neste país.

Hoje João Cãndido se liberta para o mar, céu dos marinheiros. Hoje, dia em que a Petrobras bateu recorde nacional de produção, com mais de 2 milhões de barris, o navio que carregará dentro de si o tesouro negro, nos imensos tanques onde vão as esperanças de um Brasil mais justo, humano, de uma pátria-mãe mais gentil com seus filhos, leva à proa, orgulhoso, o nome de um negro que não suportou ser tratado como um animal, como o povo brasileiro já não aceita ser.

Glória ao navegante negro, que agora vai singrar os mares do mundo.

Do
www.tijolaço.com

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