quarta-feira, março 28, 2007

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IBGE: “MEGA” CRÉDITO FEZ PIB CRESCER MAIS

A gerente de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta quarta-feira, dia 28, que o “mega” crédito para pessoa física fez com que o PIB de 2006 fosse maior (clique aqui para ouvir).
O IBGE havia anunciado há um mês que o PIB do Brasil cresceu 2,9% em 2006. A revisão da metodologia do IBGE mostrou que, na verdade, o crescimento foi de 3,7%.
Segundo Rebeca, o aumento de 30% no crédito para pessoa física foi um dos principais motivos para que o PIB crescesse mais.
“Em 2005 e 2006 teve um aumento mega do crédito, todo mundo sabe. E a gente não estava captando totalmente esse aumento”, disse Rebeca.
Rebeca disse também que a massa salarial (renda mais emprego) cresceu 5,6% em 2006. E, com o crescimento da massa salarial e do crédito a pessoa física, o mercado interno puxou o crescimento da economia.
Segundo Rebeca, a produtividade da economia também aumentou, porque a economia brasileira consome máquinas e equipamentos com mais tecnologia de ponta. Rebeca disse que “a parte de máquinas e equipamentos teve um crescimento muito forte, principalmente em alta tecnologia”.
Leia a íntegra da entrevista de Rebeca Palis:
Paulo Henrique Amorim – O recálculo do PIB no ano de 2006 chega à conclusão de que houve um crescimento de 3,7% e não de 2,9%, como era o resultado antes dessa revisão. Como você explicaria isso?
Rebeca Palis – Na verdade foi principalmente por causa da nova metodologia de cálculo no crescimento de alguns setores, principalmente serviços, que é o mais pesado do PIB, cerca de 60%. A gente calcula o crescimento do aluguel incluindo todos os crescimentos de qualidade nos últimos anos, que a gente não captava antes. Você tem mais residências com água encanada, etc. Tudo isso é recomendação internacional que é para ser computado e antes a gente não conseguia captar isso, agora conseguimos.

Paulo Henrique Amorim – Isso por causa do acesso ao PNAD, ou não?

Rebeca Palis – É, porque a gente fez um enorme modelo estatístico incluindo todas estas características dos imóveis, usando a PNAD.

Paulo Henrique Amorim – Então uma das razões para o crescimento do PIB é que o brasileiro passou a morar melhor?

Rebeca Palis – Não, não é assim. Em termos médios algumas coisas tiveram aumento de qualidade nos últimos anos, a gente captou isso. Além disso tinha o crescimento de um pedaço da administração pública, crescimento da população. Essa é uma crítica que a gente fazia há muito tempo e queria reformular para medir melhor e agora a gente mede através de pessoal ocupado, mede emprego, mede saúde e educação pública, coisas que a gente já media anteriormente.

Paulo Henrique Amorim – Eu não entendi bem isso, Rebeca. Estamos falando de quê, exatamente?

Rebeca Palis – Dos serviços prestados pela administração pública. São serviços que você não paga diretamente, é difícil de captar. O jeito de captar é pelos custos, como o governo gasta. Antes a gente supunha que o crescimento real era igual ao da população, mas a gente sabia que não era o mais correto. Agora a gente faz todo o cálculo usando gastos e emprego do setor. Então essa metodologia também foi melhorada. Além disso, a outra mudança importante é a parte do setor financeiro. A gente não tinha dados para calcular o crescimento específico do setor, a gente supunha que ele crescia igual à economia. Mas em 2006 e 2007 teve um aumento mega do crédito, todo mundo sabe. E a gente não estava conseguindo captar isso. Agora a gente conseguiu incluir totalmente este aumento dentro do cálculo do setor.

Paulo Henrique Amorim – O que você quer dizer com “aumento mega” do crédito?

Rebeca Palis – 30% em 2006 o crédito para pessoa física. Em termos nominais, mas por qualquer índice de preço vai dar um amento de 25%, 26%, o que é realmente enorme.

Paulo Henrique Amorim – Você está falando aí, sobretudo, de crédito consignado...?

Rebeca Palis – Todos eles, todos os créditos para pessoa física. Teve reflexo no aumento do consumo das famílias. A gente captava em parte, mas no setor financeiro a gente não captava totalmente porque pensávamos que crescia com a economia, mas nestes dois últimos dois anos cresceu mais. Todas estas coisas então tiveram reflexo nesta mudança de 2,9% para 3,7%.

Paulo Henrique Amorim – Tá. E houve também neste novo cálculo uma queda no investimento, não é? O que houve?

Rebeca Palis – O investimento é composto basicamente de construção civil e máquinas e equipamentos. E o cálculo, a gente tinha se baseado anteriormente no censo econômico feito em 1985, da construção civil, e foi evoluindo com índices de preços de índices de volume, de crescimento. Só que a gente não tinha nenhum valor, valor corrente, valor mesmo, para basear essas nossas projeções, pra ver se o que a gente está fazendo estava indo para a direção certa. E com a pesquisa PAIC [Pesquisa Anual da Indústria da Construção], que é a pesquisa do IBGE anual de construção civil, a gente passou a ter uma idéia exata do tamanho do setor. E a gente acabou descobrindo que o setor na série antiga estava superestimando. Então, foi o encolhimento da construção civil que fez essa nova taxa de crescimento mais baixa do que a taxa de investimento da série antiga.

Paulo Henrique Amorim – Mas eu te pergunto: mas não está havendo um crescimento significativo da construção civil no Brasil hoje?

Rebeca Palis – Tá, então. Máquinas e equipamentos está crescendo mais. Mas a construção civil a gente botou um crescimento lá, acho de em torno de 4,5% em 2006. Mas o que a gente viu é que, como a gente reviu desde 2000, que em 2000 – eu não estou falando em evolução ao longo do tempo não, estou falando que o patamar...

Paulo Henrique Amorim – Ah, a base de cálculo estava errada. Estava superestimada.

Rebeca Palis – Estava superestimada, não é que estava errada. A gente não tinha indicador pra medir corretamente. Agora, com uma pesquisa anual específica do setor a gente tem noção d e quanto ele realmente pesa.

Paulo Henrique Amorim – Agora, esse recálculo e essa reavaliação do investimento significa, demonstra que a produtividade da economia melhorou, não é isso?

Rebeca Palis – É, porque uma coisa que a gente reparou é o seguinte: quando se fala em taxa de investimento, tem que olhar por dentro um pouco, né, pra ver de que você está falando. Porque a parte de máquinas e equipamentos teve um crescimento muito forte e principalmente nessas coisas de alta tecnologia, então, isso é importante. Às vezes, você tem que olhar a taxa conjugada com o que tem ali dentro, porque você pode gastar a mesma coisa, investindo, mas, de repente, comprar alguma coisa que tenha muito mais qualidade, mais tecnologia.

Paulo Henrique Amorim – Tecnologia mais de ponta, né?

Rebeca Palis – Isso.

Paulo Henrique Amorim – E como é que você mede, qual é o indício, a prova de que a indústria brasileira, a economia brasileira está comprando máquinas e equipamentos com maior índice tecnológico?

Rebeca Palis – Ah, isso, se você abrir pelos dados de comércio exterior, você tem a discrição do produto e aí você consegue ver que são produtos... toda a parte de informática e material eletrônico, coisas mais modernas.

Paulo Henrique Amorim – Agora, o que está fazendo a economia crescer 3,7% ao ano? Compras do governo, consumo das famílias ou comércio exterior?

Rebeca Palis – Não, em 2006 comércio exterior não. Foi até o contrário: a gente importou muito mais do que exportou. Então, foi o que realmente a gente chama de demanda interna, que é o consumo das famílias, impulsionado por crédito e renda, crescimento de renda, emprego, e essa parte de investimento.

Paulo Henrique Amorim – Entendo. Ou seja, o que puxou a economia brasileira em 2006 foi o crescimento do mercado interno, do mercado doméstico.

Rebeca Palis – Isso, isso mesmo.

Paulo Henrique Amorim – Tá certo. E você tem alguma dica, algum dado “por dentro”, já que você usou essa expressão, o que é isso aí, o que está mexendo com esse consumo das famílias?

Rebeca Palis – Você teve esse mega aumento de crédito e a renda também, que aumentou. Desde 2005 a gente tem visto a renda média crescer e o emprego crescer também. Então, tudo isso favorece você aumentar o consumo das famílias.

Paulo Henrique Amorim – A renda média do brasileiro está aumentando quanto?

Rebeca Palis – O que a gente chama de massa salarial, que é a conjugação de emprego mais renda, cresceu 5,6% em termos reais em 2006.

Paulo Henrique Amorim – Emprego mais renda?

Rebeca Palis – Isso.

Paulo Henrique Amorim – Então tá bom. Muito obrigado, Rebeca. É sempre um prazer contar com as suas explicações.

Rebeca Palis – Obrigadinho, tchau!


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