quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Farsa 'midiática' - Veja e alguns de seus aliados prediletos

Do sítio www.ptalesp.org.br

Bia Pardi
Afirma um antigo ditado que o papel aceita qualquer coisa ou quase tudo. Mas há papéis que aceitam bem mais! É o caso da Revista Veja, que a título do período de retorno às aulas, brinda seus minguados leitores e aqueles que a lêm especificadamente para alguma crítica, com 2 artigos, um editorial e uma entrevista a respeito de Educação. É a edição de 13/02/2008.

No editorial, Veja esclarece, de pronto, sua escolha dos articulistas e da entrevistada, por avaliá-las como as manifestações mais elucidativas sobre a educação no país. Nada mais falacioso.

Um dos artigos é de Claudio de Moura Castro, economista, assíduo freqüentador daspáginas da revista. O artigo procura demonstrar que salário melhor para os (as)professores (as) não melhora a qualidade do ensino. Ao se basear em pesquisas sobre o tema cita uma pesquisa em que se confrontam pessoas de educação equivalente com os professores, onde estes não ganham menos, e outra na qual são comparados salários do sistema privado com os do sistema público onde os salários do setor privado são um pouco menores sem, porém, apresentá-las. Com isso, e somente isso, chega à conclusão de que “a má qualidade do nosso ensino não pode ser explicada pelos salários dos professores” Bem simplista! Não percebe, por exemplo, que salários baixos significam necessidade de jornadas de trabalho estafantes para poder ter uma vida mediana, significa se privar de atividades culturais, da compra de bons livros etc. complementares à sua formação profissional. Portanto tal artigo não esclarece coisa nenhuma!

O outro artigo, de Gustavo Ioschpe também economista, vem acompanhado de inúmeros percentuais (segundo afirma, dados da UNESCO) de matrículas no ensino universitário e chega ao Brasil onde se tem apenas 24% de matrícula no ensino superior. Esses preâmbulos tem como foco, na verdade, medidas do Ministério da Educação “de fechar os cursos de baixa avaliação institucional, primeiro na área de direito, agora na área de pedagogia”. Por mais incrível e absurdo que possa parecer, o artigo defende a permanência destes cursos para aqueles alunos que não têm condições intelectuais ou financeiras de chegar lá”( cursos de qualidade). Mais do que isso, apregoa que é melhor ter um diploma de qualquer jeito do que não ter nada.

Nada mais esclarecedor do pensamente reacionário do que a idéia da existência de escolas pobres para alunos pobres, de escolas sem qualidade para aqueles que já são excluídos na sociedade.



Em uma combinação bem amarela, cor escolhida tanto pela Veja para suas páginas de entrevistas “especiais” como pelos tucanos em suas plumagens, a Secretária de Educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro mais uma vez põe a nu sua concepção de como comandar a Educação no Estado. Em entrevistaconcedida à Revista Veja ,nessa mesma edição, a atual dirigente da Educação de SãoPaulo tem uma posição extremamente beligerante e agressiva com os (as) professores (as) e uma certeza inabalável em sua metodologia para melhorar a qualidade de ensino.E, como sempre, nenhuma análise mais crítica da situação do ensino no Estado.



Um das principais bases de suas propostas para melhorar a qualidade de ensino público estadual é o projeto de metas (denominadas agora de acadêmicas) a serem alcançadas pelas escolas estaduais e se cumpridas, recompensadas monetariamente. No dizer da secretária “o objetivo é criar incentivos concretos para o progresso das escolas...” afirmando a existência de pesquisas que comprovam o avanço da educação em países onde esse sistema meritório foi aplicado.



Sabedora das críticas de educadores a essas medidas, sua resposta a elas ignora, como sempre, as condições em que é exercida a profissão docente na escola pública deste Estado, e questiona o que chama de “visão sindicalista ultrapassada e corporativista, segundo a qual todos os professores merecem ganhar o mesmo salário no fim do mês.” Salário igual para todos os profissionais (“a velha política de isonomia salarial contribui para a acomodação dos professores numa zona de mediocridade”) ofuscaria os melhores professores (as) e favoreceria a mediocridade na rede.



Ora, os profissionais da educação como tais são admitidos na rede escolar através de regras estabelecidas em leis, decretos etc. Há formação obrigatória para o exercício da docência. Há uma carreira e um pretenso piso salarial (bem baixo por sinal !). Há um Estatuto do Magistério em vigor. Há normas pedagógicas, E há, ou deveria haver, concursos públicos para o ingresso na rede. Aliás, hoje mais de 60% da categoria é composta de ocupantes de função atividade, admitidos em caráter temporário, por carência de concursos. E todos estão submetidos a essa estrutura.



Por outro lado, são poucas as bibliotecas, laboratórios, há jornadas estafantes e poucas condições para manter um processo continuado de formação e atualização. São visíveis (a secretária conhece nossas escolas?) as precárias as condições físicas das escolas. O salário que em outubro de 2007 conservava apenas 72,26% de seu poder aquisitivo de fevereiro de 1998, não sofreu nenhuma alteração. Sempre lembrando que bônus não é salário.



E sem contar o problema da violência: no relatório da Secretaria da Segurança Pública enviado à liderança do PT em resposta a requerimento de informação, consta que nas escolas estaduais de 1º e 2º graus de 2003 a 2006 foram cometidos 15 homicídios, 60 roubos e 1.847 furtos, além da presença do medo, das ameaças, de pequenas agressões que atravessam os portões escolares e estão presentes cotidianamente interferindo, inclusive, no processo pedagógico. Então, como caracterizar um professor ruim, ou mesmo medíocre, em circunstâncias de “evidentes dificuldades” como admite a própria secretária? E se realmente o aluno é o que importa, qual será o resultado para aqueles cujas escolas não cumprirem as metas estabelecidas? Será a exclusão da exclusão?

Na realidade, o que está como pano de fundo de todas as manifestações expressas nestes artigos e nessa entrevista, é a concepção da educação para as grandes massas excluídas. Para a política educacional que há 12 anos ou mais, habita a governo de São Paulo e sua Secretaria da Educação, educação de qualidade, democrática, laica é para poucos, diferentemente daqueles que defendem e lutam por uma Educação como DIREITO de todos.

Em tempo: nada contra a cor amarela. Tudo contra a Revista Veja e a Política Educacional do PSDB.

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