terça-feira, outubro 20, 2009

Inflação: previsão e realidade

Inflação: previsão e realidade



As previsões de inflação constituem importante instrumento para a tomada de decisões numa ampla gama de atividades para as empresas e para as pessoas. Essas previsões são fornecidas semanalmente pelo Boletim Focus que consulta uma centena de entidades do mercado financeiro e pelo Banco Central (BC) através das atas das reuniões do Copom e dos relatórios trimestrais de inflação. As previsões do mercado financeiro influenciam as do BC e vice-versa, razão pela qual são normalmente muito próximas.



Será que essas previsões se aproximam da realidade? Infelizmente a resposta é negativa, pois o coeficiente de correlação entre a inflação prevista e a ocorrida foi de apenas 17,2% (ver gráfico ao final). A razão disso é simples: são inúmeros os fatores que influenciam a inflação e esses fatores podem sofrer alterações significativas em seus comportamentos ao longo do tempo. Quanto mais distante no tempo, maior o risco de erro na previsão.



Por aí se vê a debilidade dos instrumentos que embasam o regime de metas de inflação, pois os modelos econométricos usados nestas previsões por mais sofisticados que possam ser não conseguem prever minimamente a inflação futura.



O último Boletim Focus de 09/10/2009 prevê as seguintes inflações médias medidas pelo IPCA: 4,29% em 2009, 4,39% em 2010 e 4,51% em 2011. O Relatório de Inflação de setembro do BC prevê para o cenário de referência, que considera a Selic no nível atual de 8,75% ao ano até final de 2011: 4,3% para 2009 e 2010 e 4,6% anual no primeiro e segundo trimestres de 2011, voltando para 4,5% no terceiro trimestre. Portanto, previsões praticamente idênticas às do mercado financeiro e comportamento da inflação ligeiramente acima do centro da meta só no primeiro semestre de 2011.



Mesmo com essas previsões de bom comportamento da inflação, o último Boletim Focus já prevê que a taxa Selic deverá subir em 2010 e 2011; essa taxa seria em média 10,0% ao final de 2010 e 10,3% ao final de 2011. Como as entidades do mercado financeiro ampliam seus lucros com a elevação da Selic é possível que estas previsões tenham um viés distorcido.



As razões apresentadas em diversas análises pelo mercado financeiro para a necessidade de elevação da Selic são: 1) forte crescimento econômico nos próximos trimestres, com uma inflação ainda baixa, mas crescente ao longo de 2010; 2) o nível de atividade atual e esperado e a inflação externa estarão operando na mesma direção de jogar a inflação para cima; 3) os juros estão muito abaixo do neutro (???) e; 4) não se espera ingerência política no processo decisório do BC em 2010.



Essas previsões parecem minimizar: 1) os efeitos da super oferta internacional de bens e serviços, que poderá durar por um bom período devido à queda do consumo norte americano, europeu e japonês, que são os maiores consumidores mundiais; 2) a desvalorização estrutural do dólar, que barateia junto com a super oferta as importações; 3) a boa safra agrícola no País prevista para 2010, com preços baixos segundo os produtores; 4) os avanços tecnológicos e de produtividade, que derrubam custos e preços e; 5) o efeito da deflação dos índices gerais de preços (IGPs) em 2009 que ajudam a derrubar a inflação do IPCA em 2010.



É possível que a continuar as inflações mensais sistematicamente abaixo das previsões do mercado a tendência da inflação em 2009 e 2010 fique abaixo de 4,0%, o que poderá levar o BC a ter que baixar a Selic para níveis mais próximos dos praticados internacionalmente.



A conferir.

Amir Khair

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