sábado, maio 29, 2010

A liberdade como valor universal





Extraído do Nassif

Por Jotavê

Precisamos começar a refletir a respeito da ideologia democratista patrocinada pelos EUA e repercutida pela direita do mundo todo – aqui inclusive. Trata-se de uma ideologia, pois seu objetivo principal é causar uma refração discursiva que oculte os interesses efetivos em jogo e evite a discussão de temas indigestos. Saddam Hussein é um bom exemplo. Um país é reduzido a ruínas, milhares de pessoas morrem numa guerra trazida de fora com a desculpa de se impedir a produção de “armas químicas”. Depois que o desastre se consuma, vem a constatação timidamente feita de que não havia arma química alguma no Iraque. Era tudo mentira. Mas, apesar disso, a guerra valeu a pena. Por quê? Porque Saddam Hussein era um ditador, e a guerra abre a possibilidade de a democracia finalmente se estabelecer no Iraque. Parece brincadeira de mau gosto, mas é política de Estado. Ideologia, no pior sentido da palavra, em estado bruto.

Chamei essa ideologia de “democratista” para que a palavra “democrática” fique reservada a usos mais apropriados. Não se trata, aqui, de uma defesa (por enviesada que fosse) da democracia, mas da mera INSTRUMENTALIZAÇÃO dessa defesa. Ela é o oposto, portanto, de uma postura genuinamente democrática.

Quando instrumentalizamos uma pessoa, uma causa, uma ideia, nós imediatamente atribuímos a essa pessoa, a essa causa, a essa ideia um valor apenas relativo. Ela nos serve enquanto tivermos em vista um determinado fim. Passado esse momento, ela poderia (em princípio) ser descartada. É isso que a democracia significa para o democratismo: uma alavanca, um amaciante para carne de segunda, um papel de embrulho. Serve para justificar o envio de tropas. Quando as botas estão sobre o pescoço do inimigo, passa-se rapidamente ao próximo assunto, como se aqueles horrores fossem apenas uma etapa necessária no caminho que leva até a Liberdade.

É hora de encararmos esse debate indo até a raiz do problema. A liberdade é um valor universal? É, sem dúvida. Mas não é o único, nem o mais alto. Há outros valores, que podem ser menos ou mais altos, conforme forem menos ou mais urgentes numa determinada situação. Igualdade é um valor absoluto. Justiça, outro. Paz, outro. Esses valores todos têm um enorme significado para o ser humano, e nenhum deles é garantia nem pré-condição para nenhum outro. É fácil encontrar exemplos na história de períodos em que a paz significou algo muito mais precioso do que a liberdade, e durante os quais pessoas absolutamente sensatas e bem intencionadas julgaram razoável que a segunda fosse sacrificada em favor da primeira. É dessa perspectiva que Maquiavel escreve, por exemplo. É dessa perspectiva que fala Paul Kagame, presidente da Ruanda. Não percam a entrevista no The Guardian:

http://www.guardian.co.uk/world/2010/may/28/rwanada-kagame-defends-rights-record

Há outras época históricas em que a liberdade pareceu um valor muito mais alto que a própria paz. A Revolução Francesa, com todas as suas contradições, pode ser lida dessa forma. A independência norte-americana, também. A Segunda Guerra, com mil senões e cuidados, idem. Cuba é exemplo de liberdade? É claro que não. Cuba é uma ditadura – branda, é verdade, mas ditadura, de todo modo. Isso quer dizer que Cuba seja o Anticristo? É claro que não. Ela encarna um valor importantíssimo para o ser humano – a igualdade. Assim como o Brasil, com todas as suas calamidades sociais, encarna valores importantes, Cuba, com todas as suas fraquezas e deficiências, também encarna. Um mundo menos mesquinho lutaria para que aquela experiência desse certo. Apoiaria como pudesse o que aquela sociedade tem de melhor, e torceria para que ela corrigisse em paz as suas limitações.

Refletir a respeito dessas questões e admitir que a liberdade tem que competir no mercado de valores pela sua sobrevivência não é desprezar a democracia. Pelo contrário. Isto, sim, é ter apreço por ela, e reconhecê-la enquanto valor a ser PRESERVADO. Admitindo que ela não sobrevive em qualquer ambiente, que ela tem precondições indispensáveis para firmar raízes e dar frutos, mostramos um interesse genuíno (e não meramente instrumental) por ela. Queremos a democracia, e justamente por isso queremos paz, justiça e igualdade. Sem estes elementos, e sem o reconhecimento sincero de que eles são valores tão importantes quanto a liberdade para qualquer ser humano, a defesa da democracia corre sempre o risco de se transformar numa farsa grotesca, como vimos no caso do Iraque, e estamos a um passo de ver no caso do Irã.

Segue os comentários do internauta Rodolfo Machado a esse texto

As pessoas falam muito em democracia, tal lugar tem democracia, outro não, mas eu digo que se tiver hoje no mundo meia duzia de livres pensadores que acreditam na democracia e a defendem por convicção, é muito.
Então, antes de falar em democracia, pensem bem, porque tem muita hipocrisia nesta ideologia, muito bem chamada de democratista, ninguém esta realmente interessado em democracia.

Veja o caso de Cuba, por exemplo, estão sim incomodados com um regime socialista que não faz apologia do consumismo, se fosse uma ditadura de direita prospera, ninguém tava ligando.
É logico, é claro que Cuba não é uma democracia, agora, façamos um exercício de imaginação, coloque-se no lugar do presidente da China, ou da Rússia, por exemplo.
Se lá estivesse, você promoveria reformas no sentido de transformar seu pais numa autentica democracia ao molde das democracias ocidentais, com partidos organizados, eleições para cargos representativos em todos os níveis, seja presidencialistas ou parlamentaristas?
Agora, eu faço uma pergunta, sera que esse sera realmente o melhor caminho para países como China ou Rússia, sera que ao promover a democracia, você realmente estaria atendendo os maiores interesses nacionais de seu pais, ou estaria destruindo-o?
Existem, acho, 194 países hoje no mundo, para cada um deles existe também um sub-departamento dentro do departamento de estado do governo americano, para tratar dos interesses dos EUA relativos aquele pais, estudar meios e forma eficazes de garantir que os interesses americanos serão atendidos.
Esta dominação se faz principalmente da forma cultural e econômica, cultural pela lavagem cerebral que o cinema, a musica e as diversas forma de entretenimento que a industria cultural americana produz promovem na cabeça das pessoas.
A dominação econômica é obvia, feita através das grandes empresas americanas que se instalam nestes países, muitas delas com ligações diretas com o departamento de estado e a CIA, então alem de cuidarem de seus próprios negócios, estas empresas começam a cooptar políticos corruptos locais, simpáticos ao Americam Way of Life , financiam suas campanhas eleitorais e seus partidos, para que eles então defendam a tal da “democracia” e os interesse econômicos dos EUA.
Sabendo disso e sendo um patriota, você acha que um governante russo ou chines vai querer democracia em seu pais, alias era o que estava acontecendo na Rússia no tempo do Boris Yeltisin, havia uma democracia de fato, mas a CIA já estava se infiltrando e financiado grupos diversos de apoio a democracia, alguns financiados por uma fundação ligada a família Rothschild e a Henry kissinger, quando a União Soviética se dissolveu, o New York Times publicou um editorial escrito por Henry kissinger, traduzido pelo Estadão, onde ele dizia claramente que não bastava aos EUA o fim da União Soviética, por que enquanto houvesse uma Rússia nuclearizada e industrializada, os EUA não estaria seguros.
Finda a era de Boris Yeltisin, Putim acabou com a “democracia” na Rússia.
Quando um cidadão inglês foi executado na China, estes tempos atras, eu li um texto onde o autor lembrava que os chineses tem panico de traficantes de drogas, por causa da introdução do opio na China pelos ingleses, até hoje a famosa placa onde se lê em inglês e chines, “Proibido a entrada de cachorros e chineses” é mantida intacta pelo governo chines para que o povo chines se lembre e saiba.
Cuba devia sim seguir o modelo chines, abrir bolsões de economia de mercado experimentais, como a China fez nos anos oitenta e ir conduzindo um transição controlada, sem democracia e sem a presença de americanos, Cuba não deve reatar relações com os EUA e nem permitir a presença de empresas americanas em seu território, se não quiser virar prostíbulo de novo, como era nos anos cinqüenta.
Se quiser democracia, vai acontecer o que quase aconteceu com a Rússia de Yeltisin, então deve pensar nos interesses nacionais, no bem estar de seu povo que não necessariamente estão ligados a realização de eleições onde inimigos do pais possam vence-las.
Este modelo de democracia e livre mercado que esta ai no mundo ocidental de hoje não pode ser representativo de uma sociedade verdadeiramente prospera, na medida em que depende de que um único pais do mundo, os EUA, sustente a economia do resto através de um consumo ensandecido basado em credito fácil que depois leva as famosa “bolhas”.

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